FÓRUM NORDESTE 2023

Energia solar: a expectativa da popularização

Entre os anos de 2012 e 2022, foram investidos R$ 125,3 bilhões em todo o território nacional, gerando 750 mil postos de trabalho

Energia Solar - Pixabay

Traçando um caminho de crescimento no mercado brasileiro entre as matrizes renováveis, a energia solar vive forte expectativa de se tornar ainda mais acessível nos próximos anos, tanto para empresas quanto para residências. Essa ampliação também tem potencial para impactar na geração de emprego e renda.

De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), de 2012 até o ano passado, a geração de energia solar foi responsável por R$ 125,3 bilhões em investimentos em todo o território nacional. Nesse período, foram gerados 750 mil postos de trabalho. A projeção é de que esse número chegue a um milhão neste ano. Os avanços iniciais também estão registrados no Balanço Energético Nacional (BEN), elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) – vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME).

PROJEÇÕES DO MERCADO 

Integrante da diretoria da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD) - que atua no segmento da geração individual -, Fábio Azevedo detalha o processo físico da energia solar e a importância do seu papel nos dias atuais. Ele também revelou as projeções para o mercado, usando o caminho traçado pelos computadores como exemplo. 

“Fisicamente, a energia solar transforma luz em eletricidade, sendo um conversor. No Brasil, temos basicamente dois mercados de energia, o livre e o cativo, sendo o segundo aquele que não temos a opção de escolher o próprio fornecedor de energia. Estamos numa abertura de mercado na qual todo o consumidor poderá escolher o seu fornecedor”, explicou.


Essa autonomia na escolha, ressalta Fábio, foi validada em abril de 2012, quando passou a existir uma Resolução Normativa que estabeleceu que “o consumidor brasileiro pode gerar sua própria energia elétrica a partir de fontes renováveis ou cogeração qualificada”. 

DESENVOLVIMENTO CONSTANTE

O Brasil tem uma ligação “curiosa” com a energia, porque o mercado aqui cresce de crises em crises. Basicamente, disse Azevedo, “começamos no início dos anos 2000, com o desenvolvimento do segmento, e isso foi andando”. Em 2012, prosseguiu, a Resolução Normativa 482 mudou a figura da energia solar, sendo um divisor de águas. “Ela foi uma excelente forma de gerar receitas, e foi também uma porta para o empreendedorismo”, classificou. 

Segundo ele, há um ponto que ainda não é sustentável, que é o rateio dos subsídios por conta da distribuição. “Por exemplo, se hoje eu instalo a energia solar, tenho subsídio de descontos e incentivos, mas existe um custo de distribuição e transporte que é pago por quem não tem energia solar. Os subsídios dados na distribuição são rateados por todos os consumidores do sistema elétrico. Isso não é sustentável”, frisou. 

MATRIZ PRECISA DE PLANO B

Placas de energia solar instaladas na residência de Pedro Paulo Cavalcanti, em Aldeia

Trazendo estatísticas de aumento nos números da energia solar nacionalmente, Azevedo também citou uma particularidade que pode ser usada como “plano b” durante uma possível instabilidade na captação de energia.

“A matriz elétrica brasileira tem uma potência de 70 GW em geração distribuída, e já tem 20 GW instalados de geração solar. Isso é gigantesco. Não tenho certeza se ela vai gerar todo dia, então é preciso complementar. Aí é que o Brasil tem uma vantagem absurda porque nossa geração hidráulica é como se fosse uma ‘grande bateria’ de água. Isso garante a estabilidade do sistema. A energia renovável é um pouco incerta, a hidráulica depende da chuva, a eólica dos ventos, a solar do sol… então, a térmica fica como uma segurança na falta das demais, porque é controlável”, explicou.

ADAPTAÇÃO PARA A ZONA RURAL 

A aplicabilidade das placas solares na zona rural também foi detalhada pelo diretor, que fez um paralelo entre o cenário energético mundial e o futebol.  “Não dá para colocar uma hidrelétrica dentro da mata, nem uma eólica. Mas dá para colocar placas com bateria. Dez anos atrás isso era impensável. Os profissionais do setor solar fizeram um trabalho fundamental e os ganhos são exponenciais. A Inglaterra desenvolveu o futebol, mas Pelé é o rei. Computador era uma coisa impensável, ar-condicionado também. Então, a energia solar vai chegar lá. É importante incentivar o mercado e é importante também que as pessoas tenham informação e condições”, citou.

Reforçando o viés fundamental da expansão desse tipo de energia no País, ele listou alguns dos motivos para a instalação das placas. “Elas têm muitos motivos para se perpetuar. Seja por estética, economia ou pela ‘desculpa’ de ter que escolher o melhor. Ela é uma alternativa viável, ecológica, politicamente correta e ainda ajuda no desenvolvimento do País. Além de ser uma fonte de renda. Por qualquer um desses motivos, vale a instalação”, assegurou.

EXPERIÊNCIA EM GRAVATÁ 

 Por ver os benefícios da energia solar como uma forma de economia, o empresário Emerson Douglas dos Santos Alexandre, de 36 anos, resolveu adotar a geração fotovoltaica em sua residência, em Gravatá. Ele conheceu a energia solar em uma edição da tradicional Exposição de Animais do Cordeiro. “Instalei para ter desconto na conta de energia. Fui na Exposição de Animais e lá conheci, vi como funcionava e as vantagens”, relembrou.

Ele apontou o passo a passo e os trâmites do processo, além do mês em que começou a ver resultado positivo na economia. “Eu fechei com a empresa em dezembro, e eles resolveram tudo e a documentação perante a Neoenergia também. Foi instalada em janeiro e, em fevereiro, a Neoenergia foi analisar a instalação e deu o aval. Em março, já comecei a ver economia”, disse.

O empresário ainda mencionou a praticidade em dividir a quantidade de energia e os descontos entre os endereços que estão cadastrados em seu nome, independentemente de serem comerciais ou residenciais. “Posso colocar as placas onde quiser e escolher onde quero o abatimento. Instalei em Gravatá, mas serve para minha casa no Jaboatão (dos Guararapes) também. Pelas minhas placas, são geradas 450 kWh. No próprio contador diz o que eu gerei de energia, o que a casa consumiu e o que sobrou na rede. Essa sobra serve para compensar as demais”, salientou. Ele também relembrou que o funcionamento desse mecanismo não depende do sol. “Mesmo chovendo, gera energia. Tem que ter claridade, não quer dizer que precise do sol. Lógico, com sol gera mais”, enfatizou.

REDUÇÃO DO ESTRESSE

Um outro exemplo é o do representante comercial de 59 anos Pedro Paulo Cavalcanti, que tem a fonte alternativa instalada em sua casa em Aldeia, Camaragibe. Ele revelou que antes da instalação das placas, em 2019, pagava mensalmente um valor entre R$ 500 e R$ 600 na conta de luz. Agora, o valor é de R$ 97.
Mas Pedro Paulo também levou em consideração outra questão para decidir pela energia solar. “Diminuir o estresse na minha casa, de ficar controlando se a luz estava acesa ou o ar-condicionado ligado, por exemplo, ou ainda a quantidade de vezes na semana em que iríamos usar a máquina para lavar roupas. Eram brigas constantes na família”, contou.

A estudante Letícia Mariane Mendes Fontes, de 20 anos, mora numa casa em Pau Amarelo, no município do Paulista. E desde o mês de julho do ano passado comemora o mesmo alívio de Pedro Paulo. “Trouxe mais liberdade no uso da energia da casa, e também no valor da conta de luz no final do mês. Antes, pagávamos em torno de R$ 1.200 mensais, e agora a conta vem em torno de R$ 90,00”, afirmou Letícia.