Copom

'Ata do Copom virou debate sobre escalação da seleção brasileira', diz Galípolo

Diretor de política monetária do Banco Central disse que seria "ingênuo" imaginar que os juros não levantassem debate político

Diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, durante Expert XP - Divulgação/XP

O debate político sobre a taxa de juros é legítimo e, pela centralidade do tema, seria “ingênuo” imaginar que ele não seja alvo de discussões, afirmou o diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, nesta sexta-feira, em São Paulo, durante o XP Expert.

Desde julho no quadro que compõe o Comitê de Política Monetária do BC, Galípolo indicou o que a autoridade monetária vem buscando formas de melhorar a comunicação. Para ele, “faz parte do processo” ter de conviver com a politização do tema.

— Eu brinquei outro dia em uma reunião que a ata do Copom virou discussão sobre a escalação da seleção brasileira. O Banco Central vinha monitorando isso já vem tentando fazer com que os canais de comunicação tentem transmitir esses temas de uma maneira mais clara. Agora eu acho ingênuo a gente achar que não vai exigir debate político sobre esse tema, que afeta diretamente o vida das pessoas.

A uma plateia formada especialmente por agentes do mercado financeiro, o ex-secretário Especial do Ministério da Fazenda, que era número dois de Fernando Haddad, disse que “não é de hoje que os juros são alvos de debate político” e que o tema tem sido um desafio para as autoridades monetárias em todo o mundo.

Discussões 'republicanas'
Desde o início do ano, o presidente Lula e ministros do governo têm sido vocais sobre as críticas ao patamar elevado dos juros. Nesta sexta-feira, em agenda em Fortaleza, Lula voltou a criticar o presidente do BC, Roberto Campos Neto, chamando-o de “cidadão do Banco Central”. O presidente afirmou iria “continuar brigando" pela redução dos juros.

Galípolo amenizou qualquer incômodo que pudesse haver dentro do BC em relação às críticas duras que o governo têm feito a Campos Neto. Segundo ele, tanto o presidente da autoridade monetária quanto dos diretores do BC acham “legítimo” o debate.

— O presidente do Banco Central e os diretores do BC que estavam lá a todo o momento falaram que achavam legítimo que o presidente da República faça esse debate. A todo o momento eles reafirmaram isso. Acho que foi salutar e republicano — afirmou o diretor do BC, sem especificar quando e em que ocasião as falas aconteceram.

Cenário externo e arcabouço
Galípolo também tratou do cenário atual do câmbio e inflação. O diretor de política monetária do BC atribuiu a piora recente do dólar, em relação ao real, principalmente à pressão externa. A moeda americana encerrou o mês de agosto com alta acumulada de 3,19%, aos R$ 4,95. Já o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, teve queda de 5%.

— Eu explicaria majoritariamente o comportamento mais recente pelo cenário internacional. Se você acompanhar a trajetória das moedas, fica claro quando é um choque externo.

O diretor do BC reiterou que, apesar do choque recente, o Brasil tem se saído melhor que outros pares emergentes. Ele também indicou que as medidas tomadas pelo governo vêm trazendo sendo "premiadas" pelo mercado, e o ceticismo dos agentes financeiros diante da promessa de déficit zero no próximo ano são legítimas.

— As críticas são legítimas. O arcabouço não é um paper acadêmico, é o resultado de uma construção política. O próximo marcador importante (sobre o fiscal) vai ser a execução do arcabouço.