Redes sociais

Sem citar Michelle e Lula, Carlos Bolsonaro lança livro sobre início da estratégia digital do pai

Tido pelo pai como responsável por sua chegada à presidência em 2018, vereador apresenta obra digital de 52 páginas com conteúdo genérico. Atuação do '02' por disseminar fake news é investigada

Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro - Renan Olaz/CMRJ

Nada de fake news, Lula, PT, "gabinete do ódio" ou mesmo Michelle Bolsonaro. A proposta do livro que o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) traz em sua primeira obra digital, lançada neste sábado (2) pelas redes sociais, é contar o início da estratégia digital que ele montou para o seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Durante mais de 10 anos, Carlos cuidou das redes sociais do pai, o que já levou Bolsonaro a atribuir a ele sua vitória nas eleições presidenciais de 2018. Em abril, Carlos afirmou que "muito em breve" deixaria de cuidar das redes do pai.

Batizado de "Redes sociais e Jair Bolsonaro: o começo de tudo", o livro tem 52 páginas está sendo vendido por R$ 54,90. Em 12 capítulos, Carlos relata desde a criação do blog "Família Bolsonaro", em 2009, até o crescimento de Bolsonaro nas redes sociais.

Não há menção às eleições de 2018 e 2022, nem sobre o período no governo federal. Logo na introdução, o vereador diz que o livro propõe uma "abordagem equilibrada" sobre o início do seu trabalho para impulsar o trabalho da família.

O texto não traz qualquer dado — engajamento, crescimento, pageviews, alcance do conteúdo — e menciona somente os outros filhos políticos do ex-presidente, o senador pelo Rio Flávio e deputado federal por SP Eduardo Bolsonaro. A obra não cita sua madrasta, a ex-primeira-dama Michelle. Carlos Bolsonaro também não traz qualquer exemplo de sua atuação.

No livro, Carlos afirma que a ideia do blog surgiu quando ele tinha 26 anos, em uma tentativa de se contrapor à imprensa. Depois, passou a utilizar redes como Twitter e Facebook para divulgar o site. Ele não menciona nenhum envolvimento do pai na estratégia.

Acusado de comandar um grupo que ficou conhecido como "gabinete de ódio" durante o período em que Bolsonaro foi presidente, para disseminar ataques e fake news contra adversários, Carlos Bolsonaro usa expressões positivas em todo o texto.

De acordo com o "02", a ideia de criar o blog começou para por fim a "maré de covardia que assolava os meios de comunicação": "Os primeiros posts do blog eram como pequenos raios de sol, rompendo as nuvens escuras das notícias negativas", diz um trecho.

Carlos Bolsonaro afirma que a internet "estava se tornando uma fonte confiável de informações fidedignas, dando ao consumidor o direito de escolher o que digerir como informação".

O vereador também não entra em detalhes sobre os métodos utilizados e fala apenas de forma genérica sobre a recepção do público. "Com as ferramentas de mídia social à minha disposição, comecei a criar conexões públicas e espontâneas e links entre as postagens do blog e as redes sociais", escreve ele.

"A interação nas redes sociais também trouxe uma dinâmica nova e envolvente. Os seguidores começaram a contribuir com suas próprias opiniões e dúvidas, esclarecidas e acrescentadas quando possível, tomando praticamente toda a energia que possuía, enriquecendo ainda mais o movimento orgânico", conclui.

Adversários políticos de Bolsonaro, como o atual presidente Lula, a ex-presidente Dilma ou mesmo o PT não são mencionados em nenhum momento pelo texto.

Depoimento à PF e investigação no TSE
A atuação digital de Carlos já trouxe problemas. Ele foi acusado de comandar um grupo que ficou conhecido como "gabinete de ódio", formado por assessores da Presidência durante o governo Bolsonaro, e que disseminaria ataques a adversários nas redes sociais.

Em 2020, o vereador prestou depoimento à Polícia Federal (PF), na condição de testemunha, em um inquérito que investigava atos antidemocráticos. Na época, ele negou relação com a divulgação de mensagens de teor antidemocrático. Essa investigação foi arquivada, mas deu origem a outro inquérito, sobre milícias digitais, que ainda está em andamento e tem Bolsonaro e diversos aliados como alvos.

No ano passado, a coligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um pedido para investigar uma rede desinformação que favoreceria Bolsonaro, e seria comandada por Carlos. O pedido foi aceito pelo TSE e o caso ainda está em andamento.