MÚSICO

Acusação por antissemitismo, briga com colegas... Relembre as polêmicas de Roger Waters

Fundador do Pink Floyd, cantor e compositor inglês que acaba de completar 80 anos se envolveu em fatos controversos ao longo da carreira

Roger Waters, membro fundador do Pink Floyd - Divulgação/Instagram

Roger Waters não anda nos trilhos. O cantor, compositor e instrumentista inglês — que completa, nesta quarta-feira (6), 80 anos — é figura controversa e já se envolveu numa série de polêmicas. Foi acusado por antissemitismo, desentendeu-se com Caetano Veloso e Gilberto Gil, rompeu com colegas do Pink Floyd, meteu-se numa briga judicial... A seguir, relembre parte de histórias desafinadas que ele protagonizou.

Saída do Pink Floyd
Durante os anos 1980, uma briga entre Roger Waters e David Gilmour — então responsáveis pelos vocais da banda inglesa Pink Floyd — figurou entre os noticiários e ocupou até mesmo os tribunais. Em 1985, Waters anunciou sua saída do grupo devido a "desencontros criativos" com o colega após o lançamento do disco "The final cut", de 1983.

O desentendimento foi motivado pelo fato de Waters centralizar todas as importantes decisões relativas à banda, como alegou Gilmour. O caso foi parar na Justiça. Em dezembro de 1985, Waters iniciou o processo de dissolução do grupo na Suprema Corte britânica. Gilmour e o baterista Nick Mason não apoiaram a escolha e reforçaram que tinham intenção de manter a banda.

Fato é que a música desandou. Por quase dois anos, as atividades do Pink Floyd ficaram paralisadas, até que um acordo fosse firmado em dezembro de 1987. Autorizado a continuar interpretando — em carreira solo — as músicas da banda, Waters rebateu, à época, que "se alguém ainda merece ser chamado de Pink Floyd", esse alguém seria ele.
 

Guerra judicial com colega
Pois bem, Walters deixou o Pink Floyd em 1985 e iniciou uma guerra judicial para impedir que Gilmour e Mason usassem o nome da banda sem ele. Perdeu. Em 2013, Waters disse à BBC que se arrependia de ter processado os antigos parceiros musicais.

Em 2023, o baterista do Pink Floyd, Nick Mason, ressaltou que a briga muito provavelmente não terá um fim. E que — palavras dele — juntar David Gilmour e Roger Waters para uma reunião da banda exigiria algo como um milagre. Ao falar sobre o clássico do grupo, "Time", no último episódio do programa "The story behind the song", Mason disse que acha que seria necessário alguém como o falecido Nelson Mandela para intermediar uma reconciliação entre Gilmour e Waters.

— A única coisa que eu poderia pensar que seria possível seria se houvesse algum… Se ao voltarmos pudéssemos influenciar a salvação do planeta, a paz mundial ou algo assim. Mas fora isso, não. Seria preciso um Nelson Mandela ou alguém assim para liderar isso — frisou Mason.

Movimento de boicote a Israel
Nos últimos anos, ao defender a causa palestina — e apoiar um boicote a Israel —, Roger Waters passou a ser acusado por antissemitismo. Devido ao fato, shows do artista na Alemanha acabaram cancelados. Ele se defendeu e negou todos os apontamentos, a despeito de ter retratado a Estrela de Davi, o símbolo mais famoso do judaísmo, como uma bomba sendo despejada por um avião, em cenário do show "The Wall Live", em 2010 (veja abaixo).

— Não tenho nada contra Israel, muito menos contra judeus ou o judaísmo. Mas sou fundamentalmente contra a ideia de pessoas serem subjugadas e privadas de seus direitos. Expressei esse meu posicionamento, e aí sugeriram que eu fosse antissemita, o que não é verdade. Irei para o meu túmulo defendendo os direitos das pessoas comuns — afirmou o cantor, em entrevista publicada pelo GLOBO, em 2017.

Desentendimento com Caetano e Gil
Sem se apresentar em Israel desde que começou a militar na organização Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), Roger Waters escreveu uma carta destinada a Caetano Veloso e Gilberto Gil — divulgada publicamente, em 2015 — pedindo que ambos não incluíssem o país na turnê "Dois amigos, um século de história". O fato deu o que falar.

— Minha posição é a mesma: ninguém deveria se apresentar em Israel agora. A pressão, agora, é fundamental. A comparação mais direta, que fiz na carta, é a de se apresentar na África do Sul do apartheid — justificou ele ao Globo, à época.

Caetano devolveu a provocação com outra carta aberta para o colega. "Eu cantei nos Estados Unidos durante o governo Bush e isso não significava que eu aprovasse a invasão do Iraque. Escrevi e gravei uma música que se opunha à política que levou à prisão de Guantánamo — e a cantei em Nova York e Los Angeles. Eu quero aprender mais sobre o que está acontecendo em Israel agora. Eu nunca cancelaria um show para dizer que sou basicamente contra um país, a não ser que eu estivesse realmente e de todo o meu coração contra ele. O que não é o caso. Eu me lembro que Israel foi um lugar de esperança. Sartre e Simone de Beauvoir morreram pró-Israel", afirmou o brasileiro, numa passagem do texto.

Discussão recente
As brigas entre os ex-integrantes do Pink Floyd David Gilmour e Roger Waters não são novidade — e, de fato, não devem acabar tão cedo. Em fevereiro deste ano, Polly Samson, esposa de Gilmour e coautora de várias músicas da banda, criticou Waters no Twitter: "Infelizmente, Roger Waters, você é antissemita até a medula. E também é um defensor de Putin, mentiroso, ladrão, hipócrita, não paga seus impostos, lip-synching (dubla em vez de cantar), misógino, doente de inveja, megalomaníaco".

Gilmour, por sua vez, compartilhou a publicação da esposa e afirmou que cada uma das palavras que ela havia escolhido são verdadeiras.

O tuíte de Samson foi uma reação a uma entrevista de Walters ao jornal alemão Berliner Zeitung, publicada na semana passada. De acordo com uma tradução do texto divulgada no site de Waters, o músico britânico expôs suas opiniões sobre temas polêmicos, como a Guerra na Ucrânia, o presidente russo Vladmir Putin e o Estado de Israel. Ele, inclusive, lamentou que seus antigos companheiros de banda tenham gravado uma canção de protesto com o músico ucraniano Andrij Chlywnjuk. Em 2022, Gilmour e o baterista do Pink Floyd Nick Mason lançaram a canção "Hey hey rise up", a primeira inédita em quase três décadas, para arrecadar fundos para os ucranianos.