Ísis Valverde interpreta Ângela Diniz em filme que estreia nesta quinta-feira (7)
Longa-metragem retrata a história da mineira assassinada pelo companheiro em 1976
A socialite mineira Ângela Diniz foi morta a tiros pelo companheiro, Raul Fernando do Amaral Street, o Doca, em 30 de dezembro de 1976, em uma praia de Búzios, no Rio de Janeiro. Um dos mais emblemáticos casos de feminicídio do Brasil mobilizou mulheres de todo o País em torno do movimento “Quem ama não mata”. Agora, 47 anos depois, Isis Valverde revive nos cinemas a vítima desse crime bárbaro.
“Angela”, filme do diretor Hugo Prata, chega nesta quinta-feira (7) aos cinemas (em cartaz, no Recife, no Moviemax Rosa e Silva) para contar a fatídica trajetória daquela que ficou conhecida como “A Pantera de Minas”. Com roteiro assinado por Duda de Almeida, o longa-metragem foca nos últimos meses de vida de ngela e nas consequências de sua conturbada relação amorosa com Doca Street, interpretado no cinema por Gabriel Braga Nunes.
Em entrevista à Folha de Pernambuco, o diretor do filme relembrou que seu primeiro contato com o assassinato de Ângela Diniz ocorreu ainda na infância, ao acompanhar a repercussão do caso na TV e a revolta da mãe e das irmãs em casa. Após o sucesso de “Elis” (2016), Hugo viu a oportunidade de recontar essa história a partir do ponto de vista da vítima.
“Eu sentia que a abordagem que prevaleceu no imaginário popular foi a criada pelo advogado do Raul, que passou a desqualificar a ngela para justificar a morte dela. Isso, de alguma maneira, contaminou a opinião pública”, aponta o diretor. Na época, a defesa do réu confesso usou a tese da legítima defesa da honra para livrá-lo temporariamente da prisão. Somente no dia 1º de agosto deste ano é que o argumento, utilizado também em outros casos de feminicídio, foi julgado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) - informação que foi acrescentada ao final do longa.
Hugo preferiu não reconstruir o julgamento do caso, classificado por ele como um “massacre” contra a vítima, e nem trazer à tona a vida pregressa de Ângela. “Essa morte começou a acontecer no dia em que ela conheceu o Raul. Antes, ela era uma mulher livre e que tinha o direito de viver como ela quisesse. O filme preferiu abraçar as angústias dela e a bagagem dele também, focando numa relação que tinha elementos claros de toxidade”, explicou.
Apesar do desfecho ser amplamente conhecido pelo público, a produção constrói aos poucos o relacionamento entre Ângela e Raul. Primeiro, vem a atração avassaladora, que faz ambos largarem tudo para viver na praia, com direito a intensas cenas de sexo. A partir da metade do filme é que a violência entra em cena e o romance se transforma em tragédia.
Com a abordagem e o recorte temporal muito bem delimitados em sua cabeça, o cineasta foi em busca de alguém para transformar em roteiro suas ideias. Ele conheceu Duda de Almeida quando montava a sala de roteiristas de “As Aventuras de José e Durval”, série do Globoplay, e viu nela o perfil que procurava. “Ela me surpreendia todos os dias, durante a escrita, com as cenas que criava, a maneira que ela desenvolvia os diálogos e as reações das personagens. São coisas que jamais teriam saído de mim”, elogiou.
O elenco traz nomes como Alice Carvalho, Bianca Bin, Carolina Mânica, Chris Couto, Emílio Orciollo Netto e Gustavo Machado. A escolha de Isis Valverde para o papel de protagonista, segundo Hugo, sempre esteve na sua mente. “Ela sempre me impressionou muito como atriz. Não só pelo talento, mas também pela coragem de mergulhar nos lugares mais obscuros da personagem. Ela emocionava todo mundo no set. Não conseguiria imaginar outra pessoa nesse papel”, ressaltou.