Após perder espaço no governo, Márcio França publica foto de Lula e Tarcísio
Publicação é vista como crítica velada após perda do ministério de Portos e Aeroportos. Membro do PSB foi deslocado para Micro e Pequenas Empresas
O ministro das Micro e Pequenas Empresas, Márcio França (PSB), postou nas redes sociais uma foto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). A publicação foi vista por integrantes do governo como uma crítica velada à perda de poder e à entrada no governo da legenda de seu adversário político no estado paulista.
Nessa quarta-feira, Lula finalizou a reforma ministerial e acomodou os partidos PP e Republicanos, respectivamente, nos ministérios do Esporte e Portos e Aeroportos. A pasta era comandada até então por França, deslocado para o novo ministério das Micro e Pequenas Empresas. Os dois partidos fizeram parte da base do ex-presidente Jair Bolsonaro e abriga aliados até hoje.
"Amigos, posso garantir que o Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) é um grande político, muito preparado e filho de um grande amigo meu. Nos ajudará na tarefa de promover a União e Reconstrução que o BR tanto precisa. Saúdo o Lula por trazer para o governo o Tarcísio de Freitas e seu partido para nos apoiar. O Brasil voltou", escreveu França nas redes sociais, acompanhado de uma foto de um aperto de mão entre o presidente e o governador de São Paulo.
Tarcísio é aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro e ocupou o cargo de ministro da Infraestrutura na última gestão. A entrada do Republicanos no comando do Ministério de Portos e Aeroportos aumenta a força e influência de Tarcísio no governo, uma vez que a pasta é responsável pelo Porto de Santos, maior complexo portuário da América Latina e rota de entrada e saída de cerca de um terço das transações comerciais do Brasil.
Desalojado do ministério, França tem a sua base política na Baixada Santista. Ele foi prefeito de São Vicente, cidade vizinha a Santos (SP), por dois mandatos e governou São Paulo entre abril e dezembro de 2018. Ele não descarta a possibilidade de voltar a concorrer ao comando do estado, o que poderia colocá-lo como eventual adversário de Tarcísio em 2026 (caso o atual chefe do Executivo paulista concorra à reeleição).
Como o Globo mostrou, uma das avaliações feitas pelas equipes de articulação do Palácio do Planalto era que a entrega do ministério para o Republicanos poderia aplacar a insatisfação de Tarcísio com o governo federal. Tarcísio pode ser chamado a participar da indicação do novo presidente do porto, que é vinculado à pasta. Quando Tarcísio era ministro da Infraestrutura do governo Jair Bolsonaro, o porto ficava sob o seu guarda-chuva.
O então ministro chegou a elaborar um plano para privatizar o terminal e encaminhou uma minuta do edital de concessão para o Tribunal de Contas da União (TCU). Como governador de São Paulo, Tarcísio manteve o projeto e conversou com Lula e com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, sobre o tema. Porém, relatou ter encontrado as portas fechadas com ex-titular da pasta, Márcio França (PSB), que se declarou contrário a desestatizar o terminal portuário.
Segundo interlocutores do governador ouvidos pelo GLOBO, Tarcísio avalia que a privatização do porto está travada por questão política, que pode ser revertida. Seu argumento é que a venda do terminal pode trazer recursos para a região. A estimativa é que seriam gerados R$ 20 bilhões em investimentos para a Baixada Santista.