Delação

PF aceita negociar acordo de delação premiada com Mauro Cid

Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro esteve nesta quarta-feira no STF, onde entregou termo de intenção de colaborar com investigadores

Mauro Cid na CPI do DF - Reprodução/TV Câmara Distrital

A Polícia Federal aceitou firmar um acordo de delação premiada com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo apurou O Globo, já há um termo de intenção assinado pelo ex-ajudante de ordens em posse dos investigadores. A informação sobre as tratativas foi inicialmente revelada pelo blog da jornalista Andréia Sadi, do g1.

Cid esteve neste quarta-feira no no gabinete do ministro Alexandre de Moraes e se reuniu com o juiz auxiliar Marco Antonio Vargas, que recebeu o documento. A audiência na Corte teve como objetivo atestar que a intenção do tenente-coronel em em firmar um acordo de delação ocorreu "por livre e espontânea vontade".

A viabilidade da colaboração de Cid, contudo, ainda depende do aval do Ministério Público Federal e posterior homologação pelo ministro do Supremo. Não há data para que isso ocorra. Procurada, a defesa do ex-ajudante de ordens não retornou aos contatos.

Mauro Cid foi ajudante de ordens de Bolsonaro durante todo o seu mandato e, desde o fim do governo, virou foco de investigações envolvendo suspeitas relacionadas a fraude em cartões de vacinação, venda irregular de presentes dados ao governo brasileiro e também em tramas para um possível golpe de estado no país.

A investigação mais avançada é a que trata da venda de presentes recebidos por Bolsonaro durante sua passagem pela Presidência.

Investigadores identificaram que Cid, com participação do seu pai, o general da reserva Mauro Lourena Cid, vendeu dois relógios recebidos por Bolsonaro de outros chefes de estado, além de joias e outros itens de luxo.

Cid está preso desde maio, entretanto, em razão de outro inquérito, que apura uma suposta fraude em cartão de vacina. Segundo a investigação da Polícia Federal, Cid teria atuado para fraudar certificados de votação para si próprio e para seus familiares antes de uma viagem aos Estados Unidos. Os dados do ex-presidente Jair Bolsonaro, assim como o de sua filha, Laura Bolsonaro, também teriam sido fraudados por orientação do então ajudante de ordens.

Desde então, Cid segue detido no Batalhão de Polícia do Exército de Brasília. Após um período em que optou pelo silêncio durante seus depoimentos, ele mudou de estratégia e passou a colaborar com os investigadores. A nova postura coincidiu com a troca de advogado, quando o criminalista Cezar Bitencourt passou a comandar a defesa de Cid, no começo de agosto.

Logo que assumiu a defesa de Cid, Bitencourt disse ao Globo  que o militar pretendia prestar um novo depoimento assumindo as negociações para a revenda do relógio Rolex. Aos investigadores, o militar iria dizer que seguiu as determinações do então chefe e que, inclusive, devolveu a ele em espécie o valor recebido pela joia, segundo o advogado.

Porém, desde que assumiu a defesa do tenente-coronel Mauro Cid, Cezar Bitencourt tem apresentado diferentes versões sobre a participação dele nas negociações sobre joias recebidas em viagens oficiais.

O ex-ajudante de ordens também é personagem de interesse em outras apurações da Polícia Federal. Nas últimas semanas, prestou mais de 24 horas de depoimentos aos investigadores. Em um deles, foi ouvido pelos agentes para o inquérito que investiga a suspeita de contratação de serviços do hacker Walter Delgatti Neto para invadir urnas eletrônicas. De acordo com Delgatti Netto, Mauro Cid teria participado da reunião que a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) promoveu entre ele e Jair Bolsonaro, em agosto do ano passado, no Palácio da Alvorada.