Com Neymar histórico e 80% de posse de bola, seleção inicia "era Diniz" sob rascunhos e pinturas
Contra uma frágil Bolívia, Brasil acerta e erra com tranquilidade e faz bom jogo em noite muito importante para seu camisa 10. Próximo compromisso trará teste mais rígido
Não poderia haver adversário melhor para o primeiro jogo de uma das maiores transições pelas quais a seleção brasileira passa nos últimos anos. Na estreia do técnico Fernando Diniz e com Neymar fazendo história ao se tornar o maior artilheiro da seleção, o Brasil passou por cima da frágil Bolívia por 5 a 1, numa exibição com clara assinatura do novo comandante e um time que ainda se entende em meio às novas e belas ideias de jogo.
Rodrygo, duas vezes, e Raphinha marcaram os três primeiros gols, que levaram o Brasil à liderança das Eliminatórias sul-americanas. Mas o mais importante foi o quarto: Neymar fez seu 78º, ultrapassou Pelé e se tornou o maior artilheiro da história da seleção brasileira (nas contas da Fifa). Mas não ficou só nisso: ele ainda fecharia a goleada marcando o quinto, e seu 79º, em belíssima jogada de Raphinha nos acréscimos.
— Um dia muito especial para mim. Poder dar a assistência ao gol do Neymar para ser o maior artilheiro — disse Rodrygo.
Em noite em que iniciou como grande dúvida, na primeira partida oficial que fazia pela primeira vez em quase sete meses, o camisa 10 mostrou uma natural falta de ritmo. Quando teve a chance de abrir o placar — em pênalti marcado após cruzamento de Rodrygo que pegou no braço de Jusino —, bateu fraco e parou em grande defesa de Viscarra.
O goleiro ainda fez grande defesa no que poderia ter sido um gol antológico do atacante, que fez fila na defesa boliviana quando o Brasil já vencia por 1 a 0. O gol histórico veio em jogada de Raphinha pela direita, que passou por Rodrygo e, numa tentativa de drible, parou nos pés do camisa 10: 78 vezes Neymar em 125 jogos, num jogo que prova sua liderança em seu quarto ciclo na seleção brasileira.
Assinatura clara
Num Mangueirão lotado e com forte apoio da torcida paraense, a seleção brasileira teve toda a tranquilidade para acertar e errar em sua nova proposta. A assinatura de Diniz já começava pela escalação: Ederson ganhou a vaga de Alisson no gol, muito provavelmente pela facilidade na construção com os pés. Outras novidades no time titular foram Renan Lodi, Gabriel Magalhães e Bruno Guimarães.
Com assombrosos 80% de posse de bola (recorde da seleção na base de dados do site Sofascore), as triangulações e aproximações características dos trabalhos do novo treinador apareceram desde os primeiros minutos. Os laterais e pontas se alternavam nas tabelas e entradas por dentro para receber os passes.
Assim nasceu o primeiro gol, com uma infiltração de Raphinha pela direita, recebendo de Danilo atrás da linha de defesa e cruzando para Rodrygo, que abriu o placar.
A movimentação baseada em apresentação constante aumentou o poder de criação do Brasil. Neymar, atuando pelo meio, encontrou ótimo passe para Raphinha fatiar com a canhota. Depois, foi a vez de Bruno Guimarães perfurar a defesa boliviana e servir Rodrygo para fazer seu segundo na partida, o terceiro brasileiro.
A Bolívia não oferecia qualquer resistência: terminou o primeiro tempo sem sequer chutar a gol. A primeira finalização só sairia aos 18 minutos do segundo tempo. Mas o time encontrou o gol em uma das falhas da novas ideias: Ábrego saiu nas costas da defesa e acertou belo chute para vencer Ederson e descontar.
A falha defensiva foi um dos “rascunhos” mal sucedidos dessa nova assinatura. Naturalmente, o Brasil errou passes, principalmente no seu campo, e teve dificuldades na transição defensiva, algo que será melhor testado na terça, contra o Peru, uma equipe mais forte. Richarlison, que saiu chorando de frustração, passou em branco.