DIA NACIONAL DO FREVO

Atemporal, Frevo é arte para ser celebrada todos os dias

Dia Nacional do ritmo pernambucano é comemorado nesta quinta-feira (14), e em Pernambuco há um dia próprio, o 9 de fevereiro

Melissa Fernandes/ Arquivo Folha de Pernambuco

Conta-se que foi em 9 de fevereiro de 1907 que o Frevo foi citado pela primeira vez em um jornal de grande circulação no Recife, o "Jornal Pequeno".

Natural, portanto, que ao maioral do Carnaval de Pernambuco este mesmo dia lhe fosse dedicado. Mas hoje, 14 de setembro, dia do nascimento do cronista Osvaldo Almeida, famoso por ter propagado o Frevo ouvidos afora, também é uma data oficialmente concedida ao movimento "que é só aqui que tem, que é só aqui que há". 
 

 
 
 
 
 
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Ora como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil (Iphan, 2007), ora como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade (Unesco, 2012), títulos que formalizam o legado da Terra dos Altos Coqueiros em ritmo, dança, música, poesia e clarins - sejam os de Momo nos dias oficiais de folia, sejam os que são bradados de janeiro a janeiro, no sobe e desce das ladeiras de Olinda - o Frevo exala coloridos em ruas vazias ou povoadas pois, atemporal que é e sob as vestes da permanência que o caracteriza, qualquer dia é dia de exaltá-lo pelas bandas de cá.

 

Frevo o ano todo
"Ainda bem que Olinda segurou a parada, porque aqui é Frevo o ano todo", afirma, em tom de quem tem propriedade sobre o assunto, Oséas Leão de Souza, 68, o Maestro Oséas, gigante na condução de blocos como Ceroula, Cariri e Boi da Macuca, entre outros tantos que arrastam multidão nos dias de Carnaval ou em ocasiões não necessariamente datadas para o movimento. 

O outrora metalúrgico e integrante da "bandinha do Pátio de São Pedro" em tempos longínquos, Oséas esbraveja com orgulho que criou a família sob a batuta do ritmo carnavalesco, "Subindo ladeira, descendo ladeira (...) até quando eu aguentar eu estou dentro do Frevo", reforça.
 

Jorge Luiz/Prefeitura do Recife

Ao mesmo tempo em que persevera em manter a tradição, não hesita em conhecer o novo e ousar no comando do ritmo que pode se impor em uma "Ciranda de Maluco" (Otto) ou em um "Cabelo de Fogo" (Maestro Nunes).

"A turma gosta. Antigamente a gente tocava mais frevo de rua e hoje pedem frevo-canção das músicas de São João, de Alceu, de Eddie, de Otto. Tudo pode virar Frevo. Tem que adaptar, né?".

Ancestralidade e metamorfose
E tem sido mesmo no quesito adaptação que o Frevo tem se desdobrado para atender gerações que chegam e querem abraçá-lo com o mesmo intento dos que são "de Recife com orgulho e com saudade" dos tempos áureos dos carnavais levados pela tríade que compõe o ritmo: Frevo de Bloco, Frevo de Rua e Frevo-Canção. 

"O Frevo tem a capacidade de se metamorfosear, de se ampliar, produzir hereditariedade e ancestralidade (...) eu não acredito numa cultura estática, a cultura tem suas matrizes, seu esteio natural, seu histórico, mas ao mesmo tempo ela dialoga, promove conexão, interdisciplinaridade, interfaces", pondera o cantor e compositor pernambucano Silvério Pessoa, em um bate-papo prolongado, com a Folha de Pernambuco, pelas ruas do Bairro do Recife.

Melissa Fernandes/Arquivo Folha de Pernambuco

Entre interseções e diálogos
Silvério segue afirmando que "mais especificamente no caso do Frevo, ele também promove estas interseções e diálogos. Isso faz com que haja uma continuidade não só para gerações primeiras, com essas matrizes de Capiba, Nelson Ferreira, a Expedito Baracho e Claudionor Germano, mas ao mesmo tempo há uma cena mangue - você pega a caixa da Nação Zumbi, ali tem Frevo com Pupilo", declara o criador do projeto "Micróbio do Frevo" (2002) que deseja, entre outros desejos, um querer de que "um dia o Frevo chegasse a dominar em todo o Brasil".
 

Andréa Rego Barros/PCR

A propósito, a aspiração de Silvério tem sido atendida e faz tempo, há uns cem anos, talvez, desde que o fuzuê do frevo de Nelson Ferreira "Borboleta Não é Ave" ascendeu como o primeiro registro gravado do ritmo.

Dali em diante, a máxima de que "Recife tem o Carnaval melhor do meu Brasil" é levada pela cadência do ritmo mais pernambucano de todos e que segue passando por batutas dos maestros Duda, Formiga, Spok, Forró e outros saudosos nomes como Maestro Nunes, Capiba, Nelson Ferreira e Antônio Maria, entre outros perenes, tal qual é o Frevo, manifestação popular tomada por dobradiças, tesouras, ferrolhos e ponta dos pés, ininterrupta em ferver (ou seria "frever"?) multidões.