Encontro

"Clube da Esquina": Amaro Freitas e Zé Manoel apresentam icônico álbum em shows na Caixa Cultural

Artistas sobem juntos ao palco da Caixa Cultural, no Bairro do Recife, nesta e na próxima semana, com estreia na sexta-feira (15), às 20h

Amaro Freitas e Zé Manoel apresentam no Recife o show do álbum "Clube da Esquina" - Guilherme Silva / Divulgação

O disco “Clube da Esquina”, eleito o melhor álbum brasileiro de todos os tempos, será a matéria prima de um dos encontros mais aguardados na capital pernambucana: Amaro Freitas e Zé Manoel sobem ao palco da Caixa Cultural, no Bairro do Recife, em uma temporada de shows, nesta e na próxima semana, com estreia nesta sexta-feira (15), às 20h. 

O espetáculo seguirá em temporada no sábado (16), às 17h e 20h; e nos dias 21 e 22 de setembro, ambos às 20h. Os ingressos começaram a ser vendidos ontem, exclusivamente pelo site da Caixa Cultural e foi sucesso de público: as sessões para este primeiro fim de semana estão esgotadas . 

A dupla estreou o espetáculo no Sesc 24 de Maio, em São Paulo, nos dias 10 e 11 de setembro de 2022. Por lá também se apresentaram na Galeria Olido e na Casa Natura Musical. Depois de passarem pelo Cine Teatro São Luiz, no Ceará, é a vez de Recife conferir esse encontro.

A apresentação marca a retomada do Programa de Ocupação dos Espaços do equipamento cultural, que não era realizado há quatro anos, e faz parte do edital aprovado pela Caixa Cultural, que também vai levar o show para Brasília e São Paulo.

Álbum icônico
O disco “Clube da Esquina” – nome que também batiza o movimento de artistas mineiros amigos e parceiros como Milton Nascimento, Lô Borges, Márcio Borges, Toninho Horta, Wagner Tiso e outros – completou 50 anos de lançamento em 2022.

“Desde que eu saí de Recife, poucas vezes consegui voltar para tocar na cidade. Sou de Petrolina, mas considero Recife minha cidade também. Estou bem feliz de poder voltar e voltar com Amaro”, comemora Zé Manoel.  “Eu já tinha participado de um show de Zé. Quem me apresentou Zé foi Gutinho da Xambá e sempre teve uma vontade de fazermos alguma coisa junto. A ideia inicial era fazer um projeto: encontro de pianistas negros na Xambá”, conta Amaro Freitas.

“Eu me sinto muito mais à vontade. Ainda é um desafio para mim, mas eu me sinto muito confortável porque eu olho pro lado e vejo que ele tá ali também, com todo esse cuidado que ele teve desde o início. No entanto, eu dou a minha impressão e o meu jeito de cantar esse repertório. Nunca eu vou fazer aquilo como Milton fez”, diz Zé Manoel.

Início da parceria
A convite da Vitrola Produções, Amaro Freitas foi chamado para assumir o projeto com a homenagem ao Clube da Esquina para o Sesc 24 de Maio, em São Paulo. Amaro conta que foi cogitada a participação de Criolo, por conta do projeto que fizeram juntos com Milton Nascimento. Mas ele decidiu, então, fazer o convite ao seu conterrâneo Zé Manoel.

“Zé Manoel é uma das vozes mais delicadas que a gente tem no Brasil e achei que isso ficaria incrível nessa parceria. Convidamos Zé, Zé topou”, conta. Segundo Amaro, a ideia foi desafiar Zé Manoel a apresentar mais o seu lado cantor e menos o seu já conhecido talento ao piano. “Boa parte do show Zé passa cantando sem tocar o piano. A maior provocação foi ele estar em cima de um palco sem tocar o piano. E ele se redescobriu nesse lugar também. E a todo momento eu querendo que esse arranjo abraçasse a voz de Zé”, conta.

Amaro Freitas e Zé Manoel são dois expoentes da nova geração de artistas pernambucanos  | Foto: Divulgação

Um show a quatro mãos
Para construir o projeto, ficou a cargo de Zé Manoel a escolha do repertório e para Amaro, os arranjos. “A gente tá falando de um disco em que todas as músicas são lindas, mas são 24 músicas. É um disco longo. Então, fazemos um show de mais ou menos 1h15 e 1h20, não daria para tocar as 24 músicas. Fizemos uma seleção de umas 12 músicas. Sempre tocamos alguma autoral nossa”, revela Amaro.

Fora do repertório do Clube da Esquina, eles incluíram a canção “Olho D’água”, de Ronaldo Bastos e Paulo Jobim. O espetáculo conta com um momento muito simbólico do piano tocado a quatro mãos. Quatro mãos negras de dois talentos de Pernambuco que chamam a atenção do Brasil e do mundo. Por vezes, Amaro se apresenta em sozinho, em outros momentos é Zé quem assume o piano e canta, enquanto Amaro toca instrumentos percussivos.

Processo de criação
Amaro conta como foi a construção dos arranjos do espetáculo. “Eu senti muito essa responsabilidade no período em que eu tava fazendo os arranjos. Porque é você mexer numa coisa que cada movimento, cada nota, cada decisão que eles tomaram é uma vibração imensa e tomada de muita emoção. A gente escuta aquilo e eu sinto saudade de uma coisa que eu não vivi. A nostalgia que a música do Clube da Esquina é uma coisa impressionante”, relata.

“Como fazer um arranjo que traga um pouco dessa cara, que é o Amaro Freitas, que abraça a voz de Zé Manoel pra que ele consiga flutuar da forma que ele quiser: saltos altos, rasos, plano, pra que ele possa acontecer da forma que ele queira. E, ao mesmo tempo, preservar a originalidade das coisas que lembram o arranjo original do clube da esquina?”. A partir desse questionamento, conta o artista, eles vivenciaram  um processo muito parecido com o da gravação com Milton e Criolo.

“Trazer outras referências, de um piano mais minimalista, de um piano que é tocado de uma forma muito suave, explorando a técnica do pianíssimo que o piano oferece. Pensando muito também na influência dos pianistas franceses (Yan Tiersen, Erik Satie). Mas que também tivesse muito do piano jazz, nos tons, da obra de Bill Evans, que leva mais pro cool jazz. A música 'Cais', eu mantenho o mesmo arranjo que eu fiz pra gravação com Milton e Criolo”, detalha Amaro.

Já Zé Manoel passou a conhecer o repertório completo do disco depois do convite para fazer esse show. “Acho que metade do repertório eu conhecia”, revela. “A primeira vez que eu ouvi 'Trem Azul' foi numa gravação de Tom Jobim, do último disco dele, 'Antônio Brasileiro'. Uma versão linda, em inglês”, conta Zé, que aprofundou uma amizade com Ronaldo Bastos, o único não mineiro do Clube da Esquina..

Vivências e descobertas
Desafiado a cantar, Zé Manoel toca piano no espetáculo em apenas duas canções. Com sua atenção completamente focada na voz, ele acabou percebendo mais as sutilezas musicais. “Foram várias descobertas, a complexidade harmônica e melódica de tudo, dos arranjos. Ouvi o disco de forma mais profunda, pra poder aprender, e foi uma sequência de descobertas", diz.

“Fazer, pela primeira vez, um show eu só como intérprete, e ainda por cima com esse repertório, complexidade harmônica e melódica de tudo. Tem a referência muito forte de Milton, como o maior de todos, um grande intérprete. Uma sequência de desafios. Mas eu gostei muito, especialmente pelo fato de isso estar acontecendo, eu tendo Amaro do lado”, comemora Zé.

“É um cara que eu admiro muito, um pianista muito inventivo, musical. Então, tudo me interessa nesse processo. Tem sido um desafio, mas um desafio muito bom. Ele arranjou todas as músicas. E eu tenho o compromisso de trazer as melodias, interpretá-las, no sentido de pegar as minúcias, detalhes e das intuições”, compartilha.