Novo ministro, Fufuca indica apoio à reeleição de Lula e defende aproximação com Ciro Nogueira
Com trajetória ligada a opositores, chefe da pasta do Esporte diz que continua amigo de Eduardo Cunha
Escolhido pela bancada do PP na Câmara para comandar o Ministério dos Esporte, André Fufuca (MA) assume para si, em entrevista ao Globo, a tarefa de atrair o partido para a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mesmo com as críticas feitas pelo presidente da sigla, Ciro Nogueira, diz que será "a ponte" para uma aproximação do colega. Ao ingressar na esplanada, ele já defende a reeleição do petista.
Parlamentar licenciado do PP, apoiou o ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022 contra Lula e iniciou seu primeiro mandato na Câmara como um fiel escudeiro do ex-presidente da Casa Eduardo Cunha — a quem reputa ser amigo ate hoje.
Leia a entrevista a seguir:
O PP tem oposicionistas ao governo Lula. Chegou a falar com Ciro Nogueira, ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro?
A minha relação com o presente Ciro todos conhecem. Ciro é um irmão meu. Ele é totalmente contra, não quis que eu fizesse parte do governo. Porém, a construção não foi individual, do André Fufuca. Foi uma construção da bancada Progressista. Antes de aceitar qualquer coisa, eu falei com bancada e a bancada aceitou e referendou seu nome. Então, aqui eu compro uma missão do presidente Lula e uma missão de gratidão ao meu partido.
O senhor vai apoiar o PT em 2026?
Hoje eu ocupo em cargo de confiança e, acima de tudo, de gratidão com o presidente Lula. Pode ter certeza que o presidente do Lula terá minha correção e gratidão em qualquer momento.
Pretende contribuir na tentativa de reaproximar Ciro Nogueira do governo?
Sem sombra de dúvidas, quando eu e o Ciro fizermos as pazes novamente, tenha certeza de que serei a ponte para isso, como para todos aqueles que hoje não fazem parte do governo.
O senhor falou em fazer as pazes. Brigou com Ciro?
Está meio chateado comigo, mas faz parte.
O senhor era aliado de Eduardo Cunha. Pode haver resistência no governo?
Não, de forma nenhuma, até porque os deputados do PT sabem da minha independência, sabem das relações que construí na Câmara, muitas delas independente de qualquer personagem. Tinha uma relação de amizade com Eduardo Cunha… Tinha não, tenho, não renego meus amigos. Nove anos atrás os 513 (deputados) também falavam que tinham (relação de amizade com Cunha). A diferença é que eu não nego amigo, outros podem negar.
O senhor já pediu voto ao lado de Bolsonaro. Como explica estar com Lula?
A questão do período eleitoral não converge com período administrativo. O PP, desde a transição, está ajudando o governo, até porque eu acredito que o principal numa gestão não é só aquele que ajuda no período eleitoral. É aquele que ajuda a consolidar os projetos do governo. Isso o PP está fazendo desde a transição e irá continuar fazendo.
A relação entre Lira e Lula já foi pacificada?
Eu, sinceramente, não vejo aliado melhor para o governo do que o Arthur. Nenhum presidente na história da Câmara entregou tanto a um governo quanto o Arthur entregou. Pode pesquisar todos os presidentes dos últimos 20 anos, (não há ninguém) que tenha entregado pautas econômicas de tanta dimensão e envergaduras como Arthur entregou. Na verdade, muitas das vezes ele é mal compreendido. Arthur é um grande aliado do governo. É o braço direito do governo hoje, pode-se dizer isso.
Ele pode virar ministro?
Eu acho que o presidente Arthur Lira tem envergadura para ocupar qualquer cargo. Ele tem tamanho, tem força política para isso, tem preparo e, se ele viesse a ocupar, seria uma honra para nosso partido.
O senhor não tem experiência com Esporte, como espera contribuir com ministério?
Desde o primeiro mandato, sempre me deparei com isso. Quando fui deputado estadual, presidente interino, vice-presidente da Câmara, secretário-geral, líder do meu partido. O que eu posso pedir é paciência àqueles que fazem esse questionamento e me julguem após a minha gestão.
O senhor pretende ampliar o Ministério?
Nós temos projeto de ampliar secretarias. Ter secretaria voltada ao empreendedorismo, ter diretoria volta a questões sociais, esporte, jogos. Temos um projeto amplo de fortalecimento e ampliação do ministério que a gente espera ter a sensibilidade do Executivo para tornar realidade. Tem essa construção, estamos terminando de construir para passar o mais rápido possível ao presidente da República.
Houve algum acordo com Fernando Haddad sobre a secretaria das apostas esportivas?
Não, ainda não cheguei a falar com ele sobre esse tema.
O ministro Padilha chegou a falar de uma divisão sobre o tema. Isso tem consenso?
A gente não tem pressa em relações a isso. Até porque é um projeto que ainda vai passar pelo Senado. Se houver alteração, volta pra Câmara. Então tem um tempo ainda que a gente possa conversar. E vamos dar tempo ao tempo, vou sentar com o ministro Padilha com muita tranquilidade e ver quais atribuições ficarão para cada pasta.
O PP reivindicava o Ministério do Desenvolvimento Social. Ficou satisfeito com Esporte?
O que faz o ministério é o ministro, o que faz a gestão é o gestor. Eu acredito no potencial da pasta que a gente está à frente. Acho que o Ministério dos Esportes tem uma capilaridade muito forte, tem uma entrega muito forte e se houver apoios necessários do Executivo, a gente tem como fazer um brilhante trabalho aqui.
Aliados do governo reclamam do longo processo da reforma. Foi mal conduzida?
Não acho. O tempo é do presidente. A gente tem que ter nesse momento muito serenidade de saber que a condução quem faz é o Executivo.
Integrantes do seu partido acreditam que o Ministério do Esporte é o começo da aliança do PP com governo. O senhor vai liderar o processo?
Não posso adiantar se houve conversa em relação a outros espaços, até porque o espaço do qual eu recebi o convite foi do Esporte. Acabei por não participar de novas conversações. Acredito que o PP é um partido que tem tamanho, tem grandeza e pode ajudar também pode contribuir em outras esferas do governo.
O PP vai buscar mais espaço no governo?
Não estou falando que a gente vai buscar mais espaço. Eu estou dizendo que o PP tem excelentes quadros que podem ajudar em qualquer esfera do governo. É isso que eu quis dizer.
Tem participado dessa negociação do PP com a Caixa? Como ficou a definição?
Não tenho. Sinceramente, não saberia confirmar nada.
Quanto dos 49 votos da bancada o partido vai entregar ao governo?
Não saberia lhe precisar com correção, até porque é uma questão mais pontual, porém eu tenho como pensamento próprio que o partido manterá o apoio que vem mantendo. Podemos ter algumas a mais ou menos, mas acredito que nós teremos uma consolidação da base de apoio que já tem, que gira em torno de 70%, 80% da bancada. Como já foi demonstrado. O que eu estou falando aqui não é uma coisa de que vamos ver, é uma coisa que já vimos.
Conquistará a confiança de Janja, que lamentou saída de Ana Moser?
A gente vai conquistar a confiança de todos com muito trabalho. A sensibilidade e principalmente a espontaneidade, a transparência é um sentimento que admiro. Por isso que sou fã da primeira-dama Janja, acho uma pessoa espetacular, que vem ajudando muito o presidente Lula e que merece todo o respeito e o carinho da nação brasileira.
Como vê as dificuldades do esporte feminino?
A gente pretende olhar com muita sensibilidade para a classe feminina. Elas podem contar com a gente, não é porque aqui hoje tem um homem à frente do ministério que elas terão qualquer tipo de afastamento. Ao contrário, quero abrir as portas do ministério para todos, para que todos possam ajudar com ideias, possam ajudar na construção de um projeto de esporte para todo o Brasil. Espero que a gente consiga avançar olhando para todos os lados. Não tem como falar em democratizar o esporte olhando apenas para um lado.