Atividade econômica perde força até dezembro, apesar de desempenho positivo no segundo semestre
Juros ainda em patamar alto e redução esperada do desempenho do campo vão pesar sobre resultado global da economia brasileira
O ritmo da atividade econômica brasileira no início da segunda metade do ano foi considerado positivo por economistas consultados pelo Globo, mas o movimento deve perder força até dezembro por conta de alguns fatores como o forte resultado do agronegócio no primeiro semestre — que não se repetirá até dezembro — e o peso da taxa básica de juros, apesar da perspectiva de queda da Selic.
No mês de julho, o indicador de atividade da economia brasileira medido pelo Banco Central, o IBC-Br, registrou uma variação positiva de 0,44%.
O economista Rafael Perez, da Suno Research, avalia que o resultado é um sinal importante de resiliência da atividade econômica do país. Mas quando se olha para a comparação anual e o acumulado de 12 meses, já é possível notar uma desaceleração.
— No trimestre móvel encerrado em julho, o IBC-Br teve uma queda de 1% e o carrego estatístico para o terceiro trimestre está levemente negativo. Isso contribui para nosso cenário de que devemos ter uma perda de tração para o segundo semestre — afirma.
Juros ainda elevados, cenário global indefinido e o alto endividamento das famílias devem se traduzir num crescimento próximo de zero da economia brasileira no segundo semestre, prevê Perez.
Ele pondera, entretanto, que o setor de serviços será favorecido pela inflação mais baixa. E a expansão da massa salarial e o mercado de trabalho devem se manter aquecidos.
Para o economista da Suno, o ciclo de corte de juros, iniciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC na reunião passada, ainda deve demorar para fazer efeito sobre economia no curto prazo, dado que o patamar ainda está bastante elevado: 13,25% ao ano. Um novo corte de 0,5 ponto percentual deve acontecer nesta quarta-feira.
— Os impactos da política monetária costumam ser defasados e levar mais de 12 meses para serem sentidos. No entanto, a queda da Selic tende a afetar positivamente as expectativas e melhorar a confiança dos consumidores e empresários — observa.
Novas surpresas?
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, avalia que diante do IBC-Br de 0,44% o terceiro trimestre começa bem e ele acredita que pode vir outra surpresa ao longo desse segundo semestre. Para ele, entretanto, o PIB caminha para crescer mais do que 3%, ainda bastante puxado pelas commodities.
— O PIB caminha para crescer mais que 3%, ainda bastante puxado pelas commodities. Nesse segundo semestre, além das commodities, tem a queda de preço de alimentos, que aumenta a renda disponível da população mais pobre, e há o efeito de curto prazo do Programa Desenrola. São elementos que ajudam o PIB este ano, mas não se mantém para o ano que vem. Estamos com previsão de crescimento de 2% em 2024, que é um crescimento mais difuso, menos dependente de commodities e com mais efeito vindo dos outros setores, dessa vez com impacto da queda de juros — diz Vale.
Para 2024, Vale vê como possíveis riscos a pressão fiscal para entregar "mais crescimento do PIB", diante de um ano eleitoral.
Crédito apertado
Rodolfo Margato, economista da XP, diz que o IBC-Br avançou em linha com o que o mercado esperava, mas abaixo das expectativas da XP, que esperava um crescimento de 0,9%. Na variação interanual, o indicador cresceu 0,66% em julho, uma surpresa negativa em relação à projeção do mercado e da própria XP, que esperavam respectivamente alta de 1% e 1,3%.
— Por enquanto, estimamos ligeiro avanço de 0,1% para o IBC-Br em agosto ante julho e expansão de 2% em relação a agosto de 2022 — diz o economista.
Mas, na avaliação de Margato, a atividade doméstica vai desacelerar gradualmente ao longo deste semestre. A dissipação do choque positivo da agricultura, sinais de moderação no mercado de trabalho e condições de crédito ainda apertadas embasam essa previsão.
A XP projeta que o PIB brasileiro crescerá 2,8% em 2023.