Acusações

Zelensky acusa a Rússia de usar alimentos e energia como armas; Lula pede diálogo

Zelensky reiterou o convite aos líderes mundiais para se somarem a uma "Cúpula para a Paz" e pôr fim à guerra de agressão

Zelensky - Bryan R. Smith / AFP

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou a Rússia nesta terça-feira (19), na Assembleia Geral da ONU, de perpetrar "um genocídio" e usar os alimentos e a energia como armas, em um discurso que alertou para o ceticismo de países em desenvolvimento sobre o quanto eles têm a ganhar com uma vitória de Kiev.

Zelensky reiterou o convite aos líderes mundiais para se somarem a uma “Cúpula para a Paz” e pôr fim à guerra de agressão.

“Pela primeira vez na história moderna, temos a oportunidade de colocar fim à agressão nos termos da nação atacada”, disse, em um discurso aplaudido de pé por representantes das nações ocidentais, embora com muitos assentos vazios.

"Esta é uma oportunidade real para todas as nações: garantir que a agressão contra o seu Estado, caso ocorra, Deus queira que não termine, não porque a sua terra está dividida", mas porque a sua soberania está resguardada, completau o presidente Ucraniano, que acusou Vladimir Putin de perpetrar "um genocídio" com a deportação de crianças ucranianas para a Rússia, onde "eles as ensinam a odiar a Ucrânia e rompem todos os laços com suas famílias, o que é, claramente, um genocídio".

Zelensky, que participará amanhã na sessão do Conselho de Segurança da ONU, acrescentou que não se deve permitir que Moscou, um membro permanente do Conselho, possua armas nucleares: "Os terroristas não têm direito a possuir armas nucleares."

O presidente americano, Joe Biden, usando a mesma mensagem do líder ucraniano, deixou claro que permanecerá ao lado do país atacado.

“A Rússia acredita que o mundo irá se cansar e deixá-los destruir a Ucrânia sem consequências”, ressaltou. “Se deixarmos a Ucrânia ser desmembrada”, o mesmo pode acontecer com outros países, anunciou.

O presidente da Turquia, Recep Erdogan, prometeu intensificar seus esforços diplomáticos para pôr fim à guerra na Ucrânia.

“Temos nos esforçado para manter nossos amigos russos e ucranianos em torno da mesa com a tese de que a guerra não terá vencedores e a paz não terá perdedores”, disse em seu discurso.

“Iremos intensificar nossos esforços para pôr fim à guerra por meio da diplomacia e do diálogo”.

A Ucrânia sempre encontrou na Assembleia Geral um grande apoio, com a aprovação de diversas resoluções, diante da impossibilidade de fazer o mesmo no Conselho de Segurança ao veto da Rússia, um de seus cinco membros permanentes.

Diálogo
Em um mundo dividido e assolado por conflitos, pela covid-19, pelas crises climáticas e migratórias e pela pobreza e desigualdade, além dos custos de vida elevados, muitos países em desenvolvimento defendem uma paz negociada.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu um diálogo para resolver o conflito na Ucrânia.

"Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz. Mas nenhuma solução será rigorosa se não for baseada no diálogo", alertou Lula, ressaltando que é necessário "criar espaço para negociações".

O presidente brasileiro tentará amanhã aparecer como arestas em uma reunião com Zelensky.

'Novo contrato'
A da Ucrânia é uma das múltiplas crises, embora várias delas tenham se agravado no último ano e meio de conflito, em um mundo cada vez mais multipolar e desigual.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu “determinação” aos líderes e um “espírito de Estado”, e não “jogos e bloqueios”, para melhorar a vida dos mais vulneráveis no planeta.

Para Guterres, a catástrofe na cidade líbia de Derna, onde milhares de pessoas morreram devido às inundações, é um "retrato triste" de um assombrado pelas injustiças e pela "falta de capacidade" de enfrentar as crises.

Guterres pediu uma reforma das instituições multilaterais, para que reflitam a relevância e complexidade do século XXI. "Não podemos abordar de forma eficaz os problemas se as instituições não refletem o mundo como ele é", assinalou.

O pedido de Guterres foi corroborado pelo presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, líder do G77 + China, que defendeu “um novo contrato mundial, mais justo”. As estruturas que surgiram com o fim da II Guerra Mundial “nos marginalizam o progresso global e transformam muitos povos do Sul em laboratórios de formas renovadas de dominação”, acrescentou.

O presidente colombiano, Gustavo Petro, propôs políticas de troca de dívida para os países em desenvolvimento por ação climática. Para muitos, isso permitiria que nos concentrassemos em atingir os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).