Alemanha proíbe atividade de grupo neonazista internacional no país: "ameaça à nossa democracia"
Operação contra a divisão nacional dos Hammerskins mobilizou mais de 700 policiais para batidas em 10 estados, onde foram encontradas armas, dinheiro, bandeir
O governo alemão proibiu a atuação do grupo neonazista internacional Hammerskins no país. A partir de uma operação que a ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, descreveu como um "grande golpe contra o extremismo de direita organizado", mais de 700 policiais realizaram uma batida para revistar as residências e os locais de reunião de dezenas de membros da organização em 10 dos 16 estados da Alemanha. Fundado nos Estados Unidos em 1988, os Hammerskins estão presentes em muitos outros países, especialmente na Europa.
A proibição da divisão alemã dos Hammerskins — considerados uma espécie de elite dentro do meio skinkead de extrema direita — significa que suas atividades e a exibição de seus símbolos estão vedados em todo o país. As autoridades estimam que a organização tenha cerca de 130 seguidores, dos quais aproximadamente 90 são membros plenos. Vários deles são velhos conhecidos das forças de segurança, pois têm condenações anteriores por crimes violentos e posse ilegal de armas. De acordo com a mídia alemã, um dos presos é Sven Krüger, um famoso neonazista que atua no norte do país.
"A extrema direita continua sendo a maior ameaça à nossa democracia. É por isso que continuamos a agir com total determinação para desmantelar suas estruturas" disse a ministra do Interior da Alemanha.
A operação, planejada para revistar as casas de 28 membros do grupo e seus locais de reunião ao mesmo tempo, foi coordenada durante um ano com a polícia regional e as autoridades dos EUA. A batida descobriu armas de todos os tipos, inclusive uma granada antitanque, dinheiro e itens de cultos extremistas de direita, como bandeiras com suásticas e cópias do livro Mein Kampf, de Adolf Hitler.
O banimento dos Hammerskins é entre as mais de 20 ilegalizações de grupos de extrema direita na Alemanha nas últimas décadas. Mais recentemente, em 2020, o Ministério do Interior dissolveu três grupos extremistas, incluindo a divisão alemã do Combat 18, que foi criada no Reino Unido e é suspeita de ter ligações com o neonazista que atirou na cabeça do político Walter Lübcke em 2019.
Ao contrário de seus antigos concorrentes Blood and Honour, outra organização internacional proibida na Alemanha há mais de 20 anos, os Hammerskins eram um grupo legal até agora. Apesar disso, e para não serem notados, eles mantiveram um perfil discreto, muito focado no cenário musical de rock de extrema direita, onde organizavam regularmente shows clandestinos e vendas de CDs. Eles se chamam de "irmãos".
Além dos Hammerskins, o Ministério do Interior alemão também proibiu seu grupo de apoio, chamado Crew 38, pelo qual os membros em potencial passavam antes de serem admitidos na "irmandade". O 38 do nome representa a terceira e a oitava letras do alfabeto, c e h, que, por sua vez, representam martelos cruzados, o logotipo da Hammerskin. Com a decisão, o símbolo não pode mais ser exibido em público na Alemanha.
"Os Hammerskins são uma irmandade internacionalmente ativa que professa a ideologia nacional-socialista e é profundamente racista e antissemita" disse Katharina König-Preuss, membro do partido Die Linke no Parlamento do estado da Turíngia.
König-Preuss é uma das parlamentares que participou da comissão de inquérito sobre a NSU (Resistência Nacional Socialista), a gangue neonazista que cometeu uma série de crimes xenófobos na Alemanha durante 14 anos e é suspeita de também ter ligações com os Hammerskins.
O Ministério do Interior alegou que o grupo "vai contra a ordem constitucional" e que seus objetivos e atividades "são contra a lei". A ideologia dos Hammerskins baseia-se na ideologia nazista e na doutrina racial, que eles propagam em shows e por meio das letras de bandas de rock relacionadas. Seu objetivo, diz o ministério, é "viver e consolidar sua visão de mundo de extrema direita".
Os Hammerskins foram proibidos e processados em vários países. Vários membros da divisão espanhola foram condenados a até dois anos e meio de prisão por promover o ódio e a violência. A Suprema Corte do país confirmou em 2012 a decisão do Tribunal Provincial de Madri, que condenou pela primeira vez um grupo neonazista na Espanha em 2009 por associação ilegal e posse ilegal de armas.
O grupo poderia recorrer de sua proibição junto aos tribunais alemães, que teriam que decidir se a decisão do Interior está de acordo com o Artigo 3 da Lei sobre Associações. Esse artigo proíbe grupos cujos "objetivos ou atividades infrinjam as leis criminais" ou "sejam dirigidos contra a ordem constitucional ou a ideia de entendimento internacional". Por enquanto, as autoridades confiscaram todos os bens encontrados nas buscas de terça-feira.