Tecnologia

Dona do TikTok é acusada de racismo por ex-funcionários nos EUA

Profissionais afirmam que empresa se recusou a investigar as denúncias e acabaram sendo demitidos

Tiktok - Reprodução: Pinterest

A ByteDance, contrladora do TikTok, foi acusada de racismo e retaliação por ex-funcionários negros em uma queixa apresentada às autoridades de direitos civis dos Estados Unidos, alegando que a empresa chinesa os demitiu porque eles se manifestaram contra o ato de discriminação.

Nnete Matima, que trabalhava em vendas para a empresa, contou que foi forçada a buscar oportunidades de baixa qualidade em vez das mais promissoras que ela mesma havia desenvolvido, e que vários supervisores, incluindo um vice-presidente, se referiam a ela como uma “cobra negra”.

Joël Carter, que fazia parte da equipe de publicidade do TikTok, disse que recebeu injustamente um nível e salário mais baixos do que colegas de trabalho brancos com credenciais equivalentes, e que lhe foi negado o crédito por suas próprias realizações e ideias.

A reclamação que os trabalhadores demitidos apresentaram nesta quinta-feira à Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego (EEOC) dos EUA, que aplica as leis federais contra a discriminação no local de trabalho, ocorre no momento em que as empresas de tecnologia enfrentam anos de críticas sobre a lentidão para melhorar a contratação e o tratamento de mulheres e minorias nos ambientes de trabalho.

É também um momento tenso para a ByteDance, sediada na China, em meio a uma proliferação de esforços para banir o TikTok nos EUA, devido a preocupações de que o aplicativo de vídeos curtos poderia permitir que o governo chinês obtivesse dados sobre os americanos sem seu conhecimento.

A ByteDance não respondeu imediatamente a uma consulta feita pela reportagem.

Os dois ex-funcionários da ByteDance afirmaram na reclamação apresentada à EEOC que a experiência que tiveram ao sofrer represálias por denunciar o preconceito "é emblemática de um problema sistêmico no Vale do Silício e, de modo mais geral, nas grandes empresas americanas".

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"Esse caso demonstra o dilema que muitos trabalhadores negros enfrentam atualmente. Eles podem ignorar a discriminação e deixar que supervisores tendenciosos sabotem suas carreiras, ou podem denunciar essa discriminação e sofrer retaliações que muitas vezes levam à demissão'', disseram.

Em 2020, após preocupações com a visibilidade expressa por criadores negros do TikTok, a empresa emitiu uma promessa de "trabalhar todos os dias para criar um ambiente de apoio à comunidade negra e a todos em todo o mundo".

A empresa de mídia social disse na época:

"Estamos ao lado da comunidade negra e temos orgulho de fornecer uma plataforma onde #blacklivesmatter e #georgefloyd geram conteúdo poderoso e importante com mais de um bilhão de visualizações".

Em sua denúncia, Nnete e Carter dizem que ficaram encorajados com os compromissos públicos da TikTok, mas encontraram uma realidade diferente depois de ingressarem na empresa. Carter era gerente da equipe de política de anúncios do TikTok, enquanto Nnete trabalhou vendendo a Lark, ferramenta de colaboração no local de trabalho da ByteDance.

Ambos dizem que foram os únicos funcionários negros nas suas funções durante a maior parte do tempo que lá estiveram e que, depois de apresentarem queixas internas, a administração “recusou-se a investigar adequadamente as suas reivindicações e, em vez disso, voltou a sua fúria” contra eles, acabando por demiti-los.

O comportamento da empresa mostra que “não tolera dissidências dentro de suas fileiras”, segundo o documento.

- Sabemos que a discriminação é desenfreada nos Estados Unidos, mas quando os trabalhadores reclamam de discriminação, as empresas dizem: 'Não podemos ser nós'", disse Peter Romer-Friedman, advogado de Nnete e de Carter. - A maneira responsável de os líderes corporativos responderem às reclamações de discriminação é levá-las a sério, e não se envolver em uma caça às bruxas contra as pessoas que fizeram a queixa - acrescentou.

As queixas apresentadas à EEOC são investigadas por sua equipe, após o que a agência pode rejeit´-las, tentar forjar um acordo, processar a empresa acusada ou simplesmente dar luz verde para que os reclamantes entrem com uma ação judicial própria.

- Fiz de tudo em termos de apresentação de reclamações, relatando coisas que iam crescendo na cadeia de comando - fiz tudo o que podia fazer, mas descobri que quanto mais eu me defendia, pior era o tratamento que recebia . Quero que eles entendam que a maneira como tratam as pessoas de cor não é correta e que não vamos simplesmente aceitar isso - afirmou Nnete.