Cidade do Mali sofre bloqueio de jihadistas
O Grupo de Apoio à Islã e aos Muçulmanos (GSIM), uma aliança jihadista afiliada à rede Al-Qaeda e que luta há vários anos contra o Estado malinês
Moradores de Timbuktu acharam que se tratava de uma nova tática de intimidação quando os jihadistas anunciaram o bloqueio da cidade malinesa.
Um mês e meio depois, coleções de milhares de pessoas permaneceram isoladas e enfrentaram uma realidade dura, com um comércio mínimo e preocupado com a própria segurança.
“Achávamos que eram mensagens da boca para fora, lançadas para espalhar o pânico”, diz Abdul Aziz Mohamed Yehiya, representante da sociedade civil. “Mas o que vivemos agora é um bloqueio”.
O Grupo de Apoio à Islã e aos Muçulmanos (GSIM), uma aliança jihadista afiliada à rede Al-Qaeda e que luta há vários anos contra o Estado malinês, declarou em agosto “guerra na região de Timbuktu”.
Um comandante local da organização, Talha Abu Hind, alertou que os caminhões procedentes da Argélia, Mauritânia e outros países não poderiam entrar na região ou seriam "atacados e queimados".
Um morador que retornou recentemente a Timbuktu de moto conta que era praticamente o único na rodovia. “Vi jihadistas fortemente armados com capturas de 12,7 mm”, relata.
Como a rodovia é muito perigosa, o rio Níger, ao sul, era uma alternativa para o transporte de cargas e pessoas.
Porém, em 7 de setembro, um ataque a uma balsa, atribuído aos jihadistas, matou pequenas quantidades de civis. A navegação foi suspensa até nova ordem, segundo um agente da companhia fluvial.
Insustentável
Em relação ao transporte aéreo, a Sky Mali, única empresa que opera em Tombuctu, cancelou os voos após um lançamento de granadas no perímetro do aeroporto.
Os jihadistas ampliaram sua influência nas regiões rurais das cidades, não tanto para apoderá-las, mas para aumentar a pressão sobre o Estado.
A junta militar, com problemas de segurança em todo o país, minimiza os efeitos do bloqueio, ao qual não se refere com este nome.
O primeiro-ministro, Choguel Kokalla Maiga, exaltou a resiliência dos moradores locais durante um encontro no começo do mês com representantes de Timbuktu. "Durante um momento, é preciso sacrificar tudo para mudar a situação. E isso se faz com dor".
O comércio em Timbuktu sofre: “Há caminhões bloqueados que não podem se mover. Agora mesmo, não entra nenhum caminhão em Timbuktu”, conta Umar Baraka, presidente de uma associação de jovens.
“Estamos em crise” e faltam açúcar, leite e azeite, afirma o comerciante Baba Mohamed. “Se continuar assim, muitas lojas vão fechar”, diz.
“A situação é insustentável, a população de Timbuktu está prejudicada”, lamentou Abdul Aziz Mohamed Yehiya, representante da sociedade civil. Esse cenário é um problema de segurança, agravado pela retirada da missão da ONU por desejo da junta militar que governa o Mali. Desde então, os jihadistas dobraram a pressão.
O Exército do Mali comunicou hoje a morte de duas pessoas em um ataque jihadista com obuses contra a cidade. "A gente costumava sair para se divertir, o que não acontece mais, devido à queda de obuses no meio da rua. As pessoas estão muito assustadas", descreve uma moradora.