Equador

Traficante equatoriano acusado do assassinato de Villavicencio lança clipe de dentro da prisão

Vídeo, interpretado pela dupla Mariachi Bravo e Queen Michelle, filha de Fito, foi gravado em bar, em um campo e na detenção onde líder de Los Choneros está

Fito aparece em clipe feito de dentro da prisão do Equador - Reprodução

De dentro da prisão, um dos criminosos mais perigosos do Equador, José Adolfo Macías Villamar, conhecido como Fitoacusado de ordenar o assassinato brutal do candidato Fernando Villavivencio — desafiou o sistema e divulgou um vídeo para demonstrar seu poder sobre o Estado que não conseguiu mantê-lo nem por um mês na prisão de segurança máxima La Roca.

Em agosto, Fito foi transferido do Centro de Privação da Liberdade Regional Número 8 de Guayaquil, para a La Roca, em uma megaoperação da qual participaram 4 mil policiais e soldados. Mas o confinamento na prisão de segurança máxima durou pouco e agora ele está de volta à sua cadeia favorita. Para celebrar a transferência, o clipe foi divulgado na semana passada.

"El Corrido del León", é interpretado pela dupla Mariachi Bravo e Queen Michelle, filha de Fito, e foi gravado em três ambientes: um bar, um campo com cavalos e a prisão regional onde Fito cumpre pena de 34 anos por homicídio, tráfico de drogas, crime organizado, roubo e porte de armas.

“Ele é o patrão e o patrão, senhores, é Adolfo Macías Villamar”, diz um trecho do clipe.

Após a divulgação do vídeo, o órgão responsável pelo sistema prisional do Equador afirmou, em nota, que “não foi autorizada a entrada de equipamentos de gravação ou produtoras audiovisuais no estabelecimento prisional”, razão pela qual reconheceu que as imagens “poderiam ter sido obtidas a partir de alguns equipamentos introduzidos ilegalmente”.

Para Fernando Carrión, analista de segurança, o vídeo é uma tentativa de “demonstrar vitória” e força do Los Choneros:

— A letra tenta legitimar Fito como alguém que pode liderar uma pacificação entre todas as quadrilhas criminosas que proliferam no país.

O líder do Los Choneros tenta assim apagar a imagem do criminoso subjugado que muitos equatorianos viram com espanto no dia de sua transferência para o presídio de segurança máxima. E também tenta se esquivar das acusações de possível autoria intelectual do crime. Dias antes de morrer, Villavicencio havia denunciado ameaças de Fito.

E escolheu um corrido mexicano [gênero musical usado por traficantesdaquele país], o que para Carrión, tem como objetivo de “marcar a relação e o vínculo que Los Choneros com o cartel de Sinaloa”.

“Ele tem muito amor pela família / e pelos amigos, nem se fala / por eles daria a vida / muito mais se lhe demonstrassem lealdade”, afirmam outros versos. “Fito é chapa, senhores / é o chefe dos patrões / é o líder dos Los Choneros.”

Os corridos são uma parte importante da história musical do México. Eles nasceram no século XIX, durante a Revolução Mexicana, e neles eram contados os feitos dos heróis. Com o tempo, passaram a ser utilizados pelos traficantes.

— Ao longo do tempo, os corridos reivindicaram o conflito, uma ruptura do establishment, e isso é assumido pelos traficantes para propor uma ruptura, mas desta vez contra todo o sistema com o qual se confrontam — acrescenta o analista. — Neste caso é contra o governo e principalmente contra um sistema prisional que tem sido permeado por gangues criminosas.

“Com muita inteligência / ele decidiu se aposentar e ganhar grandes quantias de dinheiro”, diz a letra da música que também descreve as quantidades de drogas, a corrupção no sistema de Justiça e os locais para onde as drogas eram levadas. “Em Manabí, Santa Elena / e parte de Los Ríos / é onde operei / e me movi sem barulho / nos pequenos aviões mandei os quilos / da Colômbia e do Equador para Sinaloa mandei suas encomendas.”