Espetáculo contemporâneo 'Dead Man Walking' estreia temporada na Ópera de Nova York
A história de 1993 foi transformada em um filme indicado ao Oscar e estreará nesta terça-feira (26) no Metropolitan Opera
Há três décadas atrás, a irmã Helen Prejean escreveu o livro "Dead Man Walking", uma memória que descreve sua relação com um condenado à pena de morte cuja execução foi presenciada por ela.
A história de 1993 foi transformada em um filme indicado ao Oscar, estrelado por Susan Sarandon e Sean Penn, e foi adaptada agora para uma ópera sobre o amor, a dor e a redenção que, após vinte anos anos nos palcos, estreará nesta terça-feira (26) no Metropolitan Opera, casa de ópera de Nova York.
A versão operística de "Dead Man Walking" foi composta por Jake Heggie, com libreto de Terrence McNally. A produção para o Metropolitan conta com a mezzo-soprano Joyce DiDonato, no papel da irmã de Helen, e o barítono Ryan McKinny, que dá vida ao condenado à morte, Joseph De Rocher.
Nos papéis coadjuvantes, a soprano Latonia Moore interpreta a irmã Rose, e a mezzo-soprano Susan Graham - que interpretou Prejean em 2000, quando esta ópera estreou em São Francisco - é a mãe do condenado.
Prejean, de 84 anos, usa a mídia para defender a abolição da pena de morte, legalizada em muitos estados americanos.
"É um ritual secreto: apenas poucas pessoas testemunharam 1.500 execuções", disse, ao lembrar de uma expressão que lhe impactou durante seu trabalho na América Latina: "O que os olhos não veem, o coração não sente".
Depois de presenciar a morte de Elmo Patrick Sonnier, que inspirou a criação de De Rocher, a freira acompanhou vários detentos em suas execuções. Ela espera que essas experiências, descritas em seu livro, "despertem as pessoas".
"Estou muito feliz que a história e a realidade cheguem às pessoas", declarou à AFP durante um intervalo do último ensaio geral antes da estreia nesta terça.
"Por isso precisamos que a arte abra a cortina e aproxime a realidade das pessoas".
É possível perdoar?
A sombria ópera contemporânea, dirigida por Ivo van Hove, começa com a cena que representa o assassinato e estupro que enviaram De Rocher ao corredor da morte.
Depois, a Irmã Helen, que inicia o contato com o preso por correspondência, aparece disposta a se reunir com ele na penitenciária estadual da Louisiana.
Os dois personagens principais dividem o palco com frequência durante a apresentação, sem as divisórias ou algemas que geralmente caracterizam a produção, o que transforma o palco austero em uma prisão emocional.
"É uma ópera sobre a pena de morte, mas na minha opinião é sobre o lado humano, especialmente de alguém que fez coisas terríveis", e vale nos "perguntarmos se perdoar é possível", disse à AFP McKinny, que interpreta De Rocher.
Para Prejean, a história também ajuda a compreender as circunstâncias que levam uma pessoa a agir de determinada maneira e, por isso, além de perguntar quem fez o quê, é importante refletir "o que nós fizemos de errado?", enfatizou.
Na busca de um público jovem
A produção de "Dead Man Walking" faz parte de uma mudança de rumo da Metropolitan Opera, que aos 143 anos de existência tenta atrair um público mais jovem.
Nos últimos anos, a casa tem feito sucesso com óperas de compositores vivos, como "The Hours" e "Fire Shut Up In My Bones", que também irão voltar nesta temporada.
A prestigiada ópera também apresenta "X: The Life and Times of Malcolm X".
Para a soprano Moore, a adesão ao contemporâneo da casa de ópera de Nova York demonstra apoio aos "compositores de ópera americanos e aos artistas americanos daqui".
"Com certeza amamos os clássicos, mas se não fizermos algo para avançar e não incorporarmos a nossa própria cultura nesta forma de arte, (a ópera) morrerá neste país". É necessário aumentar o atrativo ao público mais jovem, com algo que eles "podem se identificar" e que consiga "atingir eles emocionalmente", concluiu Moore.