Patrimônio

Artistas e produtores se unem para pedir a preservação do Teatro Valdemar de Oliveira

Manifestação pelo tombamento do Teatro Valdemar de Oliveira ocupou a Praça Oswaldo Cruz, na Boa Vista, nesta quarta-feira (27)

Estado de depredação do interior do Teatro Valdemar de Oliveira - Walli Fontenele/Folha de Pernambuco

Um grupo de artistas, produtores culturais e entusiastas sensibilizados se reuniu, ontem, na Praça Oswaldo Cruz - no bairro da Soledade, área central do Recife - para reivindicar o tombamento do Teatro Valdemar de Oliveira.Organizado pelo dramaturgo Oséas Borba, o ato é uma manifestação contra o estado de abandono no qual se encontra o equipamento cultural, alvo constante de arrombamentos, roubos e depredações.  

Borba integra o Grupo João Teimoso, responsável pelo pedido de tombamento do antigo Nosso Teatro, junto à Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e ao Movimento Guerrilha Cultural, em dezembro de 2022.

"Nosso interesse é manter a memória de Valdemar e do teatro viva", destacou o produtor cultural em conversa com a Folha de Pernambuco. "No pedido, a gente colocava que o espaço deveria passar a ser chamado de Nosso Teatro Valdemar de Oliveira. Então, esse é o nosso teatro. Vamos reabrir o nosso teatro".

Fundação na década de 1970
Fundado em 1971 pelo médico e teatrólogo Valdemar de Oliveira, a casa de espetáculos possui um valor afetivo e social para a comunidade artística e cívica de Pernambuco, sendo palco de grandes sucessos internacionais e produções de teor progressista e revolucionário, durante décadas. 

Segundo o ator Jorge Féo, os cursos ofertados pelo Teatro Valdemar de Oliveira foram fundamentais para o início de sua jornada artística. Ao ser perguntado sobre o quantitativo de produtores culturais ao seu redor, o ator revelou ter trabalhado com a maioria, e acrescentou ainda: "As pessoas que abraçam esse teatro não são somente da classe teatral. A sociedade como um todo passou por esse teatro, desde estudantes das escolas públicas até das mais caras dessa cidade."

Atualmente, o Teatro Valdemar de Oliveira pertence ao Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), coletivo formado pelos herdeiros de Valdemar e outros associados. Em meio a pandemia, o processo de assolação do edifício progrediu exponencialmente, alcançando sua máxima nos últimos meses. As instaurações do teatro foram reduzidas a destroços e resíduos, a fachada vandalizada, e parte da estrutura, como o teto, as paredes e as escadas, destruída.

Para o professor de geografia, Fábio Soares, a manifestação demonstra como o Teatro Valdemar de Oliveira, na verdade, não está "tão abandonado assim". Ao falar sobre sua relação com o espaço cultural, o professor revisitou as peças que o transformaram quando criança. "Dói no coração ver o teatro dessa forma", desabafa.

Processo de tombamento
No último dia 22, foi publicada, no Diário Oficial do Estado, o deferimento da abertura do processo de tombamento do Teatro Valdemar de Oliveira pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).  Até a conclusão do processo, o imóvel tem as mesmas prerrogativas de bem efetivamente tombado, a não ser que os proprietários sejam contrários à medida e solicitem o seu cancelamento. 

Em uma nota publicada na última terça-feira, o TAP assumiu uma posição contrária ao movimento pelo tombamento do teatro, alegando um 'ônus burocrático capaz de retardar a restauração efetiva do equipamento cultural". 

Em pronunciamento oficial, a Secretaria Estadual de Cultura (Secult) e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) revelaram que o pedido de tombamento do equipamento cultural não havia sido recusado e, que, após a publicação do edital, o TAP terá 30 (trinta) dias para entrar com uma solicitação de impugnação do tombamento.