Noivo chora em enterro coletivo após incêndio em casamento deixar mais de 100 mortos no Iraque
Fogos de artifício teriam provocado as chamas, que fizeram com que parte do teto desabasse devido ao 'uso de materiais de construção altamente inflamáveis e baratos'
O noivo do casamento cuja festa foi interrompida por um incêndio, no Iraque, participou de um enterro coletivo de vítimas da tragédia. Identificado apenas como Revan, o homem foi visto em prantos, sendo amparado por parentes e colegas em meio à despedida.
Ele e a noiva, Haneen, chegaram a ser hospitalizados, mas sobreviveram ao incidente, que deixou mais de 100 mortos e está sob investigação das autoridades locais. Segundo a mídia local, Revan e Haneen estão numa situação psicológica "terrível".
Mais de 100 pessoas morreram e outras 150 ficaram feridas no episódio, ocorrido na noite de terça-feira. Os enterros coletivos começaram na tarde desta quarta-feira, menos de 24h após a tragédia, e seguem nesta quinta. Nove pessoas foram detidas por envolvimento na tragédia, segundo um porta-voz do Ministério do Interior.
Inicialmente, havia circulado a informação de que o casal morrera por conta do fogo. Agentes da defesa civil iraquiana, no entanto, afirmaram ao canal britânico BBC que os noivos sobreviveram. A informação também foi confirmada a emissora CNN pelo pai da noiva.
— Responsabilizo o dono do salão pelo ocorrido na festa porque não há extintores nem medidas de segurança — disse o homem, que não teve o nome revelado.
Uma foto que circula pelas redes sociais mostra o que seria a última foto do casal de noivos antes da tragédia.
Em nota, a Defesa Civil local afirmou que "informações preliminares indicam o uso de fogos de artifício durante o casamento, o que provocou um incêndio". As autoridades detectaram a presença de painéis pré-fabricados "inflamáveis e em desacordo com as normas de segurança” na sala de festas onde aconteceu a tragédia.
'Não sabíamos como sair'
As chamas provocaram o “desabamento de partes do teto” devido ao uso de materiais de construção “altamente inflamáveis e baratos”. O perigo foi agravado pelas “emissões de gases tóxicos vinculadas à combustão dos painéis”. Rania Waad, de 17 anos, contou que havia “muitos convidados”, e que os presentes “não conseguiram ver nada”.
— [Os recém-casados] dançavam quando os fogos de artifício começaram a subir até o teto. Todo o salão pegou fogo. Não conseguimos ver nada, não sabíamos como sair — declarou.
No salão destruído, era possível observar cadeiras de metal e destroços empilhados.
No principal hospital de Qaraqosh, a pequena cidade cristã onde ocorreu a tragédia, um fotógrafo da AFP testemunhou diversas ambulâncias chegando com as sirenes ligadas no meio da noite. Dezenas de pessoas se reuniram no pátio do centro médico, incluindo familiares das vítimas e voluntários dispostos a doar sangue.
Qaraqosh, também conhecida como Bajdida ou Al-Hamdaniya, está localizada na província de Nínive, ao norte do Iraque. Autoridades sanitárias registraram 100 mortes e mais de 150 feridos, informou a agência de notícias “INA” em “balanço preliminar”. Porta-voz do Ministério da Saúde, Saif-al-Badr confirmou esses números à AFP.
— A maioria dos feridos sofreu queimaduras e asfixia — disse ele, antes de citar que o incêndio também provocou um grande tumulto entre os convidados do casamento. Após o incidente, uma multidão reuniu-se diante das portas abertas de um caminhão frigorífico que transportava várias sacolas mortuárias.
O Crescente Vermelho iraquiano informou que registrou mais de 450 vítimas, mas não explicou quantas morreram na tragédia.
Nove detidos
Em comunicado, o primeiro-ministro Mohammed Shia al-Sudani convocou as autoridades sanitárias e do Ministério do Interior a “mobilizar todos os esforços de resgate” para auxiliar as vítimas. O Ministério da Saúde anunciou o “envio de caminhões de ajuda médica” de Bagdá e outras províncias do país, e garantiu que suas equipes estavam dedicadas a “tratar os feridos”.
Saad Maan, porta-voz do Ministério do Interior, informou à AFP que nove pessoas foram detidas e “quatro ordens de prisão foram emitidas contra os donos do salão de festas”. O respeito às normas de segurança no Iraque é frágil, tanto no setor da construção quanto na área de transportes. Com infraestruturas deterioradas após décadas de conflito, o país é regularmente palco de incêndios e acidentes fatais.
Em julho de 2021, um incêndio em uma unidade de saúde resultou na morte de 60 pessoas. Meses antes, em abril do mesmo ano, uma explosão de cilindros de oxigênio provocou outro incêndio em um hospital de Bagdá dedicado ao tratamento da Covid-19. Na ocasião, mais de 80 pessoas morreram.