MÉTODOS

Leitura física e digital: entenda as diferenças no processo de aprendizado

Os métodos de leitura guardam particularidades quanto às modalidades física e digital. Especialistas destacam o uso equilibrado entre as plataformas

Cultivar a leitura, seja digital ou impressa, é ponto de convergência entre especialistas - Freepik/Divulgação

Os voos que a educação permite podem ter alcances potencializados por meio da leitura, uma ferramenta divisora de águas quando se trata de adquirir conhecimentos e perpetuar o aprendizado. Mas, em tempos de tecnologia na rotina diária, cabe a pergunta: há diferença entre a leitura física e digital?

Ou seja, o que se pode avaliar, em termos educacionais, entre folhear um livro e acessar digitalmente uma publicação? Para a professora e neurocientista pedagógica e clínica Regiane Melo, “a leitura física tende a promover maior compreensão, retenção de informações e memorização”.

Mas ela também defende a leitura digital como forma de ampliar o acesso a informações e a variedades de materiais. “Alguns estudos em neurociência recomendam buscar um equilíbrio entre a leitura digital e a leitura física”, disse a professora.

"A digital oferece benefícios como acesso a uma ampla variedade de materiais, facilidade de transporte e recursos interativos. No entanto, a leitura física também possui vantagens, como a sensação tátil do livro, a possibilidade de marcar páginas e a menor exposição à luz azul dos dispositivos eletrônicos, que podem afetar o sono e a saúde ocular”, afirmou.
 

Neurocientista pedagógica Regiane Melo  | Foto: Alexandre Aroeira/Folha de Pernambuco

Ela também citou particularidades entre os métodos de leitura e suas aplicabilidades. São elas:

- A leitura física tende a promover maior compreensão, retenção de informações e memorização, pois envolve uma interação mais profunda com o texto;
- A leitura física pode ser reservada para obras mais extensas e complexas;
- A leitura digital pode ser mais eficiente em termos de busca rápida por informações específicas ou para leitura rápida de artigos e pesquisas.

Apesar disso, Regiane Melo se baseou na neurociência para assegurar que não há comprovação científica de que um método se coloque como superior ao outro no que diz respeito aos caminhos da educação. 

“A neurociência não aponta modelo específico como o melhor para a assimilação do conteúdo. Isso pode variar de acordo com cada indivíduo e suas preferências, habilidades cognitivas e experiências pessoais”, garante.
 

Cuidados com as telas é importante

Em contraponto, a professora também ressaltou o prejuízo que o uso constante de telas traz à saúde, dando dicas para evitar algum tipo de problema.

“Não há consenso sobre o que é mais prejudicial, mas estudos apontam que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode afetar níveis de sono, atenção e bem-estar geral, vícios, alteração de humor e ansiedade. É recomendado limitar o tempo de exposição às telas e fazer pausas regulares durante a leitura digital”, exemplificou.

Entre a demanda do seu trabalho como coordenadora de conteúdo, Joyce Rodrigues Viana, de 30 anos, experimenta a vivência de um tempo dedicado apenas à leitura, no qual aprende sobre os mais diversos assuntos.

A forma como vem o aprendizado é dividida, diz ela. Joyce exalta o digital pela praticidade, e o físico, pelo afeto. “Atualmente, consumo mais o formato digital, mas apesar de adorar a praticidade dele, sempre acabo comprando as edições físicas dos meus livros favoritos para guardar, reler e marcar trechos de uma forma mais fácil de revisitar”, confessa.

Como Joyce, a museóloga Mariana Clara de Brito Araújo, de 32 anos, está entre as pessoas que carregam, com o passar dos anos, o vínculo com a leitura. Ela garante que lê pelo menos dois livros a cada mês. 

Em casa, Mariana opta por “viajar” na leitura de forma virtual, por meio do e-reader, um leitor para livros digitais. Nas demandas externas, ela carrega livros físicos.

Ando com um livro na bolsa pra ler no ônibus e marcar. Em casa, leio bem mais no ebook. Gosto da praticidade dele, além da visão confortável, já que normalmente em casa eu leio mais à noite. Mas confesso que o livro físico me ‘pega’ mais, porque gosto de folhear, marcar e usar marcadores”, ressalta.

A explicação para isso passa por acreditar numa experiência melhor, que possibilita mais absorção do conteúdo apresentado. “Por toda parte sensorial, principalmente”, justifica.

Hábito em família, hábito para a vida

Autor da coluna Papo de Primeira na Folha de Pernambuco, Rogério Morais, de 38 anos, que também é administrador e sócio da Newmark Educação Corporativa, é mais um a incluir a leitura como hábito na sua vida, alimentando a meta de desfrutar de ao menos uma obra nova a cada 30 dias.
 

Rogério Morais: protagonismo da leitura na rotina | Foto: Ed Machado/Arquivo Folha


As suas preferências passam pelos seus diferentes campos de atuação. “Tenho o hábito de leitura. Atualmente, leio pelo menos um livro por mês. Gosto mais de livros técnicos de políticas públicas, educação e primeira infância. Além disso, gosto de ler jornal. Sempre gostei do físico, mas também leio os digitais”, afirma.

Morais foi secretário executivo de Gestão Pedagógica e ex-conselheiro municipal de Educação de 2013 a 2019, além de secretário executivo para a Primeira Infância do Recife de 2019 a 2020. No ano seguinte, participou da diretoria do projeto Primeira Infância, Plantar Amor (PIPA).

No lado pessoal a leitura também é protagonista. Unindo o que há de positivo nos dois universos, Morais faz paralelos com outras formas de aprendizado e espera deixar essa herança viva na sua filha Joana, de apenas três anos, com quem compartilha histórias.

“Para mim, é como teatro e novela, ou ir ao campo ou assistir o evento esportivo na TV. São experiências diferentes. Hoje tenho o hábito de ler e contar histórias para minha filha”, concluiu.

Experiências física e digital são conectadas

A leitura física, na visão da professora Amanda Rocha Carneiro da Cunha, de 36 anos, perdeu a exclusividade no aprendizado com o passar do tempo e o aumento do alcance das plataformas multimídias.

Entretanto, afirma, ainda permanece sendo a base mais consistente no quesito aprendizado. Na sala de aula, Amanda ensina as disciplinas de língua portuguesa, produção textual e espanhol.

“Nós não podemos mais afirmar radicalmente que a leitura seja a única fonte de conhecimento e também de crescimento na área da educação, porém, ela ainda detém as mais complexas literaturas e apresenta as bases das mais diversas áreas. Aquele que quer ir a fundo no estudo, não poderá ficar só nos vídeos e áudios”, disse.
 

Amanda: ler desenvolve habilidades na escrita | Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco


A organização e o preparo na hora de se debruçar sobre a leitura são os “ingredientes” indispensáveis para a receita de quem busca cultivar a leitura ao longo da vida. Para Amanda, essa semente deve ser regada antes mesmo dos primeiros passos de uma criança.

“A leitura quando é realizada de forma bem feita, selecionada e organizada, irá trazer frutos incontestáveis para a pessoa. A combinação dessa leitura incansável às atualizações dos outros gêneros será incrível para um bom estudante. O hábito da leitura deve ser cultivado desde o berço”, afirmou, antes de elencar os benefícios que a ação pode trazer para o bem-estar, inclusive no âmbito mental.

“A pessoa que lê tem mais habilidade na escrita, consegue estimular mais o cérebro, a sua criatividade, e ainda o seu pensamento crítico. Ler regula até mesmo o lado emocional e melhora a concentração. São muitas as vantagens”, explicou.

Educadora dá dicas para uma boa leitura

Experiência em sala de aula foi o que fez com que a docente avaliasse, de forma prática, o que funciona ou não na hora da leitura.

“É preciso manter uma boa postura, nunca ler até ficar exausto, não fazer outra atividade simultânea, ler sobre o livro antes e nunca pular os parágrafos”, listou.“Há quem ache que, para ler de forma mais rápida, pular os trechos não vai atrapalhar, mas essa é, sem dúvida, uma péssima ideia”, alertou Amanda.

Substituindo a bata branca da professora em sala de aula pelo colo colorido da mãe dentro de casa, Amanda continua ensinando e fazendo a sua parte, também pessoalmente, na hora de plantar a semente da leitura no berço, com seu filho Rodrigo, de um ano, fruto do casamento com o desenvolvedor Luís Fernando de Espíndola Castro, 35.

Orgulhosa, a mãe relata que desde os oito meses de vida ela e o companheiro recebem livros infantis das mãos do filho, como um pedido para leitura.

“Ele adora livros, e traz para a gente ler, nos entrega”. O orgulho também é o sentimento compartilhado pelo pai. “É muito divertido e emocionante vê-lo se interessar pelo passar das páginas e das cores, e entender que há algo ali para ser compreendido”, festeja.