NÁUTICO

Em reunião da oposição do Náutico, episódio de importunação sexual é alvo de deboche

No encontro, Alexandre Pitt disse que não iria discutir com Tatiana Roma, com receio de ser "denunciado por assédio"

"Como eu posso falar de projeto de futebol feminino, de introdução da mulher no clube, de tudo isso, se estão com ironia sobre o meu caso?", questiona Tatiana Roma - Arthur de Souza/Folha de Pernambuco

Em meio a uma reunião entre membros da oposição do Náutico, realizada nessa quinta-feira (28) para debater questões políticas do clube, ganhou destaque o episódio de importunação sexual registrado junto à polícia pela ex-diretora do Timbu Tatiana Roma, contra Errisson Melo, ex-funcionário do Náutico e irmão de Edno Melo, ex-mandatário alvirrubro. No entanto, o tom escolhido por Alexandre Pitt para tratar do tema foi deboche.

 Ao discordar de Tatiana sobre manter vínculo com integrantes da atual gestão do clube, o homem teria dito que interromperia sua fala para que não fosse acusado por ela de assédio. Minutos antes, ele teria tapado os ouvidos para não escutá-la.

“A reunião estava transcorrendo bem, na medida do normal, e teve um momento que começou uma certa discussão. Falei que tinha falado com algumas pessoas da situação, porque queria entender como estava o clube, quais eram os patrocínios, os que iriam ficar, enfim, queria entender sobre a SAF, se estava perto de sair, até que uma pessoa rebateu dizendo que achava que não deveria falar com ninguém da situação. Eu, obviamente, discordei dele, porque acho que não existe isso, para você lidar com o público, você tem que lidar com todo mundo e ele levou as mãos para o ouvido, como se estivesse tapando e disse que não ia discutir comigo porque eu ia denunciar ele de assédio”, disse Tatiana, em entrevista à Folha de Pernambuco nesta sexta-feira (29).

Ela revelou ainda que Bruno Becker, atualmente um dos nomes da oposição do clube, tentou interromper a reunião após o acontecimento. Mas ela decidiu por se retirar da reunião. E, como consequência, também dos bastidores políticos do Náutico.

“Na mesma hora, Bruno (Becker) pediu para parar a reunião, disse que não admitia aquilo. Eu fiquei transtornada, pedi desculpas, levantei e saí da reunião. Não quero mais lidar com esse tipo de gente”, afirmou.

Com o caso voltando à tona, Tatiana conta que alguns “gatilhos” mentais sobre o que aconteceu com ela também retornaram. E relembra de quando a denúncia foi minimizada no passado com o argumento de ser uma estratégia política.

“Apanhei muito em 2021, e foi uma ferida muito aberta. Eu apanhei de todos os lados, fui acusada de ser questão política, e agora, ironicamente, dois anos depois, a oposição me acusa de ser questão política. A maior prova de que não é político hoje é que já aconteceu com os dois lados e que é uma questão muito acima de política, muito acima do Náutico, inclusive”, afirmou.

Levantando questionamentos, Tatiana se viu “desnorteada” e sem respaldo para “levantar a bandeira” feminina no meio do futebol, ainda marcado por diferentes formas de machismo.

“Eu demorei muito até fazer a denúncia, inclusive, porque eu não sabia o que estava acontecendo comigo, eu demorei muito até entender. E eu não vou cometer esse erro de novo, eu não vou cometer o mesmo erro de demorar o que eu demorei em 2021 para tomar uma decisão. Como eu posso falar de projeto de futebol feminino, de introdução da mulher no clube, de tudo isso, se estão com ironia sobre o meu caso?”, perguntou.

Sinônimo de amor em duas cores, o Náutico hoje é símbolo de dor na vida de Tatiana, que entre o sentimento e os cuidados consigo, escolheu o segundo.

“Hoje o Náutico me faz mal, então preciso de um tempo afastada do clube para entender qual será a minha relação com o clube daqui para frente. Eu tive crises de ansiedade de ontem para hoje, não consegui dormir, tive que tomar remédio. Tudo o que eu vivi há dois anos, eu estou vivendo de novo. Eu não quero continuar vivendo isso. As últimas 24 horas foram muito difíceis, muito pesadas. Eu não posso continuar passando por isso, eu tenho que me cuidar primeiro e cuidar da minha saúde mental”, projetou.

A reportagem da Folha de Pernambuco entrou em contato com Alexandre Pitt, perguntando sua versão do caso, mas foi ignorada.