Disputa comercial, guerra de gangues, vingança: o que falta saber sobre o assassinato de Tupac
Polícia investiga se motivação do crime teria sido uma briga entre o rapper e o sobrinho de Duane 'Keffe D'Davis, principal suspeito do crime, preso na sexta-feira (29)
As circunstâncias de morte do rapper Tupac Shakur, em setembro de 1996, ainda permanecem obscuras. Seis meses após seu assassinato, seu principal rival, o rapper da costa leste americana Christopher Wallace, mais conhecido como “The Notorious BIG”, também foi morto a tiros. Muitos acreditam que Tupac e The Notorious BIG foram assassinados como parte de uma rivalidade entre suas gravadoras, a Death Row, com sede em Los Angeles, e a Bad Boy Entertainment, de Nova York. Para alguns historiadores da música, as hostilidades entre os dois foram exacerbadas por razões comerciais.
No entanto, na última sexta-feira (29), a polícia americana prendeu Duane "Keffe D" Davis, e o apontou como principal suspeito — e único vivo — do crime. A motivação do crime, segundo as autoridades, pode ter sido uma briga entre o rapper e Orlando Anderson, sobrinho de Davis, em 7 de setembro de 1996, no MGM Grand Garden. O rapper havia acabado de assistir uma luta de Mike Tyson na arena do hotel, quando, acompanhado do amigo Marion “Suge” Knight, espancou o sobrinho de Davis.
Logo depois, segundo a polícia, Davis teria tomado conhecimento das agressões a Anderson e bolou rapidamente um plano de vingança. Segundo a rede CBS, investigadores apontam que era o sobrinho do suspeito que o acompanhava, além de Terrance Brown e Deandre Smith, dentro do Cadillac branco de onde vieram os disparos que atingiram o rapper. Tupac morreu seis dias depois, em 13 de setembro de 1996.
Irmãos cobram investigação
Os irmãos de Tupac Shakur celebraram a prisão de Davis. Mopreme Shakur considerou "bom" que alguém, enfim, esteja respondendo pelo crime. Ele ponderou ao site "TMZ" que a prisão do suspeito "traz de volta o trauma do assassinato" e não significa que foi feita justiça. Mopreme destacou esperar que a investigação continue para identificar possíveis cúmplices e esclarecer a motivação do caso.
No início do mês, Mopreme colocou em dúvida a investigação policial depois que um mandado de busca foi expedido em relação ao caso. O irmão de Tupac disse estar surpreso com a prisão. Já a irmã de Tupac, Sekyiwa “Set”, disse ao TMZ, em comunicado, que este é um "momento crucial" no esclarecimento da morte do rapper.
"É importante para mim que o mundo, o país, o sistema de justiça e nosso povo reconheçam a gravidade do falecimento deste homem, meu irmão, filho de minha mãe, filho de meu pai. Sua vida e morte são importantes e não devem ficar sem solução ou sem reconhecimento", disse ela. "Houve várias mãos envolvidas e ainda há muita coisa em torno da vida e da morte de meu irmão Tupac e de nossa família Shakur, em geral. Estamos buscando justiça real, em todas as frentes".
Shakur, o artista de Hip-Hop que mais fez sucesso até hoje, com 75 milhões de discos vendidos e autor de sucessos como "California Love", foi morto a tiros quando estava em um carro em Las Vegas, em setembro de 1996.
Embora breve, sua carreira deslanchou rapidamente, passando de dançarino coadjuvante a autoproclamado "gangsta rapper" e uma das figuras mais influentes do Hip-Hop. Nascido em Nova York, ainda na adolescência mudou-se com a família para a Califórnia, onde se tornou uma das figuras mais importantes do cenário musical da costa oeste.
Batizado em homenagem ao líder revolucionário inca Tupac Amaru por sua mãe - uma integrante ativa do movimento dos Panteras Negras -, Shakur abordava em suas letras as dificuldades dos afro-americanos nos Estados Unidos, que enfrentavam desde a brutalidade policial até as detenções em massa.
Quem é Duane 'Keffe D' Davis?
Nascido em Watts, na Califórnia, Duane “Keffe D” Davis era líder da South Side Compton Crips. Em 2019, chegou a lançar um livro com memórias sobre sua trajetória no mundo das gangues. Segundo a polícia americana, ele ainda estava à frente do grupo quando planejou o ataque a Tupac Shakur, crime do qual é apontado como principal suspeito.
Em seu livro, Davis relata ter se mudado com a família, na década de 1960, para um bairro de classe média voltado à população negra, em Compton. Com 12 irmãos, perdeu a mãe em 1980, aos 15 anos, em decorrência de um câncer. Também perdeu dois irmãos — um de câncer, e outro baleado nas ruas da cidade, segundo autobiografia citada pela rede CBS.
Na juventude, foi apresentado à venda de drogas e gostou do rápido retorno financeiro que conseguia. Preso por tráfico de 1985 a 1989, Davis relatou, em seu livro, que o tempo na prisão fez dele um “gângster endurecido”, em vez de reabilitá-lo.