Banco Central

Campos Neto fala sobre reunião com Lula e faz comparação com Bolsonaro em entrevista a Bial

Indicado pelo ex-presidente, Campos Neto teve a primeira conversa com petista na semana passada

Entrevista com Roberto Campos Neto - divulgação

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, deu detalhes sobre o encontro que teve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada. No programa Conversa com Bial, da TV Globo, veiculado na madrugada desta terça-feira, ele também fez uma comparação da conversa com Lula com as reuniões que mantinha com Bolsonaro.

A conversa de 1 hora e meia foi a primeira dele com Lula neste ano, após um período de críticas do presidente e aliados políticos à atuação do BC. Anteriormente, houve um encontro no fim de 2022, período de transição de governo. Campos Neto foi questionado diretamente sobre quem ele teve maior facilidade de ter uma conversa.

— O Lula gasta mais tempo prestando atenção no que você fala. Ele dedica mais tempo, tem mais paciência para as conversas. Bolsonaro era mais rápido. Eu sempre sabia que quando tinha uma conversa com Bolsonaro, eu tinha três minutos para falar alguma coisa. Depois dos três minutos, ficaria mais difícil, porque ele ficava mais disperso — afirmou.

A avaliação foi vista como “diplomática” pelo apresentador Pedro Bial, que a classificou como “elogiosa” ao presidente Lula e “nem tão elogiosa” a Bolsonaro. O chefe da autarquia monetária respondeu fazendo menção à autonomia da instituição defendida pelo governo anterior e disse que não era “tão próximo” de Bolsonaro.

— Bolsonaro sempre me deu toda liberdade, nunca tive nenhum problema. Nunca ligou pra reclamar de nada. Nunca interferiu em nada, zero. A gente, às vezes, escuta muito “ah, presidente autoritário”. Eu não era tão próximo, mas no que tangia ao meu trabalho, eu sempre tive liberdade total — disse.

Campos Neto assumiu a chefia do Banco Central em 2019 e, dois anos depois, a autonomia operacional da instituição foi regulamentada. Ele fica até 31 de dezembro de 2024.

Na prática, a autonomia deu mandatos de quatro anos, sem interferência política, ao presidente e às oito diretorias da casa. A condução da política monetária, e, portanto, do rumo da taxa de juros, é direcionada unicamente pelo BC, que persegue uma meta de inflação estabelecida pelo governo.

Na entrevista, Campos Neto disse que só aceitou o cargo porque teria combinado previamente que teria uma atuação sem interferência.

Ainda sobre a segunda conversa com Lula, ele detalhou que "ouviu mais do que falou", diferentemente do primeiro encontro. Por enquanto, não há um novo encontro agendado com Lula.

Inflação
O presidente do BC também avaliou que a inflação está indo para o caminho “correto” e reforçou que o Comitê de Política Monetária (Copom) está com a lupa para os núcleos de inflação, que retiram itens voláteis (como energia e alimentos) para verificar a trajetória do índice de preços de forma mais estrutural.

Roberto Campos Neto também comentou que sua atuação no BC busca um “modelo de gestão mais descentralizado” e diz que quando chegou na instituição encontrou um ambiente “muito hierarquizado”.

Outro tema tratado foi a relação com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, classificada como “muito boa".

— Acho que é um governo que, por construção, tem pessoas que pensam de forma diferente que estão tentando chegar em um lugar comum: melhorar a vida dos brasileiros. Obviamente não vamos pensar igual em tudo, mas estamos bem alinhados. E, na verdade, sempre estivemos bem alinhados — diz, sobre Haddad, pontuando que “ruídos” no início do ano e que “várias pessoas” ajudaram a construir essa ponte com o ministro.

Gabriel Galípolo, agora diretor de política monetária, é tido como uma dessas pessoas.