DIREITOS HUMANOS

Conselho Nacional visita Hospital da Mirueira para discutir apoio às famílias de isolados

Hospital tem forte histórico no isolamento e tratamento da hanseníase

Reunião com o Ministério dos Direitos Humanos no Hospital da Mirueira - Walli Fontenele/Folha de Pernambuco

Uma equipe do Conselho Nacional dos Direitos Humanos visitou, na manhã desta terça-feira (3), o Hospital Geral da Mirueira, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife (RMR). A unidade hospitalar completou 82 anos em agosto e tem forte ligação com a história dos hansenianos em Pernambuco. 

O objetivo do encontro, que acontece a pedido do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), é a discussão sobre levantamento de subsídios, em colaboração entre os ministérios da Saúde e dos Direitos Humanos e Cidadania, para auxiliar as famílias de pessoas que passaram por isolamento devido à doença.

Outras pautas da reunião foram:

Apresentação do plano para a audiência pública de filhos separados pela
hanseníase.
Debate sobre como dar voz às vítimas e suas famílias, promovendo reconciliação e memória.
Preservação do Patrimônio Histórico e da Memória
Apresentação sobre o valor histórico da unidade de isolamento e seus
edifícios.
Discussão sobre maneiras de preservar o patrimônio e promover a conscientização pública sobre a história da hanseníase.

O diretor geral do HGM, doutor José Carlos, conversou com a reportagem da Folha de Pernambuco. A instituição é sustentada por um cofinanciamento entre o Governo de Pernambuco e o Governo Federal. Ele afirmou que uma das demandas da unidade hospitalar é por mais segurança.

"Estamos pleiteando com a Secretaria de Saúde alguns assuntos, um deles é a construção de um novo muro, porque precisamos de mais segurança. Queremos também melhorar o setor de imagens. Temos o raio-x e ultrassonografia, mas queríamos ter, pelo menos, uma tomografia. Estamos quase conseguindo um neurologista que trabalha com eletroneuromiografia. Já conseguimos a máquina por meio de doação", diz.

O HGM conta com estrutura de micro-cidade, fundado em 1941, para atender às recomendações do Serviço de Provilaxia da Hanseníase, que à época era denominada lepra. O local é projetado com ruas, templo religioso, escola, área de lazer, além dos complexos médicos necessários. Esse complexo tinha exatamente o objetivo de minimizar o sofrimento dos pacientes que eram isolados.

Durante o período em que vigorou o isolamento compulsório, os internos da Mirueira lutaram contra a exclusão e o determinismo que os condenava ao fim. Dentro desse espaço, muitos tiveram que reformular suas vidas. A política de isolamento deixou de existir em 31 de dezembro de 1986.

Hoje a unidade de saúde também atende pacientes alcoólatras e com doenças contagiosas, como, por exemplo, H1N1 e tuberculose. Possui ambulatório aberto à comunidade, atendendo nas especialidades de clínica médica, pediatria, dermatologia, cardiologia, cirurgia vascular, odontologia, pediatria e ginecologia.

O local também tem um núcleo de reabilitação psicossocial, onde há sessões de fisioterapia, psicologia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. O hospital ainda conta com serviço de imagem, como ultrassom e raio-X.

O presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos, André Carneiro Leão, confessa a preocupação da equipe com a situação de preservação da memória dos locais que serviram como antigas colônias para receber pessoas atingidas pela hanseníase.

"Tivemos notícia de que em diversos lugares do País, essas ex-colônias estão sendo absolutamente destruídas e com isso estamos perdendo a memória de um período trágico da história do Brasil, que foi justamente o momento que obrigou essas pessoas a viverem de forma isolada, sendo retiradas de suas famílias, dos convívios com os filhos", disse ele.

"A primeira grave violação dos direitos humanos era a separação das famílias e o isolamento dessas pessoas, e agora está acontecendo segunda violação, que é justamente a destruição dessa memória. Então, o CNDH vem aqui ao Hospital do Mirueira, considerando que esse é um espaço que também serviu como colônia anteriormente e que está preservado. Então, para que não aconteça o que está ocorrendo no restante do País, nós queremos aprender um pouco como é essa preservação aqui no HGM e levar essa boa prática também para os outros locais", complementou.

Outra intenção do Conselho em visitar a unidade hospitalar foi ouvir quem sentiu a dor da segregação na pele.

"Queremos também ouvir os filhos separados, porque essa é uma outra parte da história que não tem sido contada ou que não tem sido reparada de forma adequada. O Estado brasileiro já reconheceu o direito à indenização daquelas pessoas que foram internadas compulsoriamente, mas não atendeu ainda. Do nosso ponto de vista, eles têm direito a uma justa indenização."

Entenda a doença 
A hanseníase é uma doença causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, que foi descoberto em 1873, pelo médico Amaneur Hansen, na Noruega. A doença tem cura, e o tratamento é um direito e está disponível em todas as unidades de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS).

Contagiosa, a hanseníase é transmitida de um bacilo que passa de uma pessoa doente, que não esteja em tratamento, para outra pessoa; demora de dois a cinco anos, em geral, para aparecerem os primeiros sintomas; apresenta sinais e sintomas dermatológicos e neurológicos que facilitam o diagnóstico; pode atingir homens e mulheres, adultos e crianças, de todas as classes sociais; instala-aw principalmente nos nervos da pele; pode causar incapacidades/deformidades, quando não tratada ou tratada tardiamente.