INOVAÇÃO

Casa Zero realiza um trabalho de educação e transformação com geração de renda e empreendedorismo

A Casa Zero funciona no Bairro do Recife e atua com o conceito de transformação de territórios, criando oportunidades no seu entorno

Idealizada pelo empreendedor social Fábio Silva, a Casa Zero completou um ano de atividades - Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

A educação pode ser um dos principais agentes de transformação social quando é conduzida de forma a promover a autonomia e o empoderamento das pessoas.

Isso passa, por exemplo, por identificar e estimular as potencialidades dos indivíduos e/ou grupos sociais, apresentar-lhes rotas de desenvolvimento dessas potencialidades e conectá-los ao ambiente ou contexto em que se efetivará a aplicação dos conhecimentos que adquiriu.

Tudo isso sendo conduzido sob o norte da cidadania, do protagonismo, em um ambiente de aprendizado acolhedor, e da atuação em rede - que envolve um complexo de atores que operam para que essa transformação possa acontecer.

Quem tem apostado nesse modelo é a Rede Muda Mundo, por meio de uma de suas iniciativas: a Casa Zero, projeto que completou em setembro um ano de existência – foi inaugurada em 15 de setembro de 2022.
 

A Casa Zero reúne agentes públicos e privados | Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco


Durante seus primeiros 12 meses, a Casa Zero se consolidou como um projeto transformador de territórios assentado em seis pilares: empreendedorismo social, educação, cultura, inovação, impacto social e engajamento cívico (voluntariado).

A Casa Zero é capitaneada pelo empreendedor social Fábio Silva, founder e CEO da Rede Muda Mundo, que agrega outras iniciativas:

o Novo Jeito (mobilizadora de ações sociais e emergenciais, com foco no voluntariado como forma de fazer o bem), Transforma (plataforma social tech, que conecta voluntários a quem precisa de ajuda), Porto Social (incubadora e aceleradora de iniciativas sociais e capacitadora de líderes sociais) e Fábrica do Bem (iniciativa socioemocional, que trabalha no bem estar, autocuidado e saúde mental de líderes sociais e corporativos).

Considerada o primeiro shopping sociocultural do Brasil, a Casa Zero ocupa dois imóveis na rua do Bom Jesus, Bairro do Recife.

São quatro andares e quase 3.000 m2, onde se distribuem salas de aula, auditório, biblioteca, coworking, sala de inovação, estúdios, loja.

É um ecossistema social que reúne sociedade civil, poder público, iniciativas sociais e empresas – atualmente, cerca de 70 delas apoiam e patrocinam a iniciativa, que tem procurado promover a transformação social na comunidade do Pilar e em outras oito no seu entorno.

“A Casa Zero é esse lugar de educação, qualificação, mas que tem como finalidade a geração de renda dessas famílias e diminuição da desigualdade social, a partir desse território do Pilar e dessas oito comunidades”, diz Fábio Silva.

A ideia, segundo o empreendedor social, é oportunizar às pessoas dessas comunidades o acesso gratuito à capacitação e qualificação em diversas áreas, de modo a conectá-las às empresas que compõem o ecossistema, inserindo-as no mercado de trabalho, ou a incentivá-las a desenvolverem seus próprios empreendimentos.

“Vamos atuar com as pessoas oriundas dessas comunidades, para que elas sejam qualificadas dentro da Casa Zero e sejam conectadas ao mercado de trabalho de uma dessas 70 empresas”, explica Fábio.

“À medida que analisamos essas oito comunidades, começamos a perceber quais deveriam ser os cursos e as qualificações que teriam na Casa Zero, plugadas com o mercado de trabalho”, continua. “A Casa Zero se tornou um plug-and-play dessas comunidades do entorno e todas essas 70 empresas.”

Ao longo desses 12 meses, 1.400 pessoas foram qualificadas dentro dos programas do projeto. Em torno de 300 foram alçadas a um novo patamar de geração de renda, seja através da conquista de um emprego com carteira assinada ou do empreendedorismo - abrindo um MEI, por exemplo, para possibilitar o desenvolvimento do seu negócio ou oferecimento do seu serviço profissional.

Pirâmide social

“Sempre disseram assim: ‘quando tivermos educação, vamos mudar esse país’. Mas que educação? da matemática, do português, da geografia, da ciência? Ou a educação de tudo isso, mas também imputada nisso tudo a educação da liderança servidora, do atuar na escassez, do ter relacionamento com sua comunidade, do partilhar, do dividir, de entender que o que acontece comigo aqui influencia diretamente na vida do outro?”, questiona Fábio Silva, ao explicar que existem formas diferentes de atuar com a educação nos diferentes estratos e grupos sociais, de modo a promover uma “sustentabilidade humana”.

Tomando como exemplo a pirâmide social brasileira, ele pontua como é a atuação em cada parte dessa pirâmide. Na base, onde se situam as camadas de menor poder aquisitivo, a educação tem como foco a geração de oportunidade e renda.

“[É preciso] Olhar para a base como um celeiro de oportunidade, só que essa oportunidade precisa ser conduzida, plugada.” Segundo Silva, é o que propõe a Rede Muda Mundo, a partir dos programas de qualificação, capacitação, empreendedorismo, qualificação de líderes sociais e de projetos sociais, que, afirma, têm muito foco no impacto e na geração de renda.

Já no meio da pirâmide, onde está a classe média, diz Fábio Silva, a educação atua no incentivo à ação cidadã.

“Tentamos construir uma agenda cidadã para a classe média. Porque, hoje, estão produzindo o futuro profissional e um modelo de educação em que não passa pela vida desse profissional a participação cidadã”, afirma.

"Doar sangue, doar horas do seu tempo, partilhar, dividir, conhecer novos ambientes, novas comunidades. Fazendo isso você vai educando essas pessoas a como utilizar seu dinheiro. É um outro nível de necessidade da pirâmide”, explica.

No topo da pirâmide, onde está a maior concentração de renda do País, “temos ensinado a eles a filantropia, a doação financeira, o mapa real das necessidades da base. Também convidamos os seus filhos para participar desse programa de engajamento, de mobilização”.

Segundo Silva, essa é uma das missões da Casa Zero: incentivar a mobilização de todas essas esferas da sociedade para proporcionar a sustentabilidade social e econômica de toda a rede envolvida, em especial, da base da pirâmide.

Educar com acolhimento

“Entendemos que educação tem muito a ver com o jeito de fazer, o que conta muito ponto no engajamento, na participação ou na evasão escolar, das salas e oficinas”, diz Fábio Silva. Ele destaca que o nível de evasão das oficinas e cursos oferecidos na Casa Zero é próximo de zero.

“Essa educação do ‘levanta, vamos para a escola, é obrigação’, isso não existe mais”, afirma. “O senso de aprendizado, o apetite da vontade de participar está muito ligado ao jeito de como a educação é conduzida.”

O tratamento humano e a forma de acolhimento das pessoas por esse ambiente de ampliação do conhecimento para fins de transformação social é um importante diferencial, considera o empreendedor social. “O que faz uma pessoa sair de casa e vir para um espaço quando se tem tanta coisa disponível no YouTube?”, questiona.

 



“É o jeito humano”, responde. “Quando você cria essa rede de qualificação, capacitação, transformação, entendendo que você está cuidando de uma pessoa, e não de um número, de um CPF, isso gera uma rede de cuidados com ele, com a gente, com as empresas”, ensina. É um modelo de atuação que afeta a vida não só do indivíduo, mas da comunidade onde ele reside e de todos os atores dessa rede, conclui.