Presidente da Guatemala retoma turnê internacional para alertar sobre suposta tentativa de golpe
Ao menos 17 trechos de importantes rodovias do país estão bloqueados por manifestantes desde segunda-feira, que pedem renúncia de procuradora-geral
O presidente eleito na Guatemala, o social-democrata Bernardo Arévalo, visitou nesta terça-feira os Estados Unidos, onde deve se reunir com o Conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, na Casa Branca. Eleito em 20 de agosto, após derrotar nas urnas a ex-primeira-dama Sandra Torres, Arévalo reiniciou uma turnê internacional para denunciar a tentativa de um suposto golpe de Estado para impedir que ele assuma o cargo.
"Retomei a viagem aos EUA para me encontrar com atores importantes. Esta manhã participei numa reunião com [membros da] Americas Society, onde expliquei as linhas gerais do nosso plano de governo e os impactos que sua implementação terá no crescimento, na geração de empregos e no bem-estar da Guatemala", escreveu Arévalo no X, antigo Twitter, ao anunciar sua turnê pelo continente. "Também alertei para o problema que as ações do MP e de Consuelo Porras constituem para a democracia hoje".
Após visitar o México, onde conversou com o presidente Andrés Manuel López Obrador, Arévalo teve que suspender sua viagem devido a uma batida que o Ministério Público (MP) realizou na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o no último dia 29 de setembro. Na busca, com dezenas de policiais, procuradores abriram 70 urnas que continham votos do primeiro turno das eleições, em 25 de junho. A operação foi resultado da denúncia de um cidadão, mas apenas o Tribunal Superior Eleitoral estaria autorizado a realizar tal verificação.
Desde segunda-feira, grupos de manifestantes bloqueiam trechos de rodovias na Guatemala para exigir a renúncia da procuradora-geral Consuelo Porras, a quem acusam de orquestrar o golpe. Os manifestantes, em sua maioria indígenas e agricultores, mantêm bloqueados ao menos 17 trechos de importantes rodovias do país como a Interamericana, assim como as que levam à fronteira com o México, El Salvador e Honduras, segundo o órgão estatal Direção Geral de Proteção e Segurança Rodoviária.
Eles também pedem a remoção dos cargos do promotor Rafael Curruchiche e do juiz Fredy Orellana, que lideram uma campanha legal contra Arévalo, o primeiro político de esquerda a vencer no país em mais de uma década. Os três funcionários estão em uma lista de "atores corruptos" e antidemocráticos dos Estados Unidos.
O partido de Arévalo, o Movimento Semente, tornou-se alvo de investigações do Ministério Público ainda durante o pleito e foi inabilitado apenas oito dias após sua vitória. Em resposta, o presidente eleito suspendeu o processo de transição de governo.
As operações de busca na sede do tribunal eleitoral para confiscar as atas das últimas eleições, o pedido para retirar os foros dos juízes do organismo e a tentativa de suspender o partido de Arévalo,causaram preocupação na comunidade internacional. Na segunda-feira, os EUA afirmaram que "continuarão usando todas as ferramentas disponíveis contra aqueles que agirem para minar a democracia e o estado de direito na Guatemala", segundo um porta-voz do Departamento de Estado americano.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, por sua vez, expressou "apoio a uma transição política pacífica" durante uma reunião virtual com Arévalo, e expressou "solidariedade com o povo guatemalteco, que enfrenta contínuos esforços para impedir uma transição democrática do poder".
O governo brasileiro também expressou preocupação com as interrupções no processo de transição de poder na Guatemala e reafirmou, em comunicado publicado na segunda, o reconhecimento da eleição de Arévalo. A nota também insta as autoridades guatemaltecas a cumprir suas responsabilidades e a garantir a posse e o exercício dos mandatos das autoridades eleitas de acordo com a vontade popular e os compromissos assumidos na Organização dos Estados Americanos (OEA).
A OEA, Espanha, União Europeia e organizações internacionais também expressaram seu rechaço à perseguição penal por considerar que atenta contra a democracia e a governabilidade da Guatemala.