Direita usa greve do Metrô para atacar Boulos em SP
Prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e governador Tarcísio de Freitas associam paralisação a uma suposta motivação eleitoral do PSOL
Líder nas pesquisas de intenção de voto para a prefeitura de São Paulo a um ano das eleições, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) virou alvo da direita após a greve de trens e metrô na capital paulista, na última terça-feira.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o prefeito da capital, Ricardo Nunes, associaram a paralisação a uma suposta motivação eleitoral do PSOL.
Nas redes sociais, Nunes, que tentará a reeleição em 2024, chamou a greve de “ideológica” e lembrou o fato de a presidente do sindicato dos metroviários, Camila Lisboa, ser filiada à legenda.
Tarcísio, por sua vez, ligou o movimento grevista a interesses eleitorais e disse, durante coletiva ontem, que os sindicatos são controlados por “partidos que pleiteiam disputar a eleição do ano que vem".
Outros atores políticos da direita acompanharam a estratégia. O vereador Rubinho Nunes, do União Brasil, ex-membro do Movimento Brasil Livre (MBL), anunciou que vai convocar tanto Boulos quanto Camila para “darem explicações sobre a greve que paralisou linhas do Metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitano)” na Câmara Municipal de São Paulo.
Outro que engrossou o coro das críticas foi o ex-secretário especial de Comunicação Social (Secom) de Jair Bolsonaro, Fabio Wajngarten, que afirmou que a greve no metrô, trens e Sabesp foi liderada e organizada pelo “mesmo grupo político que tem como chefe o Boulos”.
“O Judiciário já decidiu quanto à ilegalidade das greves. Foram multados. Seguem não respeitando decisões. Não se deixem enganar: fica evidente quem são os radicais e quem não tem mínima condição de diálogo. Boulos nunca. PSOL jamais”, escreveu Wajngarten, que apoia Nunes.
Dragado para o episódio à sua revelia, Boulos adotou um tom moderado nas redes, que é parte de sua estratégia para atrair o eleitorado de centro, e se limitou a cobrar do governador mais diálogo com os grevistas. Interlocutores admitem que o episódio trouxe desgastes desnecessários à campanha, mas dizem que também expôs a falta de diálogo do governador com os movimentos sociais.
Os aliados do deputado do PSOL ainda afirmam que, apesar da ligação partidária, Boulos não tem qualquer ingerência sobre o sindicato, que é “espontâneo e orgânico”.
Para eles, a tentativa de culpar Boulos pela greve tem como objetivo reforçar a pecha radical. Ao fim do dia, com a pane em uma linha de trem privatizada que tinha sido elogiada horas antes por Tarcísio, Boulos e seus aliados viram oportunidade para criticar o projeto de concessão do serviço à iniciativa privada.
Em nota, o deputado lamentou a politização da greve:
"É lamentável que o governador queira fugir de sua responsabilidade ao atribuir aos outros um problema gerado por ele mesmo e ao tentar partidarizar o debate. Pior ainda é ver um prefeito que abandonou a cidade querer fazer disso (a paralisação) palanque eleitoral”, afirmou Boulos.
Pesquisas internas do PSOL apontaram que a tentativa de associar Boulos à greve causou desgastes ao deputado, apesar de “leves”, segundo seus aliados.