Médicos que vieram para congresso no Rio estão no hotel e com medo de sair, relata colega após crime
Profissional disse não acreditar que as vítimas tenham sido alvo de uma execução. Todos vieram para um importante evento de medicina na cidade
Uma amiga dos médicos mortos durante ataque em um quiosque na Barra da Tijuca, no começo da madrugada desta quinta-feira (5), disse que a sensação é de medo e a reação de não sair do hotel. Ela disse que o Rio é um destino natural para a realização de congressos e que não é possível imaginar que o simples ato de atravessar a rua num bairro nobre para tomar um coco ou uma caipirinha para relaxar antes de dormir possa terminar numa tragédia.
"O Rio de Janeiro é popular para congresso. A gente vem com uma certa frequência, mas não conhece a dinâmica do lugar e como isso funciona. Não pode sequer imaginar que atravessar a rua num bairro nobre, na Barra da Tijuca, para tomar um coco ou uma caipirinha e depois ir dormir possa ser motivo para isso. Não está entre as coisas que a gente imagina que vai viver. A gente se sente agredido, desrespeitado e triste. É um cenário de tragédia para nossa sociedade. A sensação é de medo e a reação das pessoas de não sair do hotel" relatou a médica, que se identificou como Tânia Mara.
A médica contou que chegou ao hotel por volta da meia-noite e meia desta quarta-feira, pouco antes dos colegas que foram mortos. Eles fizeram o check-in antes dela, que disse que chegou a cruzar com as vítimas enquanto subia para o seu quarto. Segundo seu relato, nesse momento eles estavam descendo, possivelmente para ir até o quiosque onde foram atacados.
"Cheguei no mesmo horário que eles, meia-noite e meia. Fizeram o check-in antes de mim. Quando subi para o quarto, eles estavam descendo. É realmente muito chocante e triste. São pessoas que merecem o nosso maior repeito."
Ela disse que se sente apavorada, pois não acreditava que vir para um evento importante, de abrangência mundial, onde todos estão voltados para o desejo de estudar, crescer e desenvolver a medicina, pudesse resultar num crime. A médica descreveu os colegas como profissionais importantes, assassinados de forma violenta e injustificada.
"Eram colegas ótimos, maravilhosos, bons amigos, bons médicos e foram acometidos pela violência urbana. A gente fica apavorada."
Sobre Marcos de Andrade Corsato, de 63 anos, uma das vítimas, contou que era um médico muito importante e conhecido em São Paulo. Trabalhava no Hospital das Clínicas e era professor universitário. Os outros, segundo disse, eram mais jovens e residentes, todos, conforme disse, "pessoas de trajetória profissional destacada, muitos pacientes e muitos feitos para a medicina"
"Não imagino que eles tenham qualquer conexão (com o crime). Estavam inseridos numa cena trivial de alguém que chega numa cidade e querem tomar uma cerveja e dar uma relaxada antes de dormir. Não tem absolutamente nada que os conecte com esse crime violento."
Além de Corsato também foram vítimas Perseu Ribeiro Almeida, de 33, e Diego Ralf Bonfim, de 35, que é irmão da deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL) e chegou a ser socorrido. Outro homem, identificado como Daniel Sonnewend Proença, também foi ferido e levado para o Hospital Lourenço Jorge, também na Barra.