'Começaram a largar bala na gente', relata brasileiro que estava em rave durante ataque do Hamas
Carioca Nathan Obadia compartilhou nas redes sociais momento de confronto com combatentes do grupo extremista
O carioca Nathan Obadia, de 30 anos, é um dos brasileiros que estavam presentes na edição israelense da rave Universo Paralello, evento organizado pelo pai do DJ Alok, neste sábado, durante o ataque do grupo extremista armado Hamas. Ao tentar fugir do evento, ele e um grupo de quatro amigos se depararam com combatentes palestinos que invadiam a região, contou o representante de vendas, que mora há cerca de cinco anos no país, onde trabalha com um clube de futevôlei.
Em publicações na sua conta no Instagram, Nathan disse que ele e os amigos estão bem, mas que foram alvo de uma “rajada de tiros” por cerca de 15 a 20 minutos. Eles chegaram a tentar fugir de volta para Tel Aviv, mas ao saberem que havia combatentes do Hamas na cidade, decidiram retornar ao festival.
"A gente estava indo para Tel Aviv, mas tinha terrorista lá. Então fizemos a volta para retornar na direção da festa. Só que formou um trânsito. (...) Aí o moleque que estava dirigindo, o Fusco (amigo de Nathan) pegou a direita e falou “vamos fugir desse trânsito”. Só que era tudo meio um mato assim e acabamos entrando numa zona que era um campo aberto, e só tinha nosso carro no meio. Na hora, os caras (combatentes do Hamas) começaram a "largar" bala em cima da gente, tiro para caramba", relatou o brasileiro.
Os amigos continuaram a acelerar enquanto os disparos não atingiam o veículo. Porém, na hora que um tiro acertou o carro, e Nathan sentiu estilhaços atingirem suas costas, os amigos pararam e pularam para fora, usando o carro como um escudo.
"Aí foi um inferno, uns 15 e 20 minutos de uns 300 tiros. Não dá para saber exatamente, mas foi muito tiro. E a festa rolando, outras pessoas passando tentando fugir e tomando tiro no carro também. Mas como estávamos ali no campo aberto e batemos de frente com eles, eles começaram a largar (tiro) na gente. Teve uma hora que eles começaram com tiro de bazuca", continuou.
Ele disse que “inacreditavelmente” o grupo não foi atingido por nenhum dos disparos, mas que apenas conseguiram sair de lá, e escapar em direção a um bunker, depois que três soldados do exército israelense apareceram e começaram a trocar tiros com os combatentes do Hamas.
"Algum momento depois dos 15, 20 minutos, apareceram três soldados que estavam fazendo ronda ali pela área e não tinham ideia do que estava acontecendo. Eles se meteram no meio da confusão e começaram a trocar tiros com os caras. Aí os soldados começaram a tomar tiro e falaram para a gente “corre agora se não vocês vão morrer”. Aí comecei a correr. Tinha meio que um barranquinho atrás da gente. Eu mantive o carro de escudo e me joguei de cabeça no barranco. Pensei “ou do outro lado tem mais árabe ou tem exército. Seja o que Deus quiser”, conta Nathan.
Nesse momento, os cinco amigos conseguiram ultrapassar o barranco e, do outro lado, havia mais soldados israelenses. Eles orientaram o grupo a correr para um outro lado em que havia um bunker e mais soldados, para que se protegessem.
O festival em que o grupo de amigos estavam foi realizado na madrugada de sexta para sábado no Sul de Israel, no deserto de Negev, perto do Kibbutz Re-im. Segundo o representante de vendas, o local fica a cerca de 500 metros da fronteira com Gaza. Outros festivais do tipo são realizados com certa frequência na região, mas o brasileiro disse que eles souberam o endereço exato da rave apenas no dia.
"Essas festas aqui o pessoal divulga o lugar no dia. Mas ninguém imaginava que ia ser em Gaza (próximo à fronteira). Mas Gaza estava “quieto”, já rolaram outras festas lá e não deu em nada. Dessa vez, os caras arrebentaram a cerca e entraram pessoas. A festa era a 500 metros da fronteira que foi invadida", relatou Nathan.
O evento, chamado Supernova Sukkot, é parte da turnê mundial do Universo Paralello, uma marca de festas eletrônicas criada pelo pai do DJ Alok, Juarez Petrillo, também conhecido como DJ Swarup. Segundo o filho de Petrillo, Alok, seu pai ainda está em Israel, abrigado em um bunker.
"A festa tava irada. Mas quando deu 6h, começaram as sirenes. Que já estávamos acostumados, era normal. Sabíamos que (Israel) poderia rebater os foguetes, podia atrapalhar na festa, mas tu não vai morrer disso. Todo mundo pensou que era isso, só que eles cancelaram a festa na hora, o que eu achei estranho. Então falei pra galera que estava comigo, vamos embora agora, vamos deixar a barraca, deixar tudo, vamos meter o pé (...) A gente entrou no carro e começou a ir em direção a Tel Aviv. E aí vimos vários foguetes no céu, mas eu estava tranquilo. Mas nisso começamos a ver vários carros voltando para a festa. Daqui a pouco, lá para o quinto, sexto, carro que estava voltando, ele veio com a roda baleada, o vidro baleado, e uma mulher gritando “terrorista, terrorista”, chorando. Foi quando demos a volta", disse.
Em nota, a organização do Universo Paralello afirmou estar "chocada com os últimos acontecimentos em Israel". Já sobre as críticas que repercutiram nas redes sociais em relação ao lugar do evento, disse que "Israel é reconhecida mundialmente por grandes eventos de música eletrônica, e o local é conhecido por receber diversos deles, tendo, no dia anterior, acontecido um festival com mesmo perfil no mesmo local".
Neste sábado, o país sofreu um ataque sem precedentes por parte do grupo extremista armado Hamas. Em resposta, Israel declarou estado de guerra e lançou uma ofensiva contra o território palestino. Ao todo, já são mais de mil mortos, ao menos 700 em Israel, 370 na Faixa de Gaza e 7 na Cisjordânia, e milhares de feridos em ambos os lados. Além disso, o governo israelense diz que há mais de 100 reféns do país com o Hamas.