Ataque surpresa do Hamas a Israel sinaliza nova estrutura de poder
Cientista político observa que bombardeio do grupo extremista Hamas contra Israel amplia polarização na balança de interesses políticos no Oriente Médio
O bombardeio de surpresa a Israel pelo movimento islâmico armado Hamas, considerado um dos maiores sofridos pelo país nos últimos anos, com centenas de mortos e feridos, envolve, de acordo com o professor e cientista político Antônio Henrique Lucena, uma questão mais ampla da balança de poder e de interesses que vem sendo alterada no Oriente Médio.
“Está havendo uma mudança de reorganização global em termos de polaridade no sentido de um mundo com mais polos de poder. Há a questão da guerra da Ucrânia, por exemplo, que impacta de certa forma. O Hamas confirmou que recebeu apoio do Irã para o ataque. Seria uma forma, explicando de maneira simples, de chamar Israel às armas, mesmo sabendo que serão militarmente derrotados”, explicou Lucena.
O cientista político acrescenta, no entanto, que o Hamas espera vencer politicamente para que Israel não celebre acordos como o de Abraão (tratado de paz entre Israel e os Emirados Árabes Unidos). “A celebração desse acordo ia mudar, e muito, a balança de poder na região, com o Irã saindo prejudicado. Só que a Faixa de Gaza é controlada pelo Hamas, que é inimigo da Autoridade Palestina, expulsa da Faixa já há um bom tempo”, relatou.
O professor acredita que, teoricamente, para a Autoridade Palestina a guerra seria interessante para diminuir o poder do Hamas, mas ao mesmo tempo, a Autoridade Palestina tem que ter solidariedade com o próprio povo, que também é palestino, apesar de pertencerem a correntes diferentes, com o Hamas sendo mais extremista; e Israel, por outro lado, só reconhece como interlocutor a Autoridade Palestina.
“Há um respaldo político para fazer uma incursão terrestre contra a Faixa de Gaza na caçada tanto às pessoas que foram sequestradas como também para eliminar os perpetradores dos ataques contra Israel. Isso vai transbordar para a Autoridade Palestina porque, depois do desse ataque, considerado pela mídia israelense como uma espécie de Onze de Setembro deles, os futuros acordos de paz serão prejudicados”, opinou Lucena.
Para o professor de Relações Internacionais da UFS e de Ciência Política da UFPE Rodrigo Barros de Albuquerque, provavelmente as coisas acontecerão como em situações similares anteriormente. “Israel responderá com força e violência, angariando simpatia internacional como normalmente o faz ao se colocar em posição de vítima e taxar o Hamas e qualquer outra organização da Palestina como terrorista”, analisou.
Já o Hamas e a Palestina, disse ele, resistirão dentro das limitações que têm, mas com recursos muito mais limitados do que Israel. “Então, sim, a Palestina sairá perdendo, como sempre sai nestes embates com Israel. A desigualdade de condições de combate é muito grande e enquanto palestinos se veem numa guerra de resistência, israelenses se veem como respondendo em legítima defesa”, afirmou o professor.