Irã nega ter ajudado Hamas a planejar ataque surpresa a Israel
Operação teria sido autorizada em reunião na última segunda-feira, no Líbano, de acordo com o 'Wall Street Journal'
O governo iraniano rebateu, nesta segunda-feira (9), acusações de que teria ajudado a planejar o ataque surpresa do Hamas em Israel, no sábado (9), e autorizado a operação em uma reunião em Beirute, no Líbano.
Um porta-voz da diplomacia do país destacou que as alegações sobre o papel de Teerã na ofensiva "são baseadas em motivos políticos" e apontou que o poder local não intervém “na tomada de decisões de outras nações, incluindo a Palestina”.
— A resistência da nação palestina tem a capacidade, a força e a vontade necessárias para se defender, defender a sua nação e tentar recuperar os seus direitos perdidos — disse Nasser Kanani, durante uma conferência de imprensa em Teerã.
A Guarda Revolucionária do Irã teria ajudado a planejar o ataque, segundo informações do jornal "Wall Street Journal" publicadas neste domingo, citando fontes do grupo extremista armado e do Hezbollah. O conflito na Faixa de Gaza já resultou em um grande número de mortes, com mais de 700 no lado israelense, pelo menos 413 em Gaza e sete na Cisjordânia. O número total de feridos é de cerca de 4.500, sendo aproximadamente 2.300 do lado palestino e 2.240 em Israel.
Segundo a reportagem, os oficiais do Irã colaboraram com o Hamas desde agosto para planejar uma operação complexa envolvendo incursões aéreas, terrestres e marítimas, marcando uma das maiores violações das fronteiras de Israel desde a Guerra do Yom Kippur, em 1973.
O jornal também cita que detalhes da operação foram refinados durante várias reuniões em Beirute, nas quais oficiais da Guarda Revolucionária colaboraram com representantes de quatro grupos militantes apoiados pelo Irã, incluindo o Hamas e o Hezbollah.
Embora o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, tenha mencionado que não há evidências concretas ligando o Irã a este ataque específico, ele reconheceu a longa relação entre o país e esses grupos. O Hamas, por sua vez, afirma que o ataque foi uma decisão independente, negando qualquer influência direta do Irã.
O Irã mantém relações estreitas com os dois grupos e foi um dos primeiros países a felicitar a ofensiva lançada no sábado pelo Hamas. Logo após a ação, o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, declarou que "o Irã apoia a defesa legítima da nação palestina". "O regime sionista e os seus apoiadores (...) devem ser responsabilizados nesta questão", disse Raisi numa mensagem televisiva dirigida "à nação palestina".
Por sua vez, Yahya Rahim Safavi, conselheiro do líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, declarou que o regime "vai estar ao lado dos combatentes palestinos até a liberação da Palestina e de Jerusalém", de acordo com a agência de notícias Reuters.
O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas iranianas, general Mohammad Bagheri, elogiou no domingo a "complexa operação" lançada por "grupos de combatentes palestinos" contra Israel. É o "produto da ira sagrada que o inimigo sionista semeou na nação palestina oprimida e que deve agora colher", acrescentou em um comunicado.
O Hamas denominou a sua ofensiva, lançada no sábado, como "Dilúvio al-Aqsa", com o objetivo de "pôr fim a todos os crimes da ocupação [israelense]". Israel ocupa a Cisjordânia, território palestino, e Jerusalém Oriental desde 1967.
Os combatentes palestinos dispararam "mais de 5 mil foguetes" a partir da Faixa de Gaza e conseguiram se infiltrar utilizando veículos, barcos e até parapentes motorizados. Eles chegaram a áreas urbanas como Ashkelon, Sderot e Ofakim, a 22 quilômetros de Gaza, e atacaram posições militares e civis no meio da rua.
As forças israelenses, em resposta, bombardearam vários alvos em Gaza, incluindo vários edifícios que apresentavam como "centros de comando" do Hamas. Neste domingo, as Forças Armadas de Israel afirmaram que atingiram mais de 800 alvos na região, matando centenas e ferindo milhares de combatentes. Espera-se que um ataque terrestre seja perpetuado nas próximas 48 horas, informaram autoridades do governo americano ao Washington Post.
Entre os mais de 1.100 mortos contabilizados até o momento, 260 estavam em um festival de música eletrônica perto da Faixa de Gaza. O evento, organizado pelo pai do DJ Alok, DJ Juarez Petrillo, foi realizado no deserto de Negev, perto de Re-im, no Sul de Israel, a menos de 20 quilômetros de onde se concentraram os ataques na noite de sábado. Ao menos três brasileiros que participavam da rave estão desaparecidos, e um foi hospitalizado, segundo o Itamaraty.