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Israel não soube calibrar o Hamas, dizem especialistas militares

Segundo o general Yaakov Amidror, ex-conselheiro de Segurança Nacional de Israel, houve uma falha do sistema de Inteligência que foi incapaz de detectar o ataque do Hamas

Conflito, iniciado no sábado, já deixou quase mil mortos e 4 mil feridos em 24 horas - Mahmud Hams/AFP

A incapacidade dos serviços israelenses de Inteligência de prevenir a sangrenta ofensiva surpresa do Hamas obedece a uma incompreensão total do movimento islâmico palestino, afirmam especialistas.

Israel foi surpreendido na manhã de sábado (7), quando o Hamas disparou milhares de foguetes, da Faixa de Gaza, onde governa, e infiltrou mil combatentes em solo israelense, deixando pelo menos 700 mortos e capturando mais de 100 pessoas.

O Exército enviou, para o sul, dezenas de milhares de soldados, que continuam a lutar contra os islâmicos, e os seus aviões bombardearam centenas de alvos na Faixa, deixando pelo menos 560 mortos, de acordo com o último balanço oficial.

"Trata-se de um enorme falha do sistema de Inteligência e do aparelho militar no sul" do país, no limite com Gaza, destaca o general reformado Yaakov Amidror, conselheiro de Segurança Nacional de Israel de 2011 a 2013.

Mas, para além do fracasso dos serviços de Inteligência em detectar este ataque minuciosamente preparado, a ideia que as autoridades israelenses têm do Hamas é totalmente equivocada, disse esse general à imprensa.

"Cometemos um erro monumental, e eu me incluo, ao acreditar que uma organização terrorista poderia modificar seu DNA", acrescenta Amidror, que é pesquisador no Instituto de Estratégia e Segurança de Jerusalém.

"Nossos amigos ao redor do mundo nos disseram que (o Hamas) estava se comportando de maneira mais responsável, e fomos tão estúpidos que acreditamos nisso", completou.

Política de incentivos econômicos 
Considerado por Israel, pela União Europeia (UE) e pelos Estados Unidos como uma organização "terrorista", o Hamas controla a Faixa de Gaza desde que expulsou pelas armas seu rival Fatah em 2007, dois anos depois de Israel ter-se retirado unilateralmente do enclave, onde tinha colônias judaicas.

A carta do Hamas, inimigo jurado de Israel, contra o qual chama à luta armada, defende um Estado Islâmico em todos os territórios palestinos. Israel continua ocupando a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, a parte de maioria palestina da cidade sagrada anexada.

Depois da guerra de 2021, e após vários combates com o Hamas, por meio dos quais tentou destruir a infraestrutura militar do movimento palestino, Israel optou por uma política de incentivos econômicos para garantir uma trégua duradoura.

Assim, aumentou as autorizações de trabalho e comércio concedidas aos habitantes de Gaza, permitindo a entrada de cerca de 18.500 trabalhadores em Israel. O desemprego em Gaza é muito elevado, o que afeta metade da população.

Israel considerou que esta política de incentivos econômicos poderia ajudar a manter a calma. No dia 1º de outubro, o conselheiro de Segurança Nacional de Israel, Tzaji Hanegbi, destacou a este respeito que o Hamas não tinha disparado foguetes nos últimos dois anos.

"O Hamas está mostrando uma grande contenção" e sabe o preço que uma escalada teria, disse ele a uma rádio militar.

Ideia errada 
Para o diretor do Fórum dos Estádios Palestinos da Universidade de Tel Aviv, Michael Milshtein, declarações como esta mostram que "tínhamos uma ideia completamente errada sobre o Hamas".

"Derrubou-se a noção de que os incentivos econômicos poderiam diminuir a motivação do Hamas para cometer atos terroristas, ou mesmo pressionar a opinião pública (palestina) a se opor ao movimento" islâmico, disse ele à AFP.

"Estamos diante de uma organização ideológica radical. Você realmente acha que é possível sublimar sua ideologia? Ou mudá-la? É um erro total", diz Milshtein, um oficial de Inteligência aposentado.

Enquanto isso, observa, "eles ficaram mais fortes e se prepararam para a próxima etapa de sua guerra".

"A operação estava preparada há quase um ano. O incrível é que, nesse ano, Israel continuou aumentando o número de permissões de trabalho [para palestinos] e as concessões", afirma.

"O ponto de vista de Israel era que o Hamas não queria uma escalada", embora a mensagem "estivesse clara". Mas as autoridades políticas e militares "não quiseram acreditar", acrescenta Milshtein.