LIDERANÇA

''Responsabilidade pela guerra com Hamas é de Netanyahu'', diz principal jornal israelense

Em editorial, jornal aponta que decisões de um ''governo de anexação e desapropriação'' levaram à explosão brutal da violência

Primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu - Foto: Abir Sultan/POOL/AFP

Em um duro editorial, o Haaretz, principal jornal israelense, apontou nesta segunda-feira (9) o primeiro-ministro de Israel, Benjamim Netanyahu, como o responsável pelos ataques sem precedentes orquestrados pelo Hamas, que deixaram mais de mil mortos.

O Haaretz destacou a incapacidade do premier de avaliar os riscos para a escalada do conflito representados pelas políticas francamente hostis aos palestinos e pela presença no governo de representantes da ultradireita religiosa radicalmente anti-árabes.

“O primeiro-ministro, que se vangloria da vasta experiência política e da sabedoria insubstituível em matéria de segurança, falhou completamente em identificar os perigos a que conscientemente direcionava Israel, ao estabelecer um governo de anexação e desapropriação, ao indicar Bezalel Smotrich [ministro das Finanças] e Itamar Bem-Gvir [ministro da Segurança nacional, da ultradireita] para postos-chave, enquanto adotava uma política externa que abertamente ignorava a existência e os direitos dos palestinos”, diz o texto.

O Haaretz pondera que as falhas dos serviços de inteligência e das Forças Armadas vão surgir à medida que os fatos sejam apurados e que haverá pressão para que seus chefes sejam afastados e responsabilizados. No entanto, argumenta que as falhas dos outros setores do Estado não reduzem a centralidade do papel do primeiro-ministro na eclosão da crise, já que é “o árbitro final das questões externas e de segurança de Israel”

Sobre a guinada à direita do governo do premier que mais tempo governou na história do país, o Haaretz lembra que, no passado, Netanyahu adotou o perfil de um líder cauteloso que evitou guerras e muitas perdas de vidas israelenses mas, “após sua vitória na última eleição, ele substituiu esta cautela pela política de um ‘governo totalmente de direita’ com passos claros tomados para anexar a Cisjordânia, de levar adiante limpeza étnica em partes da área-C definida pelo acordo de Oslo, incluindo as Colinas de Hebron e o Vale do Jordão”.

O Haaretz afirma que o Hamas aproveitou a crescente revolta na Cisjordânia, onde “os palestinos começaram a sentir a mão mais pesada” da ocupação israelense, com a ampliação de assentamentos e aumento do número de colonos judeus no território, perto do Monte do Templo e da Mesquita de al-Aqsa.

O jornal ataca ainda as acusações que Netanyahu enfrenta na justiça, e sua cruzada para aprovar uma polêmica reforma do Judiciário, amplamente considerada antidemocrática.

“Um primeiro-ministro denunciado em três casos de corrupção não pode cuidar de questões de Estado, já que os interesses nacionais vão necessariamente ser subordinados a liberá-lo de uma possível condenação à pena de prisão”.