MANIFESTAÇÕES

Guatemala completa uma semana de protestos e procuradora-geral exige fim dos bloqueios nas estradas

No domingo, camponeses anunciaram 'paralisação indeterminada' para pedir renúncia de Consuelo Porras, acusada de tramar um golpe de Estado contra presidente eleito

Organizações camponesas anunciaram uma "paralisação por tempo indeterminado" de estradas - Johan Ordonez/AFP

Após uma semana de protestos na Guatemala, a procuradora-geral Consuelo Porras exigiu nesta segunda-feira (9) que as forças de segurança desobstruíssem dezenas de estradas bloqueadas por manifestantes, que pedem a sua renúncia. Ela é acusada de tramar um “golpe de Estado” contra o presidente Bernardo Arévalo, eleito em 20 de agosto após derrotar nas urnas a ex-primeira-dama Sandra Torres.

No domingo, as organizações camponesas anunciaram uma "paralisação por tempo indeterminado" de estradas em 52 pontos de todos os departamentos do país.

— É urgente que as autoridades competentes assumam a sua responsabilidade no cumprimento da lei e exerçam de imediato a função para a qual foram nomeadas — afirmou Porras, num vídeo difundido nas redes sociais, descartando que irá renunciar. — As manifestações pacíficas são um direito, os bloqueios são um crime.

Em diferentes zonas da Guatemala, manifestantes protestam exigindo saída da procuradora-geral, além do promotor Rafael Curruchiche e do juiz Fredy Orellana, que lideraram incursões questionadas à sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no último dia 29 de setembro. Na busca, com dezenas de policiais, os procuradores abriram 70 urnas que continham votos do primeiro turno das eleições, em 25 de junho.

Além dos bloqueios, várias lojas, empresas e supermercados fecharam as portas em repúdio a ações do Ministério Público. Temendo uma intensificação dos protestos, os guatemaltecos lotaram os poucos supermercados abertos no domingo e esvaziaram as prateleiras.

Em um comunicado na rede social X, a Associação das Companhias Aéreas da Guatemala (AGLA) anunciou que os fornecedores de combustível de aviação os "informaram" sobre os impactos na cadeia de abastecimento. O deficiente abastecimento de combustível, segundo a AGLA, "coloca em sério risco a continuidade das operações das companhias aéreas de passageiros e carga".

Na semana passada, Arévalo reiniciou uma turnê internacional para denunciar a tentativa do Ministério Público, chefiado por Porras, de impedir que ele assuma o cargo.

As operações de busca na sede do tribunal eleitoral para confiscar as atas das últimas eleições, o pedido para retirar os foros dos juízes do organismo e a tentativa de suspender o partido de Arévalo, o Movimento Semente, causaram preocupação na comunidade internacional.

Na semana passada, os EUA afirmaram que "continuarão usando todas as ferramentas disponíveis contra aqueles que agirem para minar a democracia e o estado de direito na Guatemala", segundo um porta-voz do Departamento de Estado americano. Os três funcionários, que lideram uma campanha legal contra Arévalo, o primeiro político de esquerda a vencer no país em mais de uma década, estão em uma lista de "atores corruptos" e antidemocráticos dos Estados Unidos.

O governo brasileiro também expressou preocupação com as interrupções no processo de transição de poder na Guatemal, assim como a OEA, Espanha, União Europeia e diversas organizações internacionais, que já expressaram seu rechaço à perseguição penal por considerar que atenta contra a democracia e a governabilidade da Guatemala.