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Ranani Glazer: Brasileiro foi morto em Israel às vésperas do aniversário de 24 anos e sonhava ser DJ

Jovem vivia no país há sete anos e chegou a prestar serviço militar; aniversário seria comemorado na próxima sexta-feira, 13 de outubro

Ranani estava em uma rave com a namorada e um amigo quando os integrantes do Hamas chegaram - Reprodução/Instagram

O brasileiro Ranani Nidejelski Glazer, morto após a invasão de extremistas em uma festa rave, em Israel, no último sábado (7), completaria 24 anos na próxima sexta-feira, dia 13 de outubro. Ranani vivia no país há sete anos, e chegou a prestar serviço militar. Nas redes sociais, amigos e familiares prestaram homenagens e falaram sobre a personalidade de Ranani.

Em publicação no Instagram, uma amiga do brasileiro, identificada como Jade Kolker, lembrou que eles estavam juntos em uma viagem de comemoração ao aniversário de Ranani, em outubro de 2022. No post, ela também comenta um sonho do amigo: “ser um DJ famoso na cena trance brasileira e pelo mundo”.

“Hoje o Brasil inteiro te conhece, meu lindo. Não pela razão que eu tanto gostaria que fosse, mas pelo herói que você foi dentro daquele bunker. Tenho certeza que você usou até a última gota de força que existia no seu corpo pra manter sua namorada à salvo e pra acalmar os que estavam à sua volta porque é isso que você é na vida das pessoas. Calmaria. Eu sou amante da sua alma linda e hippie e hoje ela vai passar a voar solta por aí protegendo lá de cima todos que te amam tanto aqui embaixo. Me sinto honrada de ter feito parte desse trajeto lindo que foi sua vida”, diz trecho da publicação.

"Te amei cada segundo", diz namorada

Rafaela Treistman, namorada do brasileiro Ranani Glazer, usou as redes sociais para se despedir. A jovem conseguiu escapar do ataque terrorista, assim como o amigo que acompanhava o casal, Rafael Zimerman. Pelo Instagram, Rafaela destacou que a relação com o gaúcho de 24 anos “foi uma história de cinema”.

"Nunca imaginei que eu não estaria agora com você. Nunca pensei que existiria um após você", afirmou ela. "Assim como você sempre disse, nosso amor foi a primeira vista… Foi rápido e intenso, mas eu te amei em cada segundo que estivemos juntos".

Na publicação, Rafaela publicou uma série de fotos ao lado do namorado. Ela afirmou que Ranani era um "ser cheio de luz" e que "nunca falhou" ao transmitir a "vibe maravilhosa" que levava consigo. Ela afirmou que nunca havia se sentido tão feliz quanto ao lado dele e destacou sonhos que o brasileiro ainda tinha, como o de se tornar um DJ famoso. Ela contou que os dois, inclusive, chegaram a compor uma música juntos.

"Sinto a sua falta a cada momento do meu dia, eu de verdade não sei como seguir agora sem você. Penso nos nossos planos pro futuro, penso nos nossos sonhos, nos nossos objetivos.. Penso no quanto nos seguramos pra falar de nós dois por respeito a relacionamentos passados, quando tudo o que eu queria era gritar pro mundo o quanto eu amo você", escreveu Rafaela, que declarou seu amor por Ranani, agradeceu pelo carinho durante o relacionamento e desejou que ele descansasse em paz.

Glazer estava desaparecido desde sábado após o início do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Ele foi encontrado morto, após a rave Universo Paralello ser invadida por homens armados, no sábado. O evento acontecia no deserto de Negev, perto de Re-im, no sul de Israel, a menos de 20 quilômetros da Faixa de Gaza.

"O Governo brasileiro tomou conhecimento, com profundo pesar, do falecimento do cidadão brasileiro Ranani Nidejelski Glazer, natural do Rio Grande do Sul, vítima dos atentados ocorridos no último dia 7 de outubro, em Israel. Ao solidarizar-se com a família, amigas e amigos de Ranani, o Governo brasileiro reitera seu absoluto repúdio a todos os atos de violência, sobretudo contra civis", disse o Itamaraty, em nota divulgada nesta terça-feira.

Glazer era brasileiro-israelense, tinha 23 anos de idade e natural do Rio Grande do Sul. Ele morava em Israel há sete anos e prestou serviço militar no país. Em abril, Ranani destacou o gosto por festas como o evento de música eletrônica onde estava quando começou o ataque do Hamas. "Fácil me encontrar numa rave", escreveu ele, em inglês, com uma foto tirada em Israel enquanto dançava com a bandeira do Brasil nos ombros.

Nos últimos dias, o jovem fez uma série de publicações em suas redes sociais de eventos em Tel Aviv, capital de Israel. Em seu perfil no Instagram, havia postagens recentes nos stories em que ele compartilhou vídeos da rave da qual participava, marcando Gaza na localização. Pouco tempo depois, haveria a invasão ao local, com um tiroteio que causou correria e fuga das pessoas presentes ao evento.

Algumas pessoas, entre elas Ranani, conseguiram se abrigar em um bunker, mas o local acabou sendo atingido por uma bomba. Já Rafaela Treistman conseguiu sair, e a polícia pediu que ela fosse para o hospital, onde os feridos estavam sendo atendidos. Desde então, não houve mais notícias sobre Ranani.

Vídeo antes da morte
Ranani Glazer chegou a gravar um vídeo diretamente de um bunker, onde se abrigou logo após o ataque começar: "Foi cena de filme", disse, afirmando que precisou correr quilômetros para achar um lugar seguro para se esconder.

"No meio da rave a gente parou num bunker, começou uma guerra em Israel, pelo menos a gente está num bunker agora, seguro" disse.

Em um vídeo publicado nas redes sociais, Treistman conta que ela, o namorado e o amigo do casal, Rafael Zimerman, se esconderam dos terroristas usando corpos das vítimas. No momento em que as autoridades israelenses chegaram ao bunker, no entanto, Glazer havia desaparecido. Zimerman foi resgatado com ela, foi hospitalizado e teve alta no último domingo.

"O bunker em que nos escondemos foi metralhado por integrantes do Hamas e depois jogaram gás para todo mundo morrer asfixiado, e foi quando comecei a pedir a Deus para sobreviver. Eu me senti em Auschwitz" relatou Rafael, que agora mora com amigos em Herzylia, próximo a Tel Aviv. "Eu só me senti seguro quando cheguei no hospital".

Ao menos 260 corpos foram encontrados no local onde acontecia o festival Universo Paralello, organizado pelo pai do DJ Alok, o também DJ Juarez Petrillo. Dezenas de pessoas que foram à rave continuam desaparecidas, informou a organização de resgate israelense Zaka no último domingo (8).

Uma brasileira que estavam na rave continua desaparecida, de acordo com informações do Itamaraty: Karla Stelzer Mendes, de 41 anos.

Bruna Valeanu, de 24 anos, teve sua morte confirmada nesta terça pela família.

O DJ Juarez Petrillo lamentou o ataque em uma postagem no Instagram na tarde de domingo. "Estamos consternados, chocados e assustados com tudo que aconteceu e deixamos explicitamente a nossa revolta e nossos sentimentos às vítimas desse ataque perverso", escreveu no perfil da Universo Paralello, organizadora do evento.

Sobre as críticas que repercutiram nas redes sociais em relação ao lugar do evento, a postagem afirma que "Israel é reconhecida mundialmente por grandes eventos de música eletrônica, e o local é conhecido por receber diversos deles, tendo, no dia anterior, acontecido um festival com mesmo perfil no mesmo local".

O Jerusalem Post publicou um vídeo em que mostra o momento em que diversas pessoas fogem às pressas de uma festa organizada ao ar livre depois da chegada de membros do Hamas. Segundo o jornal, "os participantes relatam momentos angustiantes com (o som de) tiros", e havia "preocupações com possíveis vítimas". Ainda não se sabia da dimensão da tragédia.

O ataque terrorista do Hamas no último sábado pegou Tel Aviv de surpresa. Em suas redes sociais, o governo israelense foi taxativo e afirmou estar "em guerra". Dois dias após sofrer o maior ataque em cinco décadas — com pelo menos 900 mortos e mais de 2.400 feridos em 22 localidades do sul e do centro do país — Israel anunciou a mobilização de 300 mil reservistas em tempo recorde e decretou “cerco total” à Faixa de Gaza com corte de energia, combustíveis, água e alimentos.

O território palestino é governado desde 2007 pelo grupo terrorista Hamas, responsável pelos ataques de sábado a Israel, inclusive à rave. Cerca de mil militantes extremistas cruzaram a fronteira e invadiram Israel, espalhando terror e morte, e uma chuva de 2.500 a 5 mil foguetes caiu sobre cidades e vilarejos israelenses. A resposta de Israel já deixou quase 700 mortos em Gaza. O total de feridos dos dois lados chega a 5.300.

O governo brasileiro estima que serão necessários 15 voos da Força Aérea Brasileira (FAB) para trazer de volta todos os brasileiros que querem sair de Israel e de outros países do Oriente Médio desde o começo do conflito. O primeiro deles, com 210 cidadãos nacionais, acompanhados de médicos e psicólogos, chegará a Brasília na primeira hora desta terça-feira. Mais de 2.200 brasileiros pediram ajuda para retornar ao país.