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Argentina vive nova corrida cambial e dólar chega a quase mil pesos; governo eleva imposto

Cotação no paralelo chega a novo recorde

A inflação na Argentina - Juan Mabromata/AFP

A Argentina vive uma nova corrida cambial, em plena campanha presidencial e faltando menos de duas semanas para as eleições de 22 de outubro. Nesta terça-feira (10), a cotação do dólar paralelo ou blue se aproxima dos mil pesos, um novo recorde histórico para um país que nos últimos anos sofreu sucessivas desvalorizações de sua moeda nacional.

De acordo com sites dos principais jornais econômicos argentinos, a cotação do dólar blue está em torno de 945 pesos — o valor varia dependendo da casa de câmbio clandestina, as chamadas cuevas —, mas em grupos de WhatsApp nos quais se compra e vende dólares a cotação está muito próxima dos mil pesos.

O ministro da Economia e candidato presidencial Sergio Massa culpa seu rival da extrema-direita, Javier Milei, pela nova corrida ao dólar paralelo — que em 2 de outubro estava em 800 pesos. Na última segunda-feira (9), Milei disse a jornalistas locais que o peso era “um excremento”, atitude considerada irresponsável pelo candidato peronista.

Em evento na noite de segunda, ao lado do embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, o candidato da Casa Rosada afirmou que quando vê “candidatos que são capazes de incendiar a casa onde vivem para conseguir mais votos, me preocupo”.

Na manhã desta terça, na tentativa de conter a nova corrida cambial, o Banco Central, por orientação do ministro e candidato, publicou novas regras para a utilização do cartão de crédito e débito dos argentinos no exterior, tornando mais cara a cotação para quem gasta em pesos fora do país.

O BC argentino unificou três tipos de dólares usados para viagens internacionais — o Catar, solidário e cartão —, e aumentou os tributos cobrados aos argentinos que pagam despesas no exterior com cartões de débito ou crédito. O objetivo de Massa é limitar ainda mais as possibilidades que os argentinos têm de viajar e, assim, a demanda de dólares dentro da Argentina.

Nos bancos de Buenos Aires, as filas são cada vez maiores e alguns correntistas esperam mais de uma hora para sacar até mesmo US$ 40. Os dólares guardados em casa e não nos bancos são usados para pagar contas e para poupar, esperando que a cotação continue subindo. Consultadas pelo Globo, algumas pessoas mencionaram as falas de Milei, mas outras culparam o próprio Massa pelo desastre econômico que vive o país.

Esta nova corrida é uma péssima notícia para o ministro candidato, que enfrenta o desafio de impedir uma vitória de Milei no primeiro turno, cenário que analistas locais não descartam. Ser ministro da Economia e candidato é uma combinação complexa, num país que atravessa, mais uma vez, uma crise econômica profunda, com inflação anual acima de 100%, taxa de pobreza de 41%, e o risco de fortes turbulências financeiras.