CIRURGIAS

Fisioterapia, óculos escuros e conversas só por telefone: a rotina de Lula 10 dias após cirurgias

Presidente fez intervenções nas pálpebras e no quadril

Lula - Evaristo Sá/AFP

Com acesso controlado até mesmo dos assessores mais próximos e usando óculos escuros, que escondiam o resultado da cirurgia na pálpebra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou de uma reunião pela primeira vez nesta segunda (11). Há dez dias ele passou por duas intervenções — a outra foi no quadril. O petista fez uma videoconferência com ministros, de forma remota, com os olhos protegidos em função da blefaropastia, procedimento que consiste na retirada do excesso de pele da região, o que pode causar inchaço.

Isolado no Palácio da Alvorada desde que deixou o hospital, no dia 1º, o petista tem intercalado sessões de fisioterapia com uma rotina de trabalho restrita. Longe dos assessores, Lula passou a dar ordens e despachar apenas por telefone. Foi numa dessas chamadas, por exemplo, que ele mandou o vice-presidente, Geraldo Alckmin, para acompanhar a situação da seca em Manaus, e se inteirou sobre o conflito em Israel.

A participação em reuniões por vídeo vinha sendo evitada por Lula na primeira semana. A avaliação do entorno presidencial é que o presidente, de 77 anos, não quer ser visto em situação debilitada por seus ministros para não passar imagem de fragilidade.

Paralelo às suas agendas de trabalho, Lula tem se dedicado a sessões de fisioterapia duas a três vezes por dia. O tratamento é liderado pelo fisioterapeuta pessoal do presidente, Leandro Dias, que o ajuda a se recuperar da artroplastia de quadril pela qual passou no último dia 29, em Brasília.

Contato por celular
Entre os integrantes do primeiro escalão do Palácio do Planalto que costumam se reunir diariamente com o presidente há um acordo para não encontrá-lo antes da autorização médica. Um dos poucos a ir até o Alvorada no período foi seu chefe de gabinete, Marco Aurélio Santana Ribeiro. Mas, apesar de ser um dos assessores mais próximos, Marcola, como é conhecido, também não tem se encontrado pessoalmente com Lula.

A ponte entre os dois tem sido feita pela equipe de ajudantes de ordens, que entrega a Lula os documentos levados por Marcola até o Alvorada e que precisam ser assinados. Foi o caso do projeto de lei que criou as regras do Desenrola, sancionado semana passada por Lula.

Os ajudantes de ordens também têm sido responsáveis pelas ligações de Lula para seus ministros nos últimos dias. De acordo com auxiliares, o presidente não gosta de despachar por telefone, por isso tem apenas conversas pontuais por meio do celular do ajudante. O presidente não tem o próprio aparelho celular.

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, é um dos poucos que conversa com o presidente pelo menos uma vez ao dia, pela manhã, para repassar as ações do governo. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, foi outro que manteve contatos frequentes neste período.

Na semana passada, Lula pediu para conversar com o vice-presidente, Geraldo Alckmin, sobre a crise provocada pela seca na região Norte do país. O telefonema aconteceu na segunda-feira, quando o presidente determinou ao seu vice que organizasse a comitiva de ministros e fosse até Manaus para cuidar pessoalmente da situação. A viagem aconteceu na quarta-feira.

A recuperação do presidente também foi interrompida no sábado, após os ataques terroristas do Hamas a Israel. Na ocasião, Lula conversou por telefone com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que ligou para avisar que estava voltando ao Brasil para tratar com a Força Aérea Brasileira (FAB) sobre a repatriação de brasileiros que estão na região. O ministro estava em voo para a Suécia junto com o comandante da Aeronáutica, Marcelo Kanitz Damasceno, mas deram meia volta após as primeiras notícias do conflito.

Reunião com ministros
A reunião de ontem, que contou com a participação de José Múcio, também foi para tratar da situação em Israel e a operação de resgate organizado pela Força Aérea Brasileira (FAB), além das chuvas de Santa Catarina e da pauta do Congresso.

O compromisso também foi o primeiro registrado na agenda oficial do Palácio do Planalto. O assessor-chefe da assessoria especial da presidência da República, Celso Amorim, foi outro a participar do encontro virtual. A previsão é que Lula faça mais videoconferências ao longo da semana.

No domingo, o presidente acompanhou a convocação do Brasil para uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para tratar sobre o conflito em Israel.

Mauro Vieira, ministro titular das Relações Exteriores, também falou sobre o tema com o presidente e está na restrita lista de ministros que despacharam à distância com o presidente nos últimos dias.