Rio de Janeiro

"Que a gente não chegue a mais um 14 de março sem resposta", diz viúva de Marielle em audiência

Vereadora Mônica Benício foi a primeira a prestar depoimento no 4º Tribunal do Juri do Rio

Marielle Franco e Mônica Benício - Arquivo Pessoal

A vereadora Mônica Benício, viúva de Marielle Franco, foi a primeira a ser ouvida na audiência de instrução e julgamento do ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, nesta terça-feira (10), no 4º Tribunal do Júri da Capital. Suel foi apontado na delação de Élcio de Queiroz como a pessoa que monitorou os passos da vereadora, assassinada com seu motorista Anderson Gomes, em 2018.

Em depoimento, a viúva relembrou pontos importantes do dia em que vereadora foi morta, e detalhou a rotina da companheira à época. Ao juiz, Mônica afirmou que "Marielle não costumava chegar tarde. Postava seus compromissos nas redes sociais como figura política e que as idas aos bares sempre acabavam em reuniões". Queiroz também prestou depoimento, mas por videoconferência.

— É muito doloroso. Muito desgastante, mas a gente entende a importância de querermos respostas. Espero que a gente não chegue a mais um 14 de março, completando seis anos, sem resposta — afirmou a vereadora em entrevista após a audiência.

Maxwell Simões foi preso no dia 24 de julho, durante a Operação Élpis, deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público do Rio, após delação premiada de Queiroz. Durante a audiência, serão ouvidas testemunhas do Ministério Público do Rio e de defesa do ex-bombeiro. Suel será ouvido por videoconferência, já que está fora do estado do Rio, numa unidade de segurança máxima.

A viúva do motorista Anderson Gomes, Agatha Arnaus, foi ouvida logo em seguida. Emocionada, disse que o marido "não tinha medo de trabalhar com a vereadora" e que "não achava a rotina dela perigosa".

A audiência acontece na semana em que o governo do Rio inicia uma série e operações de combate ao crime organizado, com foco na facção responsável pela execução de três médicos na Barra da Tijuca, na última quinta-feira. Marcos de Andrade Corsato, de 62 anos, Perseu Ribeiro Almeida, de 33, Diego Ralf de Souza Bomfim, de 35, estavam em um quiosque quando foram alvos de 33 disparos. Eles participavam de um congresso de ortopedia no Rio.

Mônica lamentou episódio, mas condenou as operações das polícias Civil e Militar no Complexo da Maré, área conflagração pelos criminosos. Disse ainda que, assim como Marielle, é cria da região e afirmou que se ela estivesse aqui "estaria vendo tudo com muita tristeza".

— O enfrentamento não é com mais armas. Não é mais violência que é a linha do Estado. A linha que Cláudio Castro escolheu para atuar. Combater violência com mais violência. Marielle é da Maré de onde eu também sou. O que acontece nesses territórios é criminoso. O governador escolhe quem pode viver e quem é que deve morrer através dessa política que ele opera — afirmou a vereadora após completar que as tomadas de decisões das autoridades, no Completo da Maré, são ineficazes:

— É ineficaz porque a única coisa que oferecem para a favela é o braço armado. É a violência. Principalmente quando o governador, por exemplo, anuncia que quer subir um muro à prova de bala na Maré para que não cheguem até as vias de quem está passando, mas favelado pode morrer. É uma herança maldita desse círculo de política de 'tiro na cabecinha' e de operações que acontecem nos horários de saída e entrada de escola — criticou Benício.