Mulheres com silicone e os cuidados com as mamas
A realização da mamografia com implante de silicone é um assunto que gera muitas dúvidas entre as mulheres que possuem ou pretendem colocar próteses mamárias. Estamos no mês de conscientização para prevenção do câncer de mama, movimento mundial Outubro Rosa, do qual faço parte, e esta é uma oportunidade extra para debater o tema. As próteses de silicone evoluíram muito na última década. Os implantes mais modernos já não têm mais prazo de validade predeterminado porque são projetados para oferecer uma longa durabilidade. Mas, atenção, a qualidade e a resistência dos implantes não significam que eles não necessitem de um monitoramento. O acompanhamento médico especializado é de grande importância.
Os exames de imagem também devem fazer parte da rotina de cuidados com a saúde de toda mulher, independentemente de ela possuir ou não implantes de silicone. A supervisão médica continuada e a rotina de diagnóstico devem ser realizadas normalmente, mas a perícia dos profissionais surge como uma exigência ainda maior. Há três diferentes métodos de imagem para avaliação das próteses mamárias. São eles: a mamografia, a ultrassonografia e a ressonância magnética. A mamografia pode ser realizada com a regularidade habitual. Contudo, alguns cuidados devem ser tomados no momento do exame, para resultados mais precisos e para evitar qualquer dano à prótese. É importante que o diagnóstico seja feito em uma clínica confiável, conduzido por profissionais qualificados e com ajuste adequado dos equipamentos. Para diminuir a influência do silicone na visualização do tecido da mama, o técnico responsável pela mamografia deve aplicar o que chamamos de Manobra de Eklund.
O procedimento consiste em deslocar a prótese para fora do campo da imagem, distribuindo somente o tecido mamário no suporte para ser radiografado. A ultrassonografia é extremamente disponível e bem tolerada, temcapacidade de realizar o rastreio do câncer de mama e avaliar a integridade dos implantes com eficácia. Neste método, como o tecido glandular fica na frente do implante, o técnico e o radiologista conseguem o acesso irrestrito para uma avaliação. Já a ressonância magnética é o exame mais sensível para a avaliação dos implantes, mas suas indicações devem ser precisas e criteriosas. Quando a ressonância é feita para avaliar apenas a integridade das próteses, não é necessária a utilização do contraste. Entretanto, em caso de uma avaliação de qualquer lesão mamária, o contraste se faz imprescindível.
Hoje, a medicina vê a biópsia percutânea guiada por imagem como um método com muitas vantagens sobre a biópsia cirúrgica aberta. Como radiologista e estudiosa da área, constato isso diretamente no meu trabalho. Para quem não é do meio, a biópsia percutânea é aquela feita a partir de uma incisão na pele da paciente para a retirada de pedacinhos uma área suspeita para avaliação. Entre as vantagens, estão o menor custo, menor morbidade, recuperação mais rápida e mínima ou nenhuma cicatriz, com precisão muitas vezes igual à da biópsia cirúrgica. As biópsias mamárias percutâneas nas pacientes com implantes podem ser guiadas por estereotaxia (mamografia), ultrassonografia ou por ressonância magnética. A escolha do caminho para o diagnóstico depende de qual método a lesão é melhor abordada para coleta de material adequado e de qual método é mais seguro. Isso porque lesão do implante pode acontecer durante a biópsia mamária. Trata-se de uma situação rara, cujas probabilidades são reduzidas quando o procedimento é realizado por profissional experiente, com amplo conhecimento das técnicas de biópsia e das limitações de cada método.
De todo modo, com esses conhecimentos apurados, o risco reduz drasticamente. Dependendo do tipo da lesão e da relação dessa lesão com o implante, sugere-se a realização da punção aspirativa por agulha fina, da core biópsia (que é a biópsia percutânea com agulha grossa e dispositivo automático) ou da mamotomia (método de biópsia aspirativa a vácuo). A jornada de cuidado das mamas com implantes envolve um equilíbrio delicado entre a estética desejada e a manutenção da saúde mamária. A informação e a conscientização desempenham um papel vital, capacitando as mulheres a tomar decisões informadas sobre seu bem-estar e a buscar cuidados adequados.
*Médica radiologista do Centro Diagnóstico Lucilo Ávila e do Hospital Agamenon Magalhães. É membro titular do Colégio Brasileiro de Radiologia, com passagem no Breast Imaging Section no Johns Hopkins Hospital, Baltimore, USA