Guerra

"Vi um míssil ser abatido por cima de minha cabeça", diz brasileira resgatada em Israel

A paulista Cristina Balbi viveu momentos de tensão enquanto via foguetes lançados pelo grupo terrorista Hamas sobrevoarem sua cabeça nos céus de Jerusalém

Avião pousou em Brasília por volta das 4h - Reprodução / X

Em outubro de 2023 viajei a Israel junto com meu marido em uma jornada de oração e de encontro com a minha religiosidade. Só não esperava viver momentos de angústia ao partir para Jerusalém, rumo ao Jardim do Túmulo, onde vi um míssil ser abatido por cima de minha cabeça. A paulista Cristina Balbi, contou ao Globo o que sentiu ao presenciar o ataque terrorista do Hamas.

Na madrugada desta quarta-feira, fiz parte do primeiro grupo de brasileiros resgatados pela Força Aérea Brasileira (FAB) em Israel e fui a primeira repatriada a descer do avião para pisar novamente em solo brasileiro.

Estava em Israel há uma semana, acompanhada de meu marido. Cristã, temente a Deus, fui para a capital, Jerusalém, para orar pelo Brasil. A viagem seguia tranquilamente, sem grandes sustos, até este sábado, dia 7 de outubro, quando o grupo terrorista Hamas lançou um ataque surpresa sobre Israel, deixando centenas de mortos.

No dia do ataque eu meu marido tínhamos planos para visitar o Jardim do Túmulo, apontado como o local onde Jesus foi sepultado em Jerusalém. Estávamos indo para o carro que nos levaria ao Túmulo quando ouvimos uma sirene soando muito alto. Assustados, não sabíamos o que fazer, nem como reagir ao alerta.

Ouvi o estrondo de um míssil lançado pelo Hamas sendo interceptado pelo Iron Dome (sistema do exército israelita que intercepta mísseis inimigos) pela primeira vez apenas dois minutos após o barulho do alerta começar.

Neste momento voltamos para o hotel e nos abrigamos em um bunker. Foi só neste instante que tive a dimensão do que estava acontecendo.

Mesmo após ouvir o barulho dos mísseis da ofensiva terrorista sobrevoando Jerusalém, eu e meu marido estávamos determinados a visitar o Jardim do Túmulo. Passado o sufoco inicial, decidimos visitar o local onde Jesus foi sepultado, mas fomos alertados pelos funcionários do hotel.

— Se vocês quiserem ir, vão. Mas fiquem alertas — avisaram.

*Testemunho de Cristina Balbi para Bruno Góes

Então nos dirigimos ao local sagrado, que fica em um bairro árabe de Jerusalém. Eu e meu marido estávamos chegando quando ouvimos a sirene soar novamente. Olhei para o alto e vi um míssil ser abatido por cima de nossas cabeças. Buscamos abrigo e corremos para o Jardim do Túmulo, que para a nossa surpresa, estava com os portões fechados. Então chamei o guia que estava preparado para nos receber e ele abriu o portão para nós.

Após conseguirmos entrar, ele nos passou as seguintes orientações:

— Se tiver qualquer problema, fiquem perto das paredes, porque o ataque vem de lá para cá (disse ele indicando a direção de onde os mísseis vinham). — disse o homem.

Nós estávamos protegidos atrás da muralha do Jardim do Túmulo, onde Jesus, que cuida de nós, foi sepultado. Ao longo dos próximos dias continuamos passando por uma rotina sufocante, ouvindo o zunido de mísseis enquanto nos abrigávamos em bunkers. Mesmo com medo, estávamos em paz, porque sabíamos que Jesus nos protegeria

O resgate do governo brasileiro veio três dias após o ataque do Hamas, na terça-feira, dia 10 de outubro. Partindo de Tel Aviv, uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) decolou de Israel às 19h do horário local, com o primeiro grupo de brasileiros resgatados do país. Entre os 211 passageiros, estávamos eu e meu marido.

Chegamos à Base Aérea de Brasília na madrugada desta quarta-feira, 11. Emocionada, liderei a descida dos repatriados, e erguendo uma bandeira brasileira, fui a primeira passageira a descer do avião e pisar novamente em solo tupiniquim. No Brasil, continuo orando pelo meu país, mas especialmente agora também mando minhas preces para o povo de Jerusalém.