GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

"Por quê? Não fizemos nada!", grita morador de Gaza, sob ataque de bombas, ao ver parente resgatado

Dezenas de voluntários vão à região ajudar as equipes a encontrar corpos e eventuais feridos

A destruição em Shati, campo de refugiados da Faixa de Gaza - Mahmud Hams/AFP

"Não fizemos nada!", diz um morador da Faixa de Gaza, sob bombas. "Por quê? Não fizemos nada!", grita um homem, observando a equipe de resgate levar o corpo de um de seus parentes. Ele acabou de ser retirado dos escombros de um bairro residencial, bombardeado incessantemente pelos israelitas em resposta à ofensiva do Hamas.

Um pouco mais longe, em Shati, o maior campo de refugiados do enclave, devastado pelas guerras e pela pobreza, alguém grita: “Venha! Ele ainda está vivo!”. Um socorrista se aproxima, agarra a mão que emerge dos escombros e, auxiliado por colegas e por moradores do lugar, consegue resgatar um homem preso. Sua cabeça está sangrando.

Dezenas de voluntários ajudam as equipes de resgate nesta região a encontrar os corpos e eventuais feridos entre os escombros deixados pelo último bombardeamento israelita na Faixa de Gaza, já sob “cerco total”, sem água, eletricidade ou combustível.

Desde que o movimento islâmico Hamas, que governa Gaza, atacou Israel no sábado, matando mais de 1.200 pessoas, o enclave palestino tem vivido sob bombas. Dia e noite, o barulho de explosões, drones e outras deflagrações é incessante. Ninguém dorme, tanto pelo barulho quanto pelo medo de saber que alguma casa está potencialmente ameaçada.

Israel quer “liquidar” o movimento islâmico e desde que esta operação começou, ordenada após a ofensiva de sábado, mais de 1.300 palestinos morreram em Gaza. Este é o conflito mais mortal desde a criação do Estado de Israel, há 75 anos.

Dezenas de bombas em 30 minutos
Em Shati, na manhã desta quinta-feira, caças realizaram dezenas de bombardeios em meia hora. "Onde estão mamãe e meus irmãos?", pergunta um menino de 4 anos, com o corpo cheio de pó e ensanguentado, retirado dos escombros por um homem. Jamal al Masri mal entende o que aconteceu.

"Estávamos dormindo e, de repente, todo o bairro ficou sob bombas. Eles destruíram minha casa — disse à AFP.", Na casa do meu irmão, dos meus pais e de vários vizinhos também. Todos foram afetados, há fragmentos de corpos, cadáveres, dos meus filhos e dos filhos de outras pessoas.

A filha de Jamal al Masri o interrompe perguntando o que aconteceu. E ele diz, apesar de nada parecer funcionar ao seu redor: "Tudo vai ficar bem. Vamos ficar aqui, não vamos sair de Gaza".

Ambiente de destruição
Em muitos bairros, mesmo os que não foram reduzidos a ruínas fumegantes, não há eletricidade. A única central elétrica que abastece o enclave, onde vivem 2,4 milhões de palestinos (metade deles crianças), está parada, por isso não há internet nem água, nem as redes telefônicas funcionam.

No hospital al Shifa, o maior de Gaza, reina o caos. Entre as idas e vindas das ambulâncias, os vizinhos se reúnem para perguntar sobre seus entes queridos. Os feridos vão e vêm e há também crianças sentadas no chão, paralisadas, em silêncio. Uma enfermeira deixa um dos menores aos cuidados de um médico e pergunta, gritando: “Alguém conhece essa criança?”

Depois, ele corre para atender dezenas de feridos que, deitados em finos colchões de espuma, aguardam atendimento. Do necrotério vêm soluços, gritos de dor, lamentações. O local está cheio e há ainda dezenas de corpos, enrolados em lençóis, caídos no chão.

Um jovem sai de lá tremendo. “Talvez ele não esteja morto. Seu corpo não está lá”, diz ele. “Vamos ver no pronto-socorro, provavelmente podem tratá-lo”, repete, como se tentasse se convencer.