"Meu Nome é Gal": filme toca na saudade ainda não curada, mas deixa a desejar
Longa teve estreia nos cinema de todo o País nesta quinta-feira (12)
O estampido veio no fim, com a plateia em polvorosa, sob a tensão de uma respiração presa por gritos efusivos e lágrimas emocionadas que não foram escoadas até que a "dona" de tudo aquilo surgisse "divina e maravilhosa".
"Meu Nome é Gal" - a estreia nos cinemas desta semana - é um filme cronologicamente linear, com elenco irretocável e protagonismo assertivo de Sophie Charlote sob as vestes inicialmente tímidas de uma Maria da Graça Costa Penna Burgos (1945-2022) que tão logo em solo carioca, iria desabrochar para a Música Popular Brasileira, e a partir de então, ao longo de pouco mais de seis décadas de trajetória, não deixaria substituta ao lugar subitamente esvaziado há quase um ano.
"Você precisa saber de mim"
Mas o recorte de tempo dado pelas diretoras Dandara Ferreira e Lô Politi deixou clara a intenção em dar vazão "apenas" a Gal Costa da efervescência musical de um Brasil tomado pela ditadura militar, e nada acolhedor para quilates como Caetano Veloso, interpretado com maestria por Rodrigo Lellis e Gilberto Gil, levado por Dan Ferreira, quase tão protagonistas quanto a Gracinha recém-chegada de Salvador, aos 20 anos.
Era 1966, e amparada por eles que seriam parceiros da Tropicália e dos dias que se seguiram adiante - ao lado de outros o tanto quanto essenciais para o despertar da Gal "Fa-tal" e transgressora que, desde criança, testava as possibilidades de sua voz em uma panela. Eis a primeira cena do longa, que por definição pode ser resumido como uma quase cinebiografia (pela metade).
"Oh, minha honey, baby"
Levando em conta que ausência de nomes como Gal não pode ser findada pelo tempo, tal qual qualquer saudade que se valha, "Meu Nome é Gal" não deixa a desejar na cronologia que leva ao ápice da turnê "Fat-tal - Gal a Todo Vapor" (1971), concebida pelo compositor e diretor Waly Salomão - no filme interpretado por George Sauma - , reforçando o fato como marco que a estabeleceu como a voz da contracultura do País.
Mas, para quem não conhecia Gal, sairá do filme sabendo pouco dela e para os fãs, ainda tomados pela emoção recente de não tê-la mais viva "pelas bandas de cá", a produção deixou de pecar pelo excesso naturalmente merecido ao se falar de uma artista como ela, por vezes, inúmeras aliás, colocada à parte em conversas relevantes sobre si mesma, sua voz, sobre a Tropicália e o seu papel no movimento e no momento que foi demasiadamente narrado no filme através de imagens de arquivo em detrimento à figura a quem o filme é direcionado.
Assim como faltou zelo em enfatizar a relação de Gal com Jards Macalé, em especial durante o exílio de Gil e Caetano em Londres no início dos anos de 1970.
"Por isso que eu canto"
À parte de uma Sophie Charlote que (en)canta, quando solta a voz em "Fruta Gogoia" e "Divino Maravilhoso" este, o 'hino' escrito por Caetano e Gil, ao mesmo tempo em que interpreta com destreza o papel a que foi incumbida - previamente aprovado por Gal, vale salientar, quando ainda em vida encarregou Dandara Ferreira a tomar também a frente de um filme, após ter assinado um documentário a seu respeito - "Meu Nome é Gal" transita entre o frustrar expectativas e o conforto em ter de volta a artista.
Mesmo que menor do que a grandeza que carregava, ao imaginário fluido do audiovisual, embora sem os ecos inerentes ao peso que foi/é a Gracinha que virou Gal Costa, o filme a mostra "tão somente" em sua gênese e ainda assim, sem o desassossego da emoção.