Milhares de palestinos fogem do norte de Gaza após advertência de Israel
Combate na Faixa de Gaza adverte palestinos
Milhares de palestinos fugiram nesta sexta-feira (13) do norte da Faixa de Gaza, depois que Israel lhes advertiu que deixassem a região antes de uma possível operação terrestre em resposta ao ataque lançado pelo movimento islamita Hamas, o mais letal da história desde a fundação do país.
A ordem de retirada de 1,1 milhão de habitantes (quase a metade da população deste paupérrimo enclave de 362km²), provocou comoção internacional e a ONU pediu a anulação da medida que pode ter "consequências devastadoras".
Desde o início dos confrontos, em 7 de outubro, após um sangrento ataque do Hamas, mais de 1.300 pessoas morreram em Israel, em sua maioria civis. Entre os mortos, há também pelo menos 258 soldados israelenses, segundo o Exército.
Os bombardeios de Israel contra o enclave causaram, por sua vez, quase 1.800 mortos, incluindo mais de 580 crianças, segundo o ministério da Saúde palestino.
O Exército israelense pediu "a retirada de todos os civis" da cidade de Gaza, no norte do enclave, em direção ao sul, "para sua própria segurança e proteção". Durante a manhã, distribuiu folhetos em árabe, pedindo aos habitantes que abandonem "imediatamente" suas casas.
Os militares deram um prazo de 24 horas, embora tenham admitido logo depois que tal evacuação "levaria tempo".
O Hamas rechaçou "a ameaça dos líderes da ocupação (israelense) e seus pedidos para que deixassem suas casas e fugissem para o sul ou Egito".
Genocídio
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, equiparou a enorme retirada de palestinos com uma segunda Nakba ("catástrofe" em árabe), o exílio de 760.000 palestinos durante a guerra de 1948, que coincidiu com a criação de Israel. Seu primeiro-ministro, Mohammad Shtayyeh, acusou Israel de perpetrar um "genocídio".
A Liga Árabe avaliou que a ordem de retirada constitui "um crime que supera o entendimento" e o rei da Jordânia, Abdullah II, também advertiu contra "qualquer tentativa de deslocar" os palestinos.
Mohammed Jaled, um morador do norte de Gaza, de 43 anos, decidiu permanecer em sua casa. "O que o mundo quer de nós? Eu já estou refugiado em Gaza e querem que eu vá mais uma vez?", afirma.
"Querem que durmamos nas ruas com nossos filhos? Me nego! Não quero essa vida indigna!", "Não há lugar seguro, assim não sabemos onde ir", explica Mohammed Abu Ali, do acampamento de refugiados de Shati, o maior de Gaza, que também fica no norte da Faixa.
Em vários países da região, milhares de pessoas manifestaram-se nas capitais do Iraque, Irã, Jordânia, Arábia Saudita e Bahrein em apoio aos palestinos.
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, pediu a Israel que adote "todas as precauções possíveis" para evitar a morte de civis.
O presidente russo, Vladimir Putin, considerou "inaceitável" o cerco contra a Faixa de Gaza, sobre a qual Israel já exercia um restrito bloqueio desde 2007, e o comparou com o terrível sítio dos nazistas à cidade soviética de Leningrado durante a Segunda Guerra Mundial. "Mais de dois milhões de pessoas vivem ali. Nem todo mundo apoia o Hamas", disse Putin.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu destruir o Hamas, após se reunir na quinta-feira em Tel Aviv com o secretário de Estado americano, Antony Blinken.
"Assim como o EI [grupo jihadista Estado Islâmico] foi esmagado, o Hamas será esmagado", afirmou Netanyahu, uma declaração que pareceu antecipar uma ofensiva terrestre em Gaza.
Uma operação com riscos redobrados, já que o Hamas tem retidas na região, segundo o governo israelense, 150 pessoas sequestradas durante seu ataque de sábado.
Na sexta-feira, o braço armado do Hamas indicou que 13 deles, "incluindo estrangeiros", morreram pelos bombardeios israelenses contra o enclave.
"As Forças de Defesa Israelenses (IDF) seguirão operando de forma significativa na cidade de Gaza e se esforçarão para evitar causar danos aos civis", disse o Exército israelense.
"Os terroristas do Hamas estão escondidos na cidade de Gaza em túneis sob as casas e dentro de edifícios com civis inocentes", acrescentou.
A ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, que visitou Israel nesta sexta, denunciou "o cálculo pérfido" do Hamas, que utiliza a população de Gaza, bombardeada por Israel, como "escudo".
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou em um encontro com Netanyahu que a União Europeia (UE) "está ao lado de Israel" ante as "atrocidades cometidas pelo Hamas".
Segundo um funcionário de alto escalão americano, Israel estaria de acordo em criar "zonas seguras" para civis palestinos no interior do enclave.
Em 7 de outubro, no último dia das celebrações judaicas de Sucot, centenas de combatentes do Hamas se infiltraram no território israelense por terra, mar e ar. Em seu ataque, mataram mais de mil civis nas ruas, em suas casas e em um festival de música, após lançar mísseis de foguetes.
Esse ataque, o mais mortal desde a fundação de Israel há 75 anos, comoveu todo país e foi condenado por grande parte da comunidade internacional.
Após o ataque, o Exército israelense disse que havia encontrado os corpos de 1.500 combatentes do Hamas infiltrados.
Seis mil bombas
Em resposta, o Exército israelense lançou 6.000 bombas no enclave palestino, um total de 4.000 toneladas de explosivos.
Na madrugada de quinta para sexta-feira, foram atacadas 750 "posições militares", entre elas "residências de terroristas de alto escalão utilizadas como centros de comando militar" do Hamas, indicou o Exército israelense.
Mais de 423.000 pessoas foram obrigadas a deixar suas casas no território palestino, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
A população de Gaza está ficando sem água, eletricidade e comida, após o cerco total ordenado por Israel.
Segundo o OCHA, alguns habitantes começaram a beber água do mar, salgada e contaminada por águas residuais.
O ataque mortal do Hamas contra Israel não justifica a "destruição ilimitada" do enclave palestino, advertiu o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
Tensão na Cisjordânia, bombardeios no Líbano
Nesta sexta-feira, os milicianos da Faixa de Gaza dispararam centenas de foguetes contra Israel, em um período de 15 minutos, constatou uma jornalista da AFP.
Na Cisjordânia ocupada, pelo menos nove palestinos morreram em confrontos com as forças israelenses durante manifestações de apoio à Faixa de Gaza, segundo o ministério da Saúde palestino.
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, reafirmou na quinta-feira o seu apoio a Israel, embora tenha apelado a que sejam consideradas as "aspirações legítimas" dos palestinos.
O Exército israelense bombardeou nesta sexta-feira os arredores de várias cidades fronteiriças do sul do Líbano, após uma explosão na cerca de fronteira entre os dois países, segundo o Exército israelense.
A região é um bastião do movimento xiita Hezbollah, pró-iraniano, que se diz "totalmente preparado" para se unir ao Hamas no momento propício.