Especialistas comentam sobre cerco montado por Israel na Faixa de Gaza; confira análises
Segundo a ONU, a situação dos hospitais da cidade, que estão funcionando por geradores, põe a vida dos mais de 6,6 mil palestinos feridos e de ao menos 50 mil grávidas em risco
Sem sinais de recuo, Israel pretende manter os bombardeios e o cerco - que cortou o fornecimento de água, energia, combustível e a entrada de itens essenciais, como alimentos e medicamentos -, até que sejam soltos os cerca de 150 reféns - israelenses, estrangeiros ou com nacionalidade dupla - sequestrados pelo Hamas no sábado (7), durante o ataque mais mortal em mais de 50 anos no país, com ao menos 1,3 mil mortos.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a situação dos hospitais da cidade, que estão funcionando por geradores, põe a vida dos mais de 6,6 mil palestinos feridos e de ao menos 50 mil grávidas em risco. O governo israelense condicionou a abertura de um corredor humanitário ao retorno dos reféns que estão sob domínio de combatentes do grupo fundamentalista islâmico.
De acordo com o professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Antonio Henrique Lucena, Gaza é uma região naturalmente monitorada por Israel.
“A grande questão é que o cerco vai, obviamente, prejudicar a população civil de ter acesso aos recursos básicos e também ter condições de sair, apesar que Israel já vem lançando panfletos sobre a região do Norte de Gaza pedindo para que as pessoas saíam, que elas evacuem e vão para o Sul. Tudo indica que Israel vai fazer um raide, ou seja, não é uma gigantesca invasão, mas um raide inicial para tentar resgatar alguns reféns que estão sobre o Hamas”, disse.
Segundo o professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Elton Gomes, o Hamas têm como tática usar a população civil como instrumento que permita que obtenham um ganho político sempre que aconteça um ataque militar contra eles, dessa forma, as perdas civis geram comoção na opinião pública internacional e afetam Israel. Contudo, a pressão da opinião pública de Israel também é alta.
“Israel tenta levar a ter uma operação mesmo sabendo disso porque o custo político para o Governo Netanyahu de não atacar para fazer frente a esse raid é insustentável. Na verdade, já começou uma troca de acusações muito grande dentro do Governo de Israel para saber de quem é a culpa, quem foi que deveria ter percebido que o ataque ia acontecer e não percebeu”, afirmou.
O professor alerta que o conflito terá implicações muito graves do ponto de vista humanitário, com perda de pessoas que não são combatentes nem de Israel e nem dos militares fundamentalistas do Hamas. “Essas pessoas estão ali em uma região em que é muito difícil se proteger já que o Hamas não deixa as pessoas saírem e Israel também está cercando e, em grande medida, não deixa as pessoas saírem para outra região, ou seja, eles ficam no meio do fogo cruzado literalmente”.
Não se sabe, ainda, até que ponto a ação de Israel tem como objetivo entrar no território e libertar os reféns ou ocupar Gaza ou parte de Gaza com o propósito de erradicar o Hamas, o que pode ocasionar muitos problemas do ponto de vista geopolítico “O comandante das forças armadas israelense declarou que se fosse por ele a tendência era acabar com o Hamas de uma vez por todas”, acrescentou Elton.
Cenário internacional
Em paralelo com outras guerras, Antonio Henrique Lucena destacou que, especialmente para a Rússia, o conflito entre Israel e Palestina é interessante porque retira o foco da Guerra da Ucrânia e do apoio ocidental ao país europeu.
Os países que vêm oferecendo ajuda militar à Ucrânia enfrentam problemas de abastecimento de munições, porque as operações militares na região, principalmente no sul da Ucrânia, estão consumindo uma quantidade de suprimentos avassaladora.
“Isso termina gerando problemas. Se houver a necessidade de apoiar Israel também? Apesar de que inicialmente Israel não fez qualquer tipo de pedido de suprimentos internacionais, parece que ele está bem abastecido pelo menos por alguns meses caso as hostilidades continuem. A guerra é interessante para a Rússia, porque retira o foco da Guerra da Ucrânia, e cria um problema adicional também para os seus aliados como Estados Unidos e também os europeus. Se for necessário enviar ajuda para Israel isso provavelmente vai diminuir a ajuda para a Ucrânia”, pontuou Lucena.
Para o Irã, país que vive uma balança de poder com a Arábia Saudita, o conflito impede que Israel e Arábia Saudita prossigam com a aproximação diplomática que estavam tendo.
“A Arábia Saudita vinha se aproximando de Israel que vinha tendo lucros diplomáticos ao fechar os chamados Acordos de Abraão com países árabes como Marrocos, Emirados Árabes, e agora mais recentemente a Árabia Saudita. Provavelmente haveria um reconhecimento da existência do Estado de Israel e se esse acordo fosse fechado isso ia gerar um desbalanceamento do equilíbrio de poder na região, já que a gente tem uma balança de poder muito clara entre Aurábia Saudita e o Irã”, comentou Lucena.
“Obviamente com Israel atacando os palestinos, pessoas morrendo, aparecendo na televisão, a Árabia Saudita não pode assinar um acordo agora, tanto que o Ministério das Relações Exteriores do país, por meio de nota, já paralisou as negociações, e vai esperar a resolução disso”, acrescentou Antonio.