GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Médico brasileiro da Fiocruz propõe retirada de feridos por navio-hospital em Gaza

Paulo Buss, da Fiocruz, afirma que Federação Mundial de Associações de Saúde Pública deve encaminhar carta ao Conselho de Segurança da ONU e ao governo de Israel

Fiocruz - Fernando Frazão/Agência Brasil

O médico Paulo Buss, diretor do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz, está mobilizando colegas em outros países para propor uma solução para a retirada de feridos da Faixa de Gaza.

Diante de uma recusa de Israel de cessar os bombardeios em terra, uma solução para remover mulheres e crianças feridos da zona de conflito seria a ancoragem de um navio-hospital na região.

O médico diz estar em contato com autoridades de saúde na Palestina e em outros lugares do mundo para redigir uma carta pública pedindo ao Conselho de Segurança da ONU e ao Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) que considerem a proposta, caso não seja possível montar hospitais de campanha em um eventual campo de refugiados no Egito.

 

A retirada, afirma, poderia ser feita por uma embarcação americana dessa categoria, que tem capacidade para receber os feridos.

— Nós estamos propondo a solução mais racional, que é um navio-hospital, pois existem embarcações desse tipo na armada de países neutros. O navio teria que ser obviamente vistoriado para que se confirme ser um navio hospital, e ONU tem protocolos para isso — diz Buss. — Isso teria que ser feito via Conselho de Segurança, que é presidido pelo Brasil.

O médico explica a ideia é usar a influência das comunidades médicas globais para convencer os países do conselho de que é necessário chegar a um acordo para a retirada de civis feridos.

— A Federação Mundial de Associações de Saúde Pública que reúne sanitaristas do mundo inteiro, no Brasil representada pela Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), vai escrever essa carta ao Conselho de Segurança, ao primeiro ministro de Israel e às autoridades em Gaza — afirma o médico.

O documento deverá propor outras alternativas, segundo Buss.

— O hospital-escola é uma opção. Outra opção seria instalar hospitais de campanha em território Egípcio para remover da área de conflito pacientes que podem ser removidos, mas que ainda precisam de maior assistência — afirma.

Buss diz estar em contato com sanitaristas que estão na Cisjordânia e em Gaza, que têm relatado situações dramáticas dentro de hospitais palestinos depois que a entrada de alimentos e de energia elétrica na região foi cortada. O grupo está participando das negociações para convencer Israel a concordar com um cessar-fogo.

— A solução seria não bombardear 350 km² onde vivem 2,1 milhões de pessoas, uma densidade populacional como poucas no mundo. Qualquer bomba que cai ali afeta, inevitavelmente, um monte de civis, pessoas que não têm relação com a luta do Hamas contra o Exército de Israel — diz Buss.