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Sem consenso, reunião anual adia para 2025 debate sobre revisão de cotas defendida por Haddad

Discussões incluem regras para realocação adicional de recursos e uma nova fórmula de cotas

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad - Washington Costa/MPO

O conselho de diretores do Fundo Monetário Internacional (FMI) não conseguiu chegar a um consenso em sua reunião anual, com a guerra da Rússia contra a Ucrânia mais uma vez complicando a elaboração de um comunicado.

Como ocorreu em reuniões anteriores desde a invasão russa em fevereiro de 2022, o FMI divulgou um resumo ao invés de um comunicado, que precisaria ser acordado por todos os representantes de seus 190 países membros

Separadamente, o painel do FMI — oficialmente conhecido como Comitê Monetário e Financeiro Internacional — concordou em formular propostas para basear uma "possível" atualização das cotas do Fundo para melhor refletir o peso econômico de seus membros, mas apenas em 2025.

A revisão da distribuição de cotas, na prática, daria a países emergentes maior poder de decisão na instituição multilateral e é uma demanda de nações como Brasil, China e Índia que foi reiterada pelo ministro da Fazenda brasileiro, Fernando Haddad, em discurso na reunião anual.

 

Esse esforço de dar mais votos aos países emergentes contraria os Estados Unidos, que tem o maior peso nas decisões hoje e não tem interesse de dar mais poder à rival China, atualmente a segunda maior economia do mundo.

O ministro também afirmou que deixou claro para a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, que, embora compreenda a realidade política atual nos EUA, a falta de atualização das cotas de voto do FMI enfraqueceria a organização a médio e longo prazo.

Qualquer alteração na cota de votos do FMI precisaria da anuência dos EUA com aprovação do Congresso americano, que é relutante em avançar com políticas que aumentariam a influência chinesa em organismos multilaterais.

O conselho executivo do FMI deve desenvolver até junho de 2025 novas abordagens sobre o tema, como um guia para uma realocação adicional de recursos, incluindo uma nova fórmula de cotas, informou a instituição neste sábado.

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, mostrou pouca disposição para abraçar a mudança nas cotas de voto, que daria à China e a outros países em desenvolvimento mais voz na forma como o principal financiador de emergências do mundo é administrado.

Ela reiterou o apelo dos EUA por um aumento “equiproporcional” das cotas do FMI, o que significa elevar os recursos globais necessários pelos membros sem realizar uma mudança simultânea no peso dos votos.

Reforço financeiro
O painel do FMI definiu ainda que os países se comprometeram a fazer “aumentos significativos” em suas cotas até o final do ano, referindo-se à parcela de fundos que cada membro contribui.

O objetivo é apoiar as finanças do FMI a partir da colaboração de todos os membros, substituindo acordos de financiamento bilaterais dos quais o Fundo depende muito agora. Isso daria maior capacidade ao FMI para apoiar países em crise financeira.

Demanda antiga
Países como China, Brasil e Índia — cujas economias cresceram significativamente mais rápido do que as das nações desenvolvidas nos últimos anos — há muito tempo pedem uma redivisão das cotas para refletir seu crescente peso. A China, por exemplo, representa cerca de 18% da produção econômica global, mas detém apenas uma participação de 6% no FMI.

Abalos geopolíticos
Nesta semana, as declarações do FMI e dos ministros de finanças do G20 nas reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial em Marrakech refletiram as divisões geopolíticas que estão prejudicando os esforços em busca do multilateralismo em uma era de fragmentação.

No caso do G20, o consenso só foi alcançado com a omissão de uma referência direta à guerra entre Israel e o Hamas, evitando qualquer impasse que o tema pudesse criar entre seus membros — economias desenvolvidas e emergentes que representam mais de 80% da economia global.

No caso do comunicado final da reunião do FMI, algumas nações europeias tentaram incluir uma linguagem mais dura para descrever a invasão da Rússia na Ucrânia e trabalharam a noite toda em vão para chegar a um acordo, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.

“A maioria dos membros reconheceu que a invasão da Rússia na Ucrânia continua a ter enormes consequências humanitárias, bem como um impacto prejudicial na economia global, e a condenaram veementemente”, disse a presidente, ministra da Economia espanhola Nadia Calvino, em comunicado. “Havia outras avaliações diferentes sobre a situação.”