Conflito no Oriente Médio

Médicos de Gaza alertam para 'catástrofe de saúde pública' com ordem de retirada e potencial invasão

Diretor do maior hospital do enclave palestino denuncia risco de epidemias e diz que transferência de pacientes é 'absolutamente impossível'

Ministério da saúde da Palestina - Reprodução/Agência Brasil

Com o fim de mais um prazo imposto por Israel para retirada de moradores do norte da Faixa de Gaza, médicos e funcionários do setor de saúde da região alertam para uma “catástrofe de saúde pública”, antecipada por agências da ONU e organizações humanitárias internacionais. Quase a metade da população do enclave teve que deixar suas casas desde o início dos intensos bombardeios de Israel, em resposta ao maior ataque terrorista da História

Na iminência de uma invasão israelense por terra, hospitais continuam a receber dezenas de feridos, em todo o território. O Exército israelense ordenou que 1,1 milhão de moradores do enclave se retirem para o sul de Gaza — uma medida que a Organização Mundial da Saúde [OMS] chamou de "sentença de morte" para os pacientes de 22 unidades hospitalares.

Na Cidade de Gaza, que está na área sob ordem de esvaziamento, cerca de 35 mil palestinos deslocados buscaram abrigo no hospital Al-Shifa, o maior do enclave.

— Há milhares, se não dezenas de milhares, de pessoas que lotaram o hospital — relatou o cirurgião Ghassan Abu Sitta, a rede de TV Al Jazeera, no sábado — Eles estão dormindo no chão, nos corredores, entre leitos de pacientes. Eles acham que esse é o local mais seguro e tudo ao redor deles confirma isso.

'Absolutamente impossível'

De acordo com o hospital, uma operação de transferência de pacientes é inviável. A unidade tem 70 pessoas mantidas em aparelhos de respiração artificial e outras 200 que recebem tratamento de hemodiálise, além de bebês em incubadoras.

— É absolutamente impossível esvaziar o hospital — declarou o diretor da unidade, o médico Muhammad Abu Salima — Não há nenhum lugar em Gaza que possa aceitar o número de pacientes na nossa unidade de terapia intensiva ou na UTI neonatal, ou mesmo nas salas de operação.

Os médicos temem ainda que a superlotação do local provoque uma epidemia de doenças infectocontagiosas.

— Se alguém não more nos bombardeiros, então vai morrer por falta de serviço médico — alerta Salima— A menos que haja trégua, haverá uma catástrofe de saúde pública no hospital.

Guga Chacra: O que vi em Gaza após uma guerra entre Israel e Hamas em 2009

Um possível transporte dos pacientes enfrenta ainda um desafio maior do que a destruição da parca infraestrutura médica local, com a inexistência de ambulâncias suficientes para executar uma operação desse porte. Pelo menos 15 veículos desse tipo foram destruídos desde o início dos bombardeiros, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.

— A Cidade de Gaza é uma cena assustadora de devastação — relatou o Dr. Medhat Abbas, funcionário do Ministério da Saúde.

Ao mesmo tempo, centenas de milhares de palestinos estão fugindo para o sul do enclave, mas a situação é precária por todo o território, após dias do que Israel chamou de “cerco total”, com o corte do fornecimento de energia, combustíveis, alimentos, remédios e qualquer ajuda humanitária.

No sábado, a OMS condenou o ultimato de Israel, que inclui a necessidade de retirada de pessoas que atinge 22 hospitais. A OMS classificou a ordem de “sentença de morte” para doentes e feridos. De acordo com a agência da ONU, 2 mil pacientes ocupam essas instituições no momento, incluindo os que estão em UTIs e dependem de aparelhos para sobreviver, entre eles, bebês recém-nascidos em incubadoras. A situação nos hospitais já estava à beira do “colapso”, nos últimos dias, segundo observadores internacionais e autoridades do governo de Gaza controlado pelo Hamas.

“A OMS reitera os pedidos para envio imediato e seguro de suprimentos médicos, combustível, água potável, comida e outras ajudas humanitária em Gaza pela passagem de fronteira egípcia de Rafah”, declarou a organização no sábado.