O que é o Hezbollah? Facção libanesa supera força militar do Hamas e ameaça nova frente com Israel
Estima-se que o grupo xiita libanês, financiado pelo Irã, tenha cerca de 100 mil combatentes e dezenas de milhares de mísseis de longo alcance
A última vez que o Hezbollah, uma organização política e paramilitar libanesa baseada no fundamentalismo xiita, travou uma guerra com Israel em 2006. No entanto, desde 2013, quando o grupo decidiu focar no apoio ao presidente sírio Bashar al-Assad contra rebeldes sunitas, autoridades israelenses alertavam que chegaria o dia em que os seus combatentes voltariam os olhares para Israel de novo — dessa vez, com mais experiência de combate e maior armamento.
Agora, no momento em que as Forças Armadas de Israel ensaiam uma incursão contra o Hamas na Faixa de Gaza — após o ataque terrorista impetrado pelo grupo palestino no sul do país, em 7 de outubro —, a ameaça do Hezbollah no norte ganha cada vez mais fôlego.
O que é o Hezbollah?
Em 1982, os muçulmanos xiitas do Líbano formaram o que se tornaria o Hezbollah — "partido de Deus" — em reação à ocupação israelense do sul do país. O movimento foi inspirado pela Revolução Islâmica de 1979 no Irã, de maioria xiita, e o Hezbollah, até certo ponto, tornou-se uma força de representação da elite da Guarda Revolucionária do Irã. No Líbano, xiitas e sunitas representam, cada um, cerca de 30% da população.
O Irã fornece ao Hezbollah "a maior parte de seu financiamento, treinamento, armas e explosivos, bem como ajuda política, diplomática, monetária e organizacional", de acordo com o Departamento de Estado dos EUA. Ainda segundo os EUA, o grupo também obtém financiamento de fontes legais e ilegais, incluindo "contrabando de mercadorias, falsificação de passaportes, tráfico de narcóticos, lavagem de dinheiro e fraudes com cartões de crédito, imigração e bancos". Por não integrar as Forças Armadas do Líbano, o Hezbollah pode atacar alvos israelenses e americanos sem provocar a reação que uma ação desse tipo por parte de um Estado desencadearia.
Qual o poderio militar do Hezbollah?
Financiado pelo Irã, os EUA estimam que centenas de milhões de dólares em dinheiro e armamentos tenham sido destinados ao grupo nos últimos anos. Além de ter mantido grande parte do arsenal usado na Guerra Civil Libanesa (1975-1990), o Hezbollah se orgulha das suas dezenas de milhares de foguetes de precisão, que, segundo o grupo, têm capacidade de atingir todo o território de Israel.
O poderio militar do grupo cresceu ainda mais a partir de 2012, quando juntou-se ao presidente sírio para combater os rebeldes do país, em sua maioria sunitas. Em uma entrevista em 2021, o líder do grupo, Sayyed Hassan Nasrallah, afirmou que o abraço armado do Hezbollah tem cerca de 100 mil combatentes.
Qual é o papel do Hezbollah no Líbano?
O Hezbollah é uma força poderosa no Líbano e a maior milícia do país. Além do braço armado, o grupo opera uma grande rede de serviços sociais que fortalece sua base de apoio enquanto o país enfrenta a pior crise econômica das últimas décadas. Ele também é politicamente ativo, tendo perdido a maioria no Parlamento libanês no ano passado. A aliança do Hezbollah com o movimento xiita Amal, liderado pelo presidente do Parlamento, Nabih Berri, garante que, juntos, eles representem a maior parte da comunidade xiita do país.
O Hezbollah também tem laços estreitos com o partido cristão fundado pelo ex-presidente Michel Aoun. Antes do início da guerra civil na Síria em 2011, o Hezbollah se promovia como uma força dedicada a combater Israel e defender os oprimidos, independentemente de sua origem. Mas, desde que se envolveu no conflito sírio, passou a ser visto por muitos muçulmanos sunitas como um grupo xiita que cumpre as ordens do Irã na região.
O Hezbollah se unirá ao Hamas na luta contra Israel?
O Hezbollah expressou solidariedade ao Hamas e trocou tiros com Israel desde o ataque do Hamas em 7 de outubro. As tensões, no entanto, começaram a escalar na última sexta, quando mísseis de Israel atingiram uma redação em Alma al-Shaab, no Líbano, matando um cinegrafista da Reuters e deixando outros seis jornalistas feridos. No sábado, as hostilidades culminaram na morte de dois idosos no Líbano e quatro israelenses feridos em áreas próximas à fronteira. No domingo, com mais uma rodada de ataques que deixaram um israelense morto e oito feridos, Israel criou um tampão de 4km na divisa com o Líbano, evacuando a população civil que vivia nos arredores.
Analistas não descartam que o grupo possa atacar Israel com mais força, especialmente se as tropas israelenses entrarem em Gaza. Em resposta, as autoridades israelenses advertiram que as Forças de Defesa do país atacariam todo o Líbano se o Hezbollah entrasse na guerra.
Por que o Hezbollah se envolveu na Síria?
Como o Líbano não tem fronteira com o Irã, a Síria tem servido como rota para o Hezbollah receber armamento militar do seu principal patrocinador. Portanto, era importante para o Hezbollah ajudar al-Assad, um aliado, a manter seu poder.
Quais alvos ocidentais já foram atacados pelo Hezbollah?
Acredita-se que o grupo esteja por trás dos atentados suicidas com caminhões-bomba em 1983 contra a embaixada dos EUA e contra o quartel-general da Marinha dos EUA em Beirute, este último matando 241 militares. No mesmo ano, o atentado suicida de um membro do Hezbollah contra um quartel francês na capital libanesa deixou 58 paraquedistas franceses mortos.
O ataque em 1984 contra o anexo da embaixada dos EUA em Beirute e o sequestro do voo 847 da TWA em 1985 também são atribuídos ao Hezbollah. O líder do grupo, no entanto, disse em entrevista em 2022 que tais ataques foram realizados por pessoas que não são ligadas à organização.