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Sicupira, acionista da Americanas, diz ter ficado "em choque" quando soube de rombo na empresa

Em depoimento à CVM, executivo afirma que nunca foi feita uma operação de risco sacado na companhia

Beto Sicupira disse que ficou 'em choque' quando soube do rombo contábil da empresa - Divulgação

O empresário Carlos Alberto Sicupira, sócio da 3G Capital, e um dos acionistas de referência da Americanas, diz ter ficado "em choque" quando recebeu uma ligação para tratar de "inconsistências contábeis" da empresa. Era 5 de janeiro de 2023. Do outro lado do telefone, estava Sergio Rial, executivo que tinha assumido a presidência da companhia havia poucos dias.

O telefonema foi relatado por Sicupira em depoimento à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ao qual a Folha de S. Paulo teve acesso.

Segundo o vídeo com relato de Sicupira postado no site do jornal, Rial ligou para o atual presidente do Conselho de Administração da Americanas, Eduardo Saggioro, que estava em Portugal, e para Sicupira, pedindo que eles viessem ao Rio.

O encontro ocorreu no dia seguinte. O assunto foi o rombo contábil que acabou levando a Americanas a entrar em recuperação judicial, com uma dívida de R$ 40 bilhões.

"Quando ele me contou, eu vi que era uma coisa gravíssima. Isso aí era um problemaço e, pior, porque você tem um problemaço e não sabe, mas ele também não sabia. Fiquei em choque. Em choque o que você tem que fazer? Você age" disse Sicupira no depoimento, acrescentando que veio ao Rio imediatamente.

De acordo com a Folha, participaram do encontro os agora ex-diretores estatutários Anna Saicali, José Timótheo de Barros, Márcio Cruz Meirelles, além dos ex-diretores financeiros Fábio Abrate e Marcelo Nunes, sentados em um lado da mesa.

Do outro lado, estavam Sicupira, Rial, Saggioro e André Covre, o recém-empossado diretor de Relações com Investidores, que havia sido levado por Rial para a Americanas, mas que renunciaria com ele dias depois.

Sicupira foi indagado pela CVM sobre a prática de risco sacado. Nesta operação, a companhia tem uma dívida a pagar, por exemplo, pela compra de mercadorias. E faz um acordo com o banco que a financiou para que este libere o dinheiro primeiro para o fornecedor. Então, na sequência, a varejista quita a dívida com o banco, pagando juros pelo prazo do empréstimo.

É uma maneira de o banco financiar a empresa, enquanto a varejista, na prática, paga o fornecedor em dinheiro, possivelmente com um desconto. O problema é que isso não teria sido lançado no balanço da Americanas devidamente, de acordo com as investigações.

Em seu depoimento à CVM, quando lhe perguntaram qual era o histórico da operação de risco sacado na Americanas, Sicupira disse que não tem histórico. "A companhia nunca fez", respondeu, de acordo com a Folha.

Além de Sicupira, são sócios da 3G Capital Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles. Por meio desse private equity, os três são os maiores acionistas da Americanas.